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Generalidades

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01
Set23

O legado dos jornais (locais)

Curiosidades


Vagueando

Quando somos jovens o tempo escapa-se com uma velocidade estonteante, os estudos, as namoradas, as festas, não nos deixam apreciar nada sobre os locais onde vivemos.

Os velhos, nessa altura eram segundo a nossa perspetiva, uns chatos, quando falavam começavam sempre com a frase -no meu tempo não era nada disto, isto agora é uma pouca-vergonha.

Depois vem a família, o trabalho e nada muda, bem pelo contrário o tempo já não se escapa, pura e simplesmente parece não existir. Os locais onde vivemos são os mesmos mas transformaram-se, acrescentaram história à sua existência, apagando os sinais do passado que se perde à medida que os mais velhos desaparecem.

Quando me reformei, comecei a prestar mais atenção a um jardim próximo da minha casa, cujo projeto, da autoria do arquiteto Raul Lino, o transformou num dos mais belos miradouros que conheço. No local, não existe nada que o ligue a este arquiteto, nem tão pouco existe uma placa com a sua história resumida.

Vai daí, resolvi pesquisar no Jornal de Sintra o que se escreveu sobre este jardim/miradouro. A pesquisa resultou num post que coloquei aqui em 09 de Abril de 2022 sob o título o Jardim da Vigia.

Durante estas pesquisas fui recolhendo outras informações que, não se ligando com o jardim, achei curiosas pelo que resolvi partilhar hoje duas destas notas. A primeira é um cartoon publicado no jornal em 31 de Maio de 1953 e que reproduzo abaixo A linha de Sintra foi inaugurada em 1887, pelo que este cartoon foi publicado 66 anos depois, eu ainda não era nascido, mas o turismo para Sintra já seria uma realidade.

Excursionistas Sintra 31 05 1953 jornal 16318.jpg

Não vou contar aqui a história da Linha de Sintra, apenas vou referir que não foi através desta linha que o primeiro comboio chegou a Sintra.

O primeiro comboio, denominado Larmanjat , chegou a Sintra, em 1873, passando por Ranholas e quer este, quer os que vieram com a construção da Linha de Sintra acabaram por influenciar a história das queijadas de Sintra, nomeadamente as da Sapa.

A outra nota curiosa, que publico abaixo, tem a ver com uma notícia deste jornal em 25 de Dezembro de 1954 e que se refere a um homem que seguia de bicicleta e acabou atropelado por um avião.

Colhido por um avião Jornal 160325 - 25 12 1954.j

Isto aconteceu porque a estrada antiga que ligava Sintra a Pero Pinheiro, atravessava a pista da atual Base Aérea nº 1 e era justamente conhecida por Estrada da Base ou Estrada da Granja, porque esta Instituição Militar está implantada no local conhecido por Granja do Marquês.

Na foto do Goggle que deixo abaixo é bem visível a estrada que atravessava a pista e que liguei com uma linha vermelha a parte que entretanto desapareceu.

BA1 (2).jpg

 

03
Out22

Ranholas


Vagueando

Ranholas é a principal porta rodoviária de entrada em Sintra. Chega-se apressado, do IC19, com três faixas de rodagem, para desembocar mesmo no limite nascente desta localidade. E chega-se apressado porque o limite de velocidade, antes de chegar ao local da foto abaixo é de 100 km/h.

Este risco indesculpável foi reportado à Infraestruturas de Portugal em Março de 2021, Processo 2021REC01422. Em 01/04/2021, recebi a seguite resposta deste organismo; "Esclarecemos que sendo uma zona de transição de gestão da via entre a IP e o município de Sintra, vamos proceder à alteração da sinalização vertical de forma a resolver a situação o mais rapidamente possível."

Talvez porque a resposta da Infraestruturas de Portugal foi transmitida no dia das mentiras, explique o facto de, até agora, nada ter sido corrigido.

