Com porta
Vagueando
Já lá vai o tempo em que a Comporta comportava muita gente que, teimosamente, vá lá saber-se porquê, não ligava aquela paisagem, aquelas praias.
Quanto muito o pessoal metia-se com o boguinhas no ferry para Tróia e daí seguiam até Grândola a caminho do Algarve e nem deixavam vestígios da sua passagem na localidade de Deixa o Resto.
O objectivo era seguir rapidamente até Grândola, a tal vila morena e chegar ao Algarve, que ainda não era Allgarve, evitando as bichas, versão popular da expressão gourmet para designar filas de trânsito ou engarrafamentos, provocadas pela estreiteza da antiga ponte sobre o Rio Sado, onde os dois sentidos de trânsito não faziam qualquer sentido.
A Comporta desta época não tinha porta nem muros, ainda não tínhamos aprendido com Donald Trump, nessa altura um jovem, a quem os muros não lhe diziam nada, ele era mais gajas.
Daí que não entenda como na altura do PREC, tal com se fez com a Ponte Salazar, rebatizada de 25 de Abril, não se rebatizou a Comporta para Semporta, era mais democrático. Perdeu-se uma oportunidade de ouro ou, como se diz agora uma janela de oportunidade. Percebo a falha, se a ideia era não ter portas, porque raio se perdeu a janela, ainda por cima de oportunidade. Faz sentido existirem janelas onde não há portas?
Como diz o povo (que é /era ou nunca foi, quem mais ordena) mudam-se os tempos mudam-se as vontades. Assim com a bênção, cruzes canhoto, de uma autarquia de esquerda, liderada pela CDU, a Comporta de hoje é, nem mais nem menos, um upgrade de luxo da pobreza passada. Aí está uma inovação que nem precisou de um Unicórnio.
Não foi só a pobreza anterior que foi alvo de upgrade, também a pobreza mais recente, a tal que brincava aos pobrezinhos, com o dinheiro destes, que confiaram as suas parcas poupanças a estes brincalhões.
Na Comporta de hoje, não se brinca aos pobres, brinca-se ao exibicionismo privado dos ricos, onde as comportas se fecharam para a privacidade total. Falta o toque final, privar, não os pobres mas os remediados de usar a estrada que liga Troia a Grandola, não a fechando porque isso seria ilegal e os ricos fazem tudo de acordo com a lei, mas cobrando uma portagem bem alta, em nome do ambiente claro, para não poluir os pinhais, os lençóis de água, etc.
Esta medida, sensata, permitira que os residentes ocasionais, pudessem usar aquelas retas fantásticas para testar os seus bólides (ambientalmente sustentáveis) mas com muitos cavalos.
A CDU dá aqui um bom exemplo de como se rendeu, não só ao mercado, mas também ao mercado de luxo, o tal do Grande Capital.
Creio que Paulo Raimundo vai ser o primeiro líder partidário que nunca teve funções governativas, a superar os cachets de políticos executivos, como Barak Obama, Bill Clinton, Tony Blair etc para explicar em palestras, como se deu esta reviravolta política, revirando no túmulo a Camarada Odete Santos que estava constantemente a apregoar que o Alentejo ainda seria comunista outra vez.
Até aposto que na sua primeira palestra, com o alto patrocínio da CDU, agora CDU - Coligação Democrática Urbanizadora, terá com participantes na primeira fila, Donald Trump e Benjamin Netanyahu, na expectativa de aprenderem como transformar, democraticamente, a Faixa de Gaza numa Riviera francesa.


