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Generalidades

Generalidades

30
Nov23

Depois das vistas curtas as vistas baixas


Vagueando

 

Daqui a pouco, sensívelmente duas horas, é hora de cumprir o desafio 1foto 1 texto, lançado por IMSilva.

Jogando na antecipação, coloco desde já a minha participação.

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A partir do dia em que nos erguemos para começarmos a andar e, simultaneamente, a crescer e a ganhar altura, começamos a ver o que nos rodeia sempre do nosso ponto de vista e apenas o que está à nossa frente.

Assim, ao longo da nossa vida, os nosso olhos observam o mundo à altura da nossa altura e, por isso quem sabe, frequentemente referimos que temos que estar à altura dos acontecimentos.

Quando caímos, a nossa primeira reação é levantar-nos, de preferência rapidamente, para que ninguém se aperceba da nossa queda.

O nosso corpo é como um tripé de uma máquina fotográfica, ainda que funcione ao contrário deste, já que são as nossas pernas que giram quando queremos ter uma visão de 360º .

Como sempre gostei muito de fotografar, as primeiras fotos que fiz tinham que incluir sempre pessoas, desde que estas estivessem generosamente banhadas pela luz milagrosa do Sol. Não passava pela cabeça de ninguém (que eu conhecesse) tirar fotos onde não estivesse alguém, primeiro porque as pessoas eram o centro das atenções e depois porque fotografar era caro, muito caro e não valia a pena gastar dinheiro com fotos onde não estivessem pessoas.

Contudo, eu tinha outros olhares, mas não os podia mostrar, não me era permitido fotografar o que via, desde que lá não estivessem pessoas.

Mais tarde, com o primeiro emprego e com a minha primeira máquina, comecei a destruir dinheiro em revelações e impressões de fotos sem pessoas mas, desilusão, não correspondiam ao que tinha visto ou então não gostava de ver na foto aquilo que tinha gostado de ver sem a máquina fotográfica à frente dos olhos.

Descobri que a minha visão e a visão da máquina fotográfica registavam coisas diferentes, embora a perspetiva do olhar fosse o mesmo, ou seja, a lente e a minha visão estavam ao mesmo nível, ainda que a amplitude do meu olhar fosse superior à amplitude da lente.

Entretanto, descobri que gosto de ver o mundo como se os meus olhos estivessem muito mais baixos, digamos nos pés e comecei a fazer fotos ao nível do chão.

Curiosamente, a este nível tão baixo, as fotos que obtenho satisfazem-me, mesmo com o sacrifício de me deitar no chão para as obter e confesso, que ao contrário do que sentia antes, agora gosto mais do resultado obtido com as fotos do  aquilo que vi quando as realizei.

Como nota final, tenho que acrescentar que não me deitei no chão para realizar esta foto, que fique bem claro, ainda que a luz não permitisse, aquela hora do dia, total clareza.

Tenho que dizer isto, porque normalmente quando alguma atividade oferece algum risco, nomeadamente físico, costuma-se escrever “não tente fazer isto em casa”, mas no caso desta foto eu acrescento “não tente fazer isto na rua”.

07
Mai23

Trazer o Passado de volta ao Presente


Vagueando

 

 

Se existem lugares onde gosto de vaguear é por feiras de antiguidades.

Não posso comprar tudo para trazer o passado para perto de mim, infelizmente. Na verdade nunca me zanguei com o presente, muito menos com o passado recente, nem encaro o futuro com pessimismo.

Não sou de saudosismos, acho que vamos avançando e melhorando, às vezes nem tanto quanto gostaríamos ou pelo menos à velocidade que gostaríamos, mas avançamos e melhoramos.

E quanto ao nosso país, mal ou bem, desde que me conheço, melhorámos e muito, ainda que se diga muitas vezes o contrário. Como sou do tempo em que muitas casas em vilas e aldeias não tinham saneamento básico, água canalizada ou eletricidade, só por isso e já não e assim tão pouco, demos um grande salto qualitativo.

