Nunca me deu para isto
Foi só um desabafo.
Vagueando
Há uns bons anos um colega meu de trabalho publicou, sob o pseudónimo Netto de Pombaleiro, um livro cujo título não só nunca mais me esqueci como, de tempos a tempos me lembro dele – “Já não espero que a espera se canse”.
É daquelas coisas que não se explicam, nem sequer tem interesse explicar mas título ficou gravado no subconsciente e, a propósito das últimas eleições na Madeira, mais uma vez, voltei a lembrar-me dele.
Não é que esperasse destas eleições outro resultado, mas no fundo esperava, que sendo o povo ser sábio, pelo menos é o que dizem, penalizasse uma figura política que foi constituída arguida o que motivou a sua demissão do cargo de Presidente do Governo Regional da Madeira.
Afinal é o povo que afirma que os políticos não são de confiança ou que são todos corruptos, que pelo menos desta vez – lá está esperava eu – não votasse em quem se demitiu por suspeitas de corrupção.
Bem sei que não foi acusado, julgado, nem tão pouco condenado, pelo que a presunção da inocência, e muito bem, se mantém. Contudo, como diz o povo - que dizem que é sábio – não há fumo sem fogo.
O Presidente da República que aceitou, a meu ver bem, a demissão do Primeiro-Ministro do XXI Governo Constitucional devido a suspeitas que recaíam sobre ele, que não foram suficientes para o constituir arguido, mas não aceitou a continuação de uma maioria absoluta com outro Primeiro-Ministro – através do seu representante para a ilha da Madeira – indigitou o ex-Presidente do Governo Regional da Madeira, agora arguido, para formar novo governo, sem maioria. E o mesmo presidente que no Governo da Gerigonça ameaçou dissolver a AR se o Orçamento não fosse aprovado, é o mesmo que agora alega que tem que se evitar eleições antecipadas, mas que o chumbo do orçamento não obrigará à queda do governo.
Há quem diga que isto é a democracia a funcionar, pode ser. Mas se está a funcionar, não me parece que este funcionamento seja saudável, parece mais a democracia doente a funcionar descompensada.
As causas da doença podem ser vastas mas, tal como Deus, estão no meio de nós.
Tendo o povo votado e elegido a mesma personalidade, posso concluir que quem votou prefere ignorar o facto de o eleito ser arguido num processo, numa cegueira intencional que o impede de fazer uma escolha mais ética e quem nem se deu ao trabalho de ir votar não se importa que isto aconteça.
Quanto a mim, cidadão votante, que apenas uma vez na vida falhei uma eleição, a última para Presidente da República porque estava confinado em casa com Covid 19, já não espero que a democracia não se canse de ser tão maltratada.
Até um dia!