Paloma
Vagueando


Porque sou um colecionar de coisas, em especial aquelas que se podem guardar e catalogar facilmente, hoje vou contar uma história inspirada num pequeno livro de instruções que guardo desde 1978
Em 1978 eram famosos os esquentadores Junkers e o meu pai aparece em casa com um esquentador Paloma, modelo PH-8C.
A primeira pergunta foi; porque carga de água se compra um esquentador Paloma quando o Junkers é que é bom? O meu pai atalhou de imediato, era uma marca japonesa e, segundo o vendedor, era do melhor que se fabicava em esquentadores a gás.
A minha mãe disse logo - Pois o que o vendedor queria era desfazer-se disso!
Que interese tem esta história para a sociedade?
Muito mais do que julgam e muito mais do que as notícias diárias sobre o preço de um vestido ou de uma mala usada pela Georgina Rodiguez, que é aqui referida apenas porque fica bem nas tags, pode ser que alguém venha (ao engano) ler isto.
Passemos então ao interesse para a sociedade.
Este esquentador funcionou diariamente sem nenhum problema durante mais de 10 anos, até que um dia começou a aquecer pouco a água. Chamado um técnico, diagnosticou-lhe uma avaria fácil de resolver, mas azar, não havia peças para o mesmo, portanto estava condenado.
Contudo, como era Verão (não fazia falta a água muito quente) e tinha o tal livro de instruções, o qual, para além das ditas instruções de funcionamente, tinha a morada do fabricante, Paloma Industries, Ltd em Nagoya e apresentava ainda um digrama das peças que compunham o aparelho.
Esta empresa ainda hoje funciona, podem consultar a história da mesma Paloma History.
Vai daí, ainda que sem nenhuma esperança, indiquei as peças que precisava numa carta que remeti à Paloma Industries, no Japão.
Uns dias mais tarde recebo a resposta, com a indicação detalhada numa factura do valor a cobrar, incluindo os portes para enviar a Portugal as peças que precisava, qualquer coisa como 7.130,00 ienes, ou seja, à volta de 50 euros (cerca de 10 mil escudos).
Fui ao Banco, a emissão de um cheque em yenes, pagável no Japão era coisa barata, hoje é coisa para custar mais de 40 euros, e enviei-o à empresa com cópia da factura.
Recebi a mercadoria, mas ainda tive que convencer a Alfândega de que eram peças para o meu esquentador, montei as peças e funcionou lindamente mais 12 anos, altura em que deixei de usar gás para aquecer a água. Ainda o ofereci a um familiar que o usou durante algum tempo.
Moral da história;
- Este é um bom exemplo de como uma empresa pode fazer a diferença no relacionamento com os seus clientes, num tempo em que as facilidades de comunicação eram bem mais difíceis e muito mais morosas do que são hoje.
- Este é um bom exemplo para as empresas de hoje, que massacram os seus clientes e não clientes, aproveitando as tais facilidades de comunicação, para que comprem os seus produtos, mas são incapazes de responder a um email (quando o disponibilizam) quando se pretende algo da mesma, como pedir assistência.
- Este é um bom exemplo para as empresas que falam, de sustentabilidade ambiental, mas que incorporam mecanismos de obsloscência programada nos seus produtos, para que avariem e os deitemos fora, com prejuízos ambientais e financeiros para os seus clientes e engrossar os seus lucros.
- Este é um bom exemplo para as empresas acabarem com peças de substituição que permitiriam reparar muitos dos aparelhos que deitamos fora.
- Este é um bom exemplo para quem conseguir fazer pequenos trabalhos, resolver sem problema, algumas coisas em casa.