Tuk-Tuk versão gourmet ou high tech do Triciclo de carga?
Vagueando
Nos anos 80 andava eu de triciclo motorizado por Sintra, coisa que adorava. Fazia-o com prazer mesmo estando a trabalhar de graça, era apenas pelo divertimento, just for fun, como se diz agora. Na altura usava um capacete modelo evoluído do célebre penico que, segundo os entendidos, oferecia uma melhor proteção.
Os meus amigos, que também viviam em Sintra mas em prédios e perto da estação de caminho de ferro, diziam que eu vivia no mato, porque estava fora deste ambiente urbano.
Não era bem no mato, era numa quinta onde, algumas pessoas apareciam a oferecer a sua força braçal. Cavavam a terra (tractores existiam poucos e o aluguer com condutor era caro) ganhavam comida, vinho e às vezes até ficavam mais tempo e tinham direito a alojamento (sem roupa lavada). Os terrenos cavados, semeados e adubados com estrume de vaca, retribuiam com diversos produtos, couves, batatas, cebolas, fruta, que eram vendidos na Praça (Mercado Municipal de Sintra que data de 1951).
Temo que este Mercado, não esteja à altura dos Mercados e que, por isso, não venha a celebrar 100 anos de vida. É a evolução dos tempos e da proliferação dos Centros Comerciais e Supers e Hiper-Mercados que secam tudo o que é negócio à sua volta , mesmo em anos de chuva abundante.
O que nunca me passou pela cabeça é que o Triciclo, Famel Zundapp, que eu conduzia e com o qual me divertia, viria a degenerar num Tuk –Tuk. Ainda não percebi se os Tuk-Tuk sintrenses ou de qualquer outra cidade são a versão gourmet ou a hight tech do triciclo rural.
Um belo dia resolvi transportar uma pessoa, que se sentou, melhor se ajeitou como pode naquela caixa cheia de serapilheiras e outras caixas velhas de madeira, durante um pequeno trajecto de cerca de 2Km. Essa pessoa pediu-me boleia, porque ainda não havia a moda das caminhadas e ginásios, muito menos dos personal trainers para nos ajudar a manter a linha.
O pessoal não gostava de andar, especialmente com as compras do Mercado na mão e como também não tinham dinheiro para os autocarros da Sintra Atlântico ou da Palhinhas e muito menos para um carro, mesmo que fosse um mata-velhos, pediam, frequentemente, boleia a conhecidos.
Passei, pela Estefânea, pela Avenida Heliodoro Salgado, onde o trânsito ainda circulava (agora também mas é proibido) e parei no entroncamento em obediência ao Polícia Sinaleiro.
À sua ordem avancei em direção a Chão de Meninos e, como de costume, cumprimentei-o porque o conhecia muito bem.
No dia seguinte, deu-me um valente raspanete. Disse-me ele, que eu não podia transportar pessoas naquele triciclo, porque era proibido e perigoso e portanto se me apanhasse outra vez levava uma multa.
Como respeitinho era muito bonito, nunca mais dei boleia a ninguém até porque considerei que era realmente insano transportar uma pessoa ali atrás, sem qualquer proteção.
Como é possível que actualmente se autorize o transporte de pessoas, sentadas em cima daquela caranguejola a que chamam agora tuk-tuk, quando continua a ser proibido transportar uma só pessoa num triciclo normal. Ainda por cima um tuk-tuk leva um ror de gente sentada, o que eleva o centro de gravidade da coisa (ao contrário do triciclo de carga) e a proteção que têm é um cinto de segurança que em caso de tombo, o que é fácil ocorrer, não protege de coisa nenhuma. Mas esperem, têm um toldo muito bonito que pode ser eficiente para os raios UV mas não para a segurança.
Ou seja, um tuk-tuk, continua a ser um triciclo de caixa aberta, ainda que virtualmente coberta pela lona mas abonecado (queria dizer apaneleirado, mas parece que não é politicamente correcto) com uns autocolantes e outros acessórios apelativos para os turistas.
O Polícia Sinaleiro, se a função ainda existisse e/ou se ainda fosse vivo, teria hoje muita dificuldade em explicar o raspanete que me deu naquela altura.