Não vou aqui elogiar ninguém por este salto, nem tão pouco depreciar quem quer que seja, por não ter sido maior, para que este post não se transforme em tensões políticas que já temos que cheguem.

Regressando às feiras de antiguidades.

Pois gosto de vaguear por elas, muitas vezes encontro por ali, documentos, papéis que pertenceram a alguém, que são provas de vidas que já desapareceram. São documentos com história e com histórias de vidas.

Fascina-me tocar num documento de alguém que já cá não está ou, nalguns casos até ainda pode estar e, ao mesmo tempo, fico um pouco perplexo como aparecem estes documentos à venda nestas feiras, de onde vieram, porque ali estão?

Um vendedor referiu-me que compram recheios de casas e que nestes recheios aparecem por vezes documentos das pessoas que viveram nessas casas.

Tenho dificuldade em desfazer-me de “papelada” que contam histórias dos meus familiares e tenho também dificuldade em deixar “fugir” alguns que me aparecem assim, nas feiras, sobre gente que não conheço de lado nenhum.

A minha última aquisição, numa feira de antiguidades em Alcochete, foi uma Carteira Profissional, com fotografia, de um empregado Bancário, emitida pelo Sindicato Nacional dos Empregados Bancários da Província de Moçambique,  nascido em 1928, em Esgueira – Aveiro e que entrou ao serviço do Banco Nacional Ultramarino na Beira, em 9 de Janeiro de 1951.

Passaram-se 72 anos, que voltas deu esta carteira até chegar à minha mão?

29
Dez22

Os mais vulneráveis nas vias públicas


Vagueando

Já não é a primeira vez que me debruço sobre este tema,que me preocupa pelas consequências que decorrem dos acidentes rodoviários. Já não é a primeira vez que defendo que os acidentes rodoviários deveriam merecer dos jornais e televisões uma análise aprofundada, sobra os suas causas que, acredito não decorrerem apenas do excesso de velocidade ( infração que considero bastante grave, em especial em meio urbano).

Contudo, volto a esta questão porque recentemente a MUBI (Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta) veio defender novas alterações ao Código da Estrada para proteger os utilizadores de bicicletas, ler aqui MUBI defende alterações ao CE

Concordo plenamente com três propostas da MUBI, a saber;

  1. alteração do limite de velocidade “dentro das localidades”, onde o tráfego motorizado interage com peões e utilizadores/as de bicicleta, dos actuais 50 km/h para 30 km/h.
  2. revisão do regime de contraordenações, que “deve incidir, nomeadamente, no agravamento das consequências do excesso de velocidade em meio urbano, no desrespeito pelas distâncias de segurança para com os utilizadores vulneráveis, no desrespeito das passagens de atravessamento (passagens para peões e passagens para velocípedes), no desrespeito das regras de prioridade perante utilizadores vulneráveis e no estacionamento abusivo nos passeios, áreas urbanas pedonais e percursos para velocípedes”.
  3. um novo sinal de rua sem saída que indique que, para alguém a pé ou de bicicleta, existe efectivamente uma saída.

Não obstante, não posso concordar com outras  propostas, nomeadamente, com  ;

