Noventa e cinco cêntimos a crédito
Vagueando

Estão a imaginar, actualmente, uma empresa conceder crédito a outra no valor de 95 cêntimos?
Provavelmente acham ridículo e inadequado.
E se vos disser que para além de conceder crédito deste valor, formalizavam-no através de um documento oficial (pagavam por esse documento e imposto em selos fiscais) e cobravam-no através de um banco?
Ainda mais ridículo parece.
E se vos disser que esse crédito se referia ao fornecimento de fazendas (tecidos) que seriam comercializados a metro em lojas da especialidade, para a confeção de roupas pessoais, através de costureiras e/ou alfaiates?
Acreditam?
Pois então olhem para esta letra (oficialmente um título de crédito), no valor de 189$00 – Cento e oitenta e nove escudos (0,95 €), sacada ( o vendedor) sobre um aceitante, (o comprador), que se comprometia a pagar este valor passados 15 dias da data de emissão deste documento, 13 de Novembro de 1950.
Falta ainda nesta letra a assinatura do aceitante (esta assinatura era feita ao lado da chancela da casa da Moeda).
Normalmente esta assinatura não era feita na emissão do documento (o vendedor era de Sintra e o comprador da Vidigueira) e as deslocações não eram tão fáceis e baratas como são hoje, era o Banco, por instrução do vendedor, que tratava de recolher a assinatura do comprador junto de um Balcão próximo da sua morada.
A mercadoria seguia assim via transportador e a letra seguia via banco.
Sucede que algumas vezes, os compradores não aceitavam o documento e/ou não o pagavam.
Nestas circunstâncias o vendedor solicitava ao banco o protesto da letra, ficando assim na posse da mesma e do protesto, com um documento oficial para reclamar a dívida, junto das entidades competentes.
Quando as coisas corriam bem o banco, neste caso o Banco Borges & Irmão, recebia o dinheiro do comprador (aceitante) e creditava a conta do vendedor (sacador).
Tudo isto tinha os seus custos, mas ainda assim faziam-se negócios. Dá para perceber pelo valor envolvido, que a maioria das pessoas vivia mal, muito mal.
Já lá vão setenta e cinco anos.