Ranholoas.jpg

É aqui que as três faixas de rodagem do IC 19  se transformam apenas numa, as outras duas, uma segue para Cascais (via A16), a outra segue em direção às praias de Sintra . É por dentro desta localidade que se acede ao centro de Sintra. (Atente-se no limite de velocidade, já lá irei).

A toponímia  Ranholas, ao contrário do que se pensa, nada tem a ver com ranho ou ranhoso, mas sim com o diminutivo de "ranha" termo que é usado em Portugal e na Galiza para designar declive no leito de um rio - "José Pedro Machado Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa." 

E por se tratar de uma pequena localidade, não se pense que não tem a sua importância na historia de Sintra, porque tem e muita. Foi em Ranholas que nasceram as queijadas mais antigas de Sintra, as queijadas da Sapa, pela mão de Maria Sapa. 

"As Queijadas da Sapa tiveram a sua origem em Ranholas em 1756, momento que terá marcado o início da produção industrial de queijadas, com uma produção diária de vinte dúzias, vendidas aos fidalgos que se dirigiam a Sintra.

Em 1887 o comboio a vapor chegou à Estefânia e Ranholas deixou de ser a porta privilegiada de entrada em Sintra, devido à chegada do comboio. Desta forma as queijadas de Maria Sapa, mudam-se então para a Volta do Duche, onde desde então e, passando de geração em geração se mantém até hoje, a produção diária das tradicionais queijadas de Sintra." Ler em comércio com história Queijadas da Sapa.

Em Ranholas, viveu Raul Solnado, até existe uma Avenida com o nome deste artista muito próximo desta localidade e este conhecido artista usou a localidade de Ranholas nas suas paródias, ouvir aqui Raul Solnado Exército de Ranholas

Em Ranholas vive também o conhecido ator Rui Mendes.

O primeiro comboio que chegou a Sintra, em 1873, o Larmanjat, entrava por Ranholas onde tinha uma paragem. Em boa hora, a Pousada da Juventude em Sintra, inaugurada este ano, decidiu atribuir o nome de Larmanjat ao seu café restaurante. Larmanjat.

Estou aqui a vaguear pelo passado para chegar à situação actual da localidade de Ranholas. 

Sendo o IC 19 uma das estradas mais movimentadas do país, o fluxo de trânsito que desemboca em Ranholas é brutal e por isso facilmente se transforma em infernal. O limite de velocidade,  visível na foto acima, nunca é cumprido excepto nos congestionamentos de trânsito, infelizmente  é habitual. Os moradores de Ranholas reclamam e bem, por uma segunda travessia de peões, ainda que de pouco sirva, porque é raro os carros pararem na que existe. Os automobilistas têm medo -fundado, diga-se - de serem abalroados se o fizerem.

Aos Domingos, os motoqueiros passam por Ranholas a velocidades bem superiores ao permitido, ultrapassando ( é proibido ultrapassar dentro desta localiadade) vários carros em simultâneo. Os acidentes são frequentes.

A fiscalização  não existe, quer em termos de controlo de velocidade, quer no toca ao desrespeito diário e frequente do trânsito proveniente de Lisboa,  pela sinalização que proíbe a viragem à esquerda em dois entroncamentos existentes em Ranholas. O piso apresenta-se muitas vezes escorregadio com a humidade que é habitual em Sintra aumento o risco de acidente.

Desconheço se se está a estudar alguma solução para o problema do trânsito desta localidade, mas há uma que, sem necessidade de qualquer obra,  aliviaria bastante o trânsito dentro de Ranholas. 

A solução passaria pela eliminação da portagem entre Sintra e Cascais, uma vez que a maioria do trânsito que provem de Lisboa ,  segue na direção de Cascais. Assim escoaria-se-ia o grosso do fluxo de trânsito pela A16 e não por dentro de Ranholas.

Com esta solução, cada veículo proveniente de Lisboa que segue na direção de Cascais faria  menos dois quilómetros por dia,  um para cada lado, para além de descongestionar o trânsito na localidade e, consequentemente a qualidade do ar, a qualidade de vida das pessoas que ali residem, ainda aumentaria a segurança e fluidez rodoviária.