  1. A criação de um novo sinal de cedência de passagem um  sinal de cedência de passagem que permita uma pessoa de bicicleta virar à esquerda ou à direita, mesmo quando o semáforo está vermelho e caso verifique que é seguro fazê-lo; Esta possibilidade, com a mentalidade que existe no país sobre segurança rodoviária e com a gritante falta de fiscalização sobre o trânsito diário nas cidades,  rapidamente faria com que o ciclista esquecesse a parte final da proposta "que é seguro fazê-lo em segurança", originando mais acidentes.
  2. A alteração da descrição do sinal de ciclovia (D7a) de “pista obrigatória para velocípedes” para “pista reservada a velocípedes” Discordo em absoluto com a interpretação que a MUBI faz da sinalização atual. Primeiro porque a existência do sinal D7, que é um sinal de obrigação, não tem segundas interpretações. Quando ele existe os ciclistas são obrigados a usar as ciclovias, quando ele não existe podem optar por circular onde lhes for mais conveniente. Segundo porque a MUBI não pode defender, como defende, que a ciclovia pode estar mal construída ( se estiver só tem que ser retificada) e o que por aí não faltam são estradas mal construídas, daí que o próprio Código da Estrada já preveja  no Artigo 24º que o condutor deve regular a sua velocidade face às condições da via. Por último a MUBI não pode defender que a ciclovia pode não satisfazer as necessidades de mobilidade de um determinado ciclista. Não se pode ter ciclovias que satisfaçam as necessidades de mobilidade individuais, mas sim a mobilidade coletiva, razão pela qual o ciclista tem que adequar as suas necessidades de mobilidade às condições existentes. É para isso que existe o CE,  ao assegurar as condições de segurança e fluidez de tráfego de todos.
  3. Um condutor de um veículo que ultrapasse uma pessoa bicicleta tem de fazê-lo ocupando totalmente a via adjacente. Plenamente de acordo até da circulação aos pares, mas em total desacordo com as razões invocadas pela MUBI quando defende que a circulação de dois ciclistas lado a lado, faz com a ultrapassagem seja mais rápido porque o espaço a percorrer na faixa de rodagem contrária é menor. Isto é verdade quando não circulam em grupos maiores. Por outro lado com esta possibilidade, não se pode obrigar que um ou vários  veículos, circulem numa estrada onde não é permitido ultrapassar durante vários Km atrás de um ou de um grupo ciclistas.  A aceitar esta proposta tem que se aceitar que se impeça  ciclistas de circular em muitas estradas, a bem da segurança e da mobilidade de todos.

Estranho que a MUBI, nas alterações que defende, justamente por considerar que as pessoas em velocípedes são mais vulneráveis do que as que circulam de automóvel, não proponha nenhuma obrigação para estas pessoas, nomeadamente a obrigatoriedade de circularem de capacete, de possuirem refletores e luzes à frente a trás,  de possuirem seguros ( o preço anual é uma ninharia quando comparado com muitas bicicletas que circulam nas estradas nacionais)  nem tão pouco lhe deixe algumas recomendações como, por exemplo, não circular em sentido contrário nas vias de sentido único, não circular em cima dos passeios.

É que biciletas eléctricas são, nem mais nem menos, veículos motorizados e frequentemente estão a circular em sentido contrário ao trânsito.

Só espero que a breve trecho a MUBI não venha defender a criação de um novo sinal que represente Pessoas em Velocípedes a circular em contramão.

Em suma a MUBI, apenas pretende alterar as partes do CE que implicam aumentar a responsabiliade de terceiros em protegrem os mais vulneráveis.

03
Set22

As veredas


Vagueando

O meu avô, homem de perna alta, de passo vivo e cadenciado era caminheiro profissional, era esse o seu único meio de para se transportar entre lugares.

Quando o acompanhava, ainda jovem, era obrigado a fazer pequenas corridas para o conseguir acompanhar. Sem hesitações nos cruzamentos e entroncamentos de veredas palmilhávamos quilómetros por entre casas isoladas, conhecidas por montes, povoações minúsculas e pequenas aldeias.

Afugentava os cães que se atravessavam no caminho que, ao contrário do ditado, ladravam e mordiam. Os cães não o apoquentavam, tinham-lhe muito respeito, por mais ferozes que parecessem, fazia-os sempre fugir, se fosse necessário à pedrada. Nunca me lembro de ter levado uma dentada, fosse de que cão fosse.

Quando se ia a uma povoação maior o meu avô dizia que se ia ao Povo. Era lugar onde se via muita família (sinónimo de muita gente) e onde existia um mercado e, de tempos a tempos, uma feira, que estava ali, encostada ao Povo onde se vendia gado (porcos, bois, vacas, burros, mulas) e no meio desta, o gado organizado de forma desordenada, circulava gente curiosa como eu e quem queria fazer negócio.

Aprendi com ele o significado das veredas e o prazer de caminhar nelas. Recordo neste texto, que ele reconhecerá, mesmo sem saber ler e sem ter acesso à Internet, nem ao mundo dos vivos, as nossas caminhadas.

Dizia-me que a vereda era um caminho estreito, da largura do espaço que uma pessoa precisa para caminhar e que se aprendia a segui-la, com o tempo e a experiência. Não havia indicações nem tabuletas (também se as houvesse poucos saberiam lê-las) com as direções ou destinos a seguir, não havia GPS, era tudo de memória. Cada pessoa guardava na sua cabeça uma série de veredas que davam a acesso a todos os lugares para onde precisavam de ir.

Se fosse necessário seguir até um local novo, esse mapa mental não tinha gravado o caminho, mas sabia a direção, se para Norte, se para Sul, se para Este ou Oeste e, com base nesses quatro pontos cardeais, se escolhia a vereda certa para onde se queria ir pela primeira vez. Sempre que a vereda se dividia em duas três ou mais direções a escolha era racional, bastava olhar para o Sol que nos dava um dos pontos cardeais e, a partir daí tudo era fácil. As veredas nunca se enganavam, muito menos eram capazes de enganar alguém, até porque, quem as observava também não se deixava enganar.

Grandes duplas formavam as veredas e as pessoas que nelas caminhavam, verdadeiras equipas recheadas de estrelas ou não fosse o Sol uma bela estrela.

Dizia o meu avô que a vereda era o melhor caminho, o mais curto, o mais belo, o mais conversador, sim aparecia sempre alguém em sentido contrário com o mesmo espírito, ir de um lado ao outro, pelo caminho mais curto e mais belo, mas com tempo para dois dedos de conversa. Contudo, estas conversas nunca incluíam qualquer pergunta sobre o caminho a seguir, toda a gente seguia o seu próprio caminho.

A vereda era o caminho de todos, para todas os destinos, que passava por todas as casas, aldeias, serras, rios, fontes e riachos.

As pontes eram raras, as que existiam eram improvisadas e, obviamente, estreitas. Mas quando não estavam lá, a dar a passagem para a outra margem, eram as poldras que nos transformavam em equilibristas e só com muito malabarismo se chegava com os pés secos à outra margem.

Quando, era preciso transportar alguma coisa, por exemplo água, o burro seguia a vereda com o meu avô atrás sem que fosse necessário indicar-lhe o caminho. Quando se lhe montavam as cangalhas em cima da albarda onde se anichavam dois potes de barro, ele sabia que era para ir ao poço. As veredas também nunca enganavam os burros, até porque, tal como os homens, eles também não se deixavam enganar.

As veredas eram caminhos abertos pela passagem de muita gente a pé, não estavam sujeitos a planos das Juntas de Freguesia nem das Câmaras, não exigiam expropriações, nem projetos, nem autorizações dos proprietários dos terrenos onde passavam. Eram pura cooperação entre vizinhos e afastados. Eram tão-somente isso, serventias, o espelho das necessidades das gentes do Algarve para comunicar entre si e identificavam-se por uma ténue linha sem vegetação, composta por pó vermelho, tão característico do Algarve, que parecia fumegar debaixo dos nossos pés, tão fino que espirrava debaixo dos sapato a cada passada.

A vereda era uma linha simples, umas vezes reta, outras vezes curva, outras vezes às curvas e contracurvas para contornar obstáculos como árvores, silvados, desníveis e pedras, trabalho de muitos passos, de muita gente que não passeava por ali, mas passava por ali, muito antes de mim e do meu avô, há vários anos, várias gerações de passos deixando a sua pegada, muito ecológica, em tantos quilómetros de veredas.

As veredas eram a marca, de muita gente, dos seus destinos, das suas histórias e das suas estórias dos seus encontros e, porque não dizê-lo, dos seus medos, frustrações, raivas e alegrias tudo registado naquela fina falta de vegetação e da transformação da terra dura em pó fino de tanta pisadela que levou.