Segundo um estudo sobre o fluxo de trânsito, levado a cabo pelo IMT, nos primeiros 6 meses de 2021, atravessaram diariamente Ranholas, entre 37 mil a 56 mil veículos. Partindo do pressuposto que metade (é muito mais) se dirige na direção de Cascais, teríamos entre 18 a 28 mil veículos diários fora de Ranholas.

Fazendo uma média, cerca de 12 mil veículos deixariam de atravessar Ranholas todos os dias. Estes 12 mil veículos deixariam de fazer os tais 2km a mais diariamente, ou seja menos 24 mil Km.

Cada carro consome aproximadamente 7 litros aos 100km, diariamente teríamos uma poupança de combustível de 1.680 litros, qualquer coisa como 2.856,00 euros  e ainda uma redução de CO2 na ordem dos 38kg. Anulizando estes valores.

  • Poupança de combustível 613.200 litros
  • Poupança no pagamento do combustível 1.042.440,00 Euros
  • Redução da emissão de gases (CO2) 13.870 kg

Neste caso, a inflação, os custos da guerra, os custos para o ambiente, o custo da importação de combustível, já para não falar da segurança e tranquilidade da população de Ranholas, não serão mais importantes que o custo ambiental que recai sobre todos?

Deixo esta mensagem, porque estou de acordo com o Presidente da República, deve-se explicar aos portugueses, o que aí vem, nomeadamente as consequências da inflação, da guerra e da gula financeira, (ah isto de falar da gula financeira não é politicamente correto)  cujo impacto se refletirá negativamente na vida das pessoas.

Entretanto, como não sou Presidente da República, reconheço que não tenho estaleca sequer para poder candidatar-me, limito-me a alertar para o que já cá está e, como nos podemos enganar uns aos outros com uns galardões.

Se Sintra, mesmo com este problema consegue ser um dos 100 destinos mais sustentáveis Sintra destino sustentável, parece-me que a tarefa de querer salvar o planeta uma utopia. 

Até porque o planeta está-se marimbando para nós, porque ele fica, com bom ou mau ambiente, nós é que podemos desparecer.

Nota Posterior à data do post (17/10/2022) - Entretanto leio o artigo, A Batalha do Nosso Futuro, de Diogo Queiroz de Andrade, na revista do Expresso, Edição 2607, de 14 de Outubro de 2002 e fiquei totalmente esclarecido sobre a questão ambiental , na versão de uma corrente de gente rica, denominada "longtermism" e fiquei esclarecido sobre todas as questões ambientais. Sugiro a leitura, mais que não seja, para ficarem a saber como o Mundo dos "influencers" ricos funciona.

 

 

 

04
Fev20

Divagações, histórias e estórias sobre as queijadas da Sapa


Vagueando

É mais fácil provar hoje uma queijada, do que provar quando é que ela apareceu, quem é que a provou em primeiro lugar e que mãos é que provaram ser capazes de ter a arte e a mestria de as confecionar pela primeira vez.

Quando as queijadas viram a luz do dia, por volta do Século XIII, seria mais difícil prová-las do que perder tempo a provar a sua existência e provar a sua qualidade. Não existia nem certificações, nem selo de qualidade que as distinguisse.

Se isto é o melhor que a inovação e a excelência, que tanto nos apregoam consegue provar, prefiro ficar a sonhar com o velho pregão nas feiras e nos campos da bola (não confundir com estádios) “Olha a bela queijada de Cintra”.

Pode ser que a Inteligência Artificial consiga, finalmente e em simultâneo, fazer do acto de provar uma queijada, mais do que nos culpar pelo pecado da gula, e de estarmos a dar cabo da nossa saúde (1) , um facto historicamente comprovado. Como? Ao desembrulhar doucement (não abrir, nem rasgar) o pacote de queijadas, receber aquele aroma da canela, sentir o desejo irresistível de trincar um qualquer daqueles 6 bolinhos redondos, protegidos pela fina casca, olhar para o papel que as envolvia e perceber que o papel (quiçá reciclado)que lhe coube, foi o de nos fazer ver no espaço por cima de nós, com todos os holofotes apontados, a história da queijada em 3D com som Dolby Digital.

Os holofotes existentes na casa das Verdadeiras Queijadas da Sapa (ver foto no link abaixo) 

A História tem os seus métodos para datar e comprovar a ocorrência de acontecimentos passados, ainda que alguns acontecimentos passados custem muito mais a engolir do que uma bela queijada.

Tanto quanto se sabe as queijadas serviram de moeda de troca entre 1227 e 1586. A título de exemplo o Casal do Rebolo em Almargem do Bispo foi arrendado ao Convento da Trindade em 1481 por cem alqueires de trigo (2), noventa de cevada, um porco de dois anos e uma dúzia de queijadas. Assim parece que as queijadas antes de serem produzidas para venda, constituíam reserva de valor, servindo como de moeda de troca em negócios.

Se naquela altura o Banco Lisboa, o primeiro a operar em Portugal, inaugurado em 1821, já existisse, aceitar-se-iam depósitos em queijadas, dentro prazo de validade, bem certo. Seria certamente denominado como o Banco Doçaria Boa (convém rimar com Lisboa para não trair a História) e teria, se calhar, uma vida mais longa que este banco, uma vez que em novembro de 1846 se fundiu com a Companhia de Confiança Nacional, sociedade de investimentos especializada em dívida pública e que mais tarde deu origem ao Banco de Portugal. Uma curiosidade de cariz ambiental. Há 175 anos atrás, o papel existente em armazém no Banco de Lisboa, foi integralmente aproveitado pelo Banco de Portugal para embrulhar as queijadas. Não! Foi aproveitado para imprimir, até 1875, notas mas com a marca de água do extinto Banco de Lisboa. Quem sabe se a ideia do Banco Doçaria Boa, cujos activos fossem suportados em queijadas, se hoje não teríamos bancos doces, mais valiosos, mais seguros e mais éticos que os de hoje.

As queijadas terão nascido – parece que ninguém sabe, sou eu a fazer de adivinho - ali para as bandas do Algueirão, eram fabricadas de forma artesanal, por vários particulares e vendidas em feiras e mercados, um pouco por todo o lado de Lisboa a Sintra.

Maria Sapa, estabelece-se em Ranholas em 1756, momento que terá sido o início da produção industrial de queijadas, com uma produção diária de vinte dúzias, as quais vendia aos fidalgos que se dirigiam a Sintra, no estabelecimento que se chamava Ramalhãozinho.

Ranholas era e de alguma forma ainda é, a porta de entrada rodoviária em Sintra, pelo que tinha tudo para ser um bom ponto de venda. Não existia proibição de estacionamento a cavalos, nem ocorriam constrangimentos de trânsito cavalar, devido ao estreitamento da via, aos limites de velocidade baixos, nem existiam passadeiras de peões, pelo que estavam reunidas as condições para que a Sapa fosse uma queijadaria de excelência, quer do ponto de vista do produto, a queijada como core business, e do ponto de vista comercial, porque era casa frequentada pelos mais distintos fidalgos. Ranholas foi também o ponto de passagem para o primeiro comboio que chegou a Sintra, o Larmanjat, inaugurado em 02 de Julho de 1873.

Inauguração do Larmanjat em Sintra (ver foto no link abaixo)

Horário do Larmanjat em 1873 (ver foto no link abaixo)

O comboio vinha do Rego até Cintra com paragem na Porcalhota, onde os aguadeiros e as vendedeiras faziam o seu negócio durante esta paragem. Não era bem um comboio porque só dispunha de um carril central, que servia para o direcionar, e os rodados assentavam em cima de travessas de madeira. Maria Sapa, já não viu este comboio, mas se tivesse visto não sei qual seria a sua reação ao ver os seus habituais fidalgos todos aperaltados , desembarcarem daquela geringonça, em vez de desmontarem dos seus cavalos, para comprarem queijadas no Ramalhãozinho.

Ainda que a produção de queijadas em Ranholas continuasse, o Larmanjat durou apenas até 1877, devido aos muitos descarrilamentos. O caminho de ferro não desistiu de Sintra, pelo que em 1887 o comboio a vapor chegou à Estefânia. Ranholas deixou de ser a porta privilegiada para entrar em Sintra, devido à chegada do comboio.

As queijadas de Maria Sapa, mudam-se para a Volta do Duche, onde ainda estão hoje. Sem sombra de dúvida, de todas as marcas de queijadas conhecidas, a Sapa é a mais antiga e, sendo a mais antiga, começou logo a ser inovadora. Os tão na moda kiosques, food trucks, roulottes, que animam hoje o chamado mercado de street food, que se apelidam de vintage que vendem comida gourmet, são-nos apresentados como uma grande inovação, deviam de ter vergonha porque não inventaram nada. Podem ser vintage, podem ser gourmet ou lá o que isso é, mas não são inovação. Inovação foi no tempo de Francisco Antunes das Neves, descendente dos Sapa, avô de conhecido Francisco Barreto das Neves, que tirou a licença nº 763, para poder circular com um veículo de duas rodas, de eixo fixo, puxado por uma cavalgadura, ou seja uma carroça, com a qual percorria vários locais de Sintra a vender as queijadas que fabricava.

Depois desta lição de história vou centrar-me na descrição épica da viajem da Casa Sapa, de 2,2km, entre Ranholas e a Volta do Duche.

Comecemos por Ranholas. Ao contrário do que muita gente pensa o nome Ranholas nada tem a ver com ranho, quanto muito tem a ver com ranha. Não, não comecem já a pensar em igualdade de género, se existe ranho tem que existir ranha. Ranholas será o diminutivo de ranha e ranha é um termo minhoto que designa declive no leito de um rio rápido. Quem passa em Ranholas em dias de muita chuva, constata facilmente que a estrada que atravessa a localidade se torna num verdadeiro rio com um declive significativo. Dai parecer fazer sentido, que o nome da localidade derive da palavra ranha.

Sair de Ranholas para a Volta do Duche, não há volta a dar é a subir. Não faço a mínima ideia por onde passaram os tarecos das queijadas Maria Sapa até chegar à Volta do Duche, mas especulemos um pouco.

Presumo que terá seguido logo pelo caminho em frente à casa, rua do Alto da Bonita, (em cujo alto, haveria alguma bonita ou só a vista é que era bonita), depois Chão de Meninos, talvez porque o chão dos meninos fosse mais macio e por isso mais adequado ao transporte dos utensílios de culinária, sem os partir, depois seguido pela Rua Albino José Batista, entroncar na rua Rodrigo Delfim Pereira, apanhar o caminho a descer da Alba Longa (3), fazer uns parcos metros na Rua Conde Seisal, virar à direita para a rua das Murtas, beneficiado do aroma a laranja que esta planta liberta e no fim, virar à esquerda na Rua João de Deus e, com a graça de Deus, desembocar junto à estação de caminho-de-ferro, recentemente inaugurado.

Daí até ao local onde hoje se encontra terá sido um pulinho.

Chegada à Volta do Duche, depois de tanto esforço, nada mais retemperador que um banho nos duches medicinais da Volta do Duche instalados em 1848 pelo médico Bernardino Silveira e Castro, altura a partir da qual a estrada entre a Vila Velha e a Estefânia, passou a chamar-se Volta do Duche. Estes banhos foram mais tarde propriedade de António Pereira que teve que os encerrar por falta de procura, ficando conhecido por Pouca Sorte. Melhor sorte teve as queijadas da Sapa, ainda hoje são um testemunho vivo que sobreviveu à voragem dos tempos modernos, constituindo-se assim como um símbolo histórico de Sintra e simultaneamente, uma marca respeitada e afamada.

Falemos agora do termo SAPA. Sapa designa uma pessoa de baixa estatura mas também designa uma pá usada pelos soldados para cavar/abrir trincheiras. Os militares encarregues de tal missão executavam o trabalho de sapador com esta pá, que tem a particularidade de possuir no topo, duas abas laterais que serviam para se poder calcar e assim cravá-la mais facilmente no chão facilitando a abertura da trincheira.

Antiga Pá de Sapa militar (ver foto no link abaixo)

Maria Sapa e os seus descendentes, foram verdadeiros sapadores. Não por terem aberto uma trincheira, mas sim por terem aberto uma ligação histórica entre Ranholas e a Volta do Duche usada ainda hoje, para chegar rapidamente à Volta do Duche e à Verdadeira Fábrica de Queijadas da Sapa.

Na próxima vez que visitar a Sapa, leve o pacote de queijadas até uma mesa, aconchegue-se na sala, olhe para o palácio, respire fundo, desembrulhe o pacote de queijadas, fixe as luzes por cima de si e voilá; Está presente a ver o passado, está em Ranholas. Esqueça que o ticket de estacionamento só dá para meia hora, já que está no passado desfrute-o. Viajou no tempo, aprendeu como nasceram as queijadas, fez uma viagem no Larmanjat, passou no Ramalhãozinho, veio de Ranholas à Volta do Duche e, de repente, regressa a actualidade e, ainda há uma queijada na mesa. Meio atordoado come-a de imediato e constata que lhe soube melhor que todas as outras.

Não viu nada? Pois, não será um verdadeiro apreciador das verdadeiras queijadas da Sapa ou terá que consultar um especialista, um queijadólogo, mas acredite que o problema é seu. Pelo menos é o que me dizem todos os que já viram o raio verde (4) quando o sol se põe no mar em condições muito especiais . Eu nunca vi!

 

Link para as fotos https://photos.app.goo.gl/BtB3UjFpRyX692gD6

Este texto mistura ficção com realidade, história com estórias, coisas sérias com coisas parvas. Para bom entendedor, é fácil perceber que a parte parva pertence ao autor e as partes sérias a diversas consultas, quer na Internet, cintraeoseupovocintraseupovo.blogspot, quer às magníficas obras de José Alfredo da Costa Azevedo, antigo presidente da CM Sintra.

(1) Sobre saúde não resisto a citar José Alfredo da Costa Azevedo que no seu livro “Apontamentos Vários” termina o seu capítulo “Queijadas” desta forma; Termino fazendo votos sinceros para que o belo doce sintrense continue a ser fabricado de forma a que não desmereça a fama que criou e faça muito bom proveito àqueles que o podem comer. Eu cá ficarei a rogar pragas à maldita diabetes.

(2) Para os mais esquecidos ou eventualmente mais novos os principais padrões do alqueire usados em diferentes regiões de Portugal no século XIX eram os seguintes:

  • 13,1 litros no litoral entre Aveiroe Lisboa
  • 13,9 litros, um pouco por todo o país
  • 14,9 e 15,7 litros, sobretudo no interior e no sul
  • 17,0, 17,5 e 19,3 litros, quase exclusivamente no Entre-Douro-e-Minho

(3)  Alba significa aurora, primeira luz da manhã. Antes da densa vegetação envolver Sintra seria possível beneficiar neste caminho de uma nascer do sol durante bastante tempo, daí a designação de Alba Longa.

(4) O Raio Verde, popularizado pelo romance de Júlio Verne com o mesmo nome. É um fenómeno meteorológico, muito rápido, que pode ocorrer ao pôr-do-sol, sob condições muito particulares de tempo. É mais frequente no mar e só pode ser observado se o horizonte estiver sem qualquer neblina. Não obstante, não basta não haver neblina é necessário que os valores de temperatura e humidade atinjam determinados parâmetros que desconheço

 

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