A vereda tinha sempre acompanhamento musical, ora dos grilos e cigarras ora da passarada que saltitava de árvore em árvore, de pedra em pedra, do tilintar dos chocalhos dos rebanhos e ainda tínhamos espetáculos de cor, movimento e luz. Borboletas multicoloridas esvoaçavam à nossa volta, as nuvens que filtravam o sol e nos faziam sombra, alteravam a cor da paisagem, cenas fantasmagóricas provocadas pelas trovoadas ou molhadas, se instalavam ali mesmo por cima de nós e os relâmpagos que nos faziam temer vir a servir de para raios entre a descarga e a (terra da)vereda.

As veredas também tinham cheiro, consoante a época do ano, a esteva, a figos, a amêndoa, a terra molhada, quando chovia no Verão, a trampa de ovelha, mula, de burro e de cão. Não é possível reproduzir estes cheiros num texto, mas estas misturas ao ar livre nem sequer se pode dizer que fossem desagradáveis, faziam parte do caminho e pronto. Se algum algarvio, com mais de 50 anos, ler este post, é bem capaz de imaginar e de sentir os cheiros que aqui descrevo.

Nas veredas foram ficando histórias de homens e mulheres, crianças e adolescentes, amores e desamores e de tantos pastores que aliviaram as dores e o cansaço, esperando sentados nalgum valado já meio descambado enquanto as suas ovelhas pastavam e saltavam, vezes sem conta aquela valado, escramalhando (sinónimo de espalhar, fazer cair) o alinhamento das pedras que o compunham. Assim tivéssemos aprendido a ler terra pisada e teríamos extraído dali, daquela linha estreita, muito conhecimento.

Aprendi a gostar de caminhar naqueles caminhos de pó vermelho, tão característico do Algarve, chamava-se-lhe “poredo”, adorava bater os pés contra aquele pó fino, espalhando-o pelo ar, sujando os sapatos e as calças, enfim, mostrar aos graúdos que tinha feito uma grande caminhada. As veredas eram caminhos de movimento, ambientalmente sustentáveis, por lá passavam, pessoas e bestas, mulas e burros, que cabiam naquela estreitíssima largura de caminho onde nem as pegadas ficavam visíveis , porque tudo eram só montinhos de pó, completamente desalinhados.

Se encontrar uma vereda (se calhar conhece-a por trilho) palmilhe-a, observe-a, deixe-se encantar, siga-a. No fim não vai encontrar o caldeirão de ouro, mesmo que o arco íris a intersete nalgum ponto, mas vai encontrar histórias e, quem sabe, ainda vai descobrir que alguém da sua família, mais próxima ou mais afasta deixou ali a sua pegada há muito, muito tempo.

As veredas morreram, porque já ninguém anda a pé por necessidade, porque as bestas foram impedidas de trabalhar e os rebanhos também praticamente desapareceram.

As veredas deram lugar às estradas, onde não passeiam pessoas, nem bestas, nem rebanhos e as estradas estão reservadas aos carros que levam as pessoas aos seus destinos, muitas vezes conduzidas por bestas.

15
Ago21

A mudança do espectáculo deplorável e anárquico


Vagueando

 

Nasci no mesmo ano que a RTP. Neste sentido, cresci a ver crescer antenas agarradas às chaminés das casas e no cimo dos prédios.

Primeiro VHF para ver o único canal, a preto e branco e mais tarde de UHF, para ver o segundo canal, ainda e também a preto e branco.

Com a chegada da TV por cabo as antenas deixaram de ser necessárias. Contudo, a TV por Cabo não chegava a todo o lado. Assim foram-se montando, ao lado das antigas antenas, umas parabólicas que começaram a dar um ar de que andávamos todos à procura de um sinal de vida extra terrestre.

Sempre na vanguarda da inovação e da modernidade, o País começou-se a preocupar-se com a retirada das velhas antenas de TV e com  a montagem das novas parabólicas, para evitar a poluição visual.

Estávamos em 1989 quando se publicou o Dec. Lei 122/89 sobre a “Disciplina a instalação de antenas colectivas de recepção de radiodifusão sonora e televisiva” Como se depreende do um excerto abaixo deste Decreto Lei, já havia sido publicado um anterior que, curiosamente, mas não surpreendentemente, não produziu os efeitos desejado pela letra de lei.

Na verdade, os objectivos visados pelo Decreto n.º 41486 não foram atingidos, uma vez que não se evitou a proliferação de antenas de recepção, das quais a maior parte instaladas sem obediência mínima aos princípios estabelecidos, dando origem ao espectáculo deplorável e anárquico que hoje se pode observar em quase todos os telhados dos prédios dos grandes centros habitacionais.

Bom, mas a coisa lá foi e hoje o espectáculo deplorável e anárquico dos telhados dos prédios cheios de antenas é coisa do passado.

Missão cumprida!

O caos das antenas até era compreensível, porque se tratava de pessoas singulares que queriam ter acesso à televisão e, muitas vezes, eram as próprias que instalavam as suas  antenas.

Com advento da TV por Cabo o assunto ficou a cargo de empresas, altamente tecnológicas, inovadoras, focadas no cliente, apostadas na prestação de um serviço de excelência, de acordo com as melhoras práticas de mercado e de segurança e no estrito cumprimento da lei.

Recordo-me, em Setembro de 2018, o presidente da Altice, em nome da segurança de pessoas e bens, referia que a Vodafone estava a aceder de forma ilegítima aos seus postes e nada garantia que esses acessos, que não sabiam se era feitos ou não por um técnicos credenciados, podiam sobrecarregar esse poste com mais cabos e que as tensões provocadas por esse aumento, poderia levar à queda do poste. E acrescentava que, obviamente, a Altice estava a tomar medidas junto das autoridades competentes para, não só fazer valer aquilo que era de lei e que lhe era devido, mas também para garantir a segurança e a integridade das pessoas que circulam na via pública, junto dos postes espalhados por todo o país.

Sucede que o espectáculo deplorável e anárquico, pese embora a conversa do presidente da Altice, mudou-se das telhados para os postes.

Cada vez que olho para um poste de cabos de telecomunicações pergunto-me o porquê de tanta desarrumação e tanta anarquia e pergunto-me também se isto é que é inovação, sustentabilidade, segurança no trabalho e se as imagens dos postos que podem ver acima fazem parte do ADN destas empresas.

Não sei se existe, nem me dei ao trabalho de procurar, alguma lei que regule a montagem de cabos nos postes, mas se existe, o que está a acontecer é o seguinte; •

  • Ninguém está a respeitar a lei. 
  • Estarão à espera de uma nova lei para, aí sim, cumpri-la.
  • Ninguém fiscaliza. 
  • As alegadas medidas que a Altice tomou em 2018, não serviram para coisa nenhuma

A acescer a esta anarquia, juntou-se outra que tem a ver com a vegetação (que não sei porquê) ninguém corta nem apara, o que aumenta a carga sobre os postes, com a tensão criadas pelas ramagens da vegetação. 

Todos os postes fotografados estão em Sintra e, nenhum deles, está a mais de um 1km do centro histórico desta vila, Património Mundial.

Se isto é assim por aqui, o que não se passará de pior pelo país.

Mas que bandalheira. 

02
Jul19

Estrada Nacional 2, Reviver o passado, viver o presente ou visualizar o futuro?


Vagueando

 

Preservatrice.jpg

Quem nunca sonhou visitar o passado ou o futuro, ainda que esteja ciente que, nem a realidade virtual nos pode transportar, fisicamente, até lá?

O desafio de fazer a N2 consistiu, nem mais, nem menos, em viajar no passado, com os pés, neste caso também com os pneus, assentes no presente. Antes de levar a cabo a preparação da viagem, peguei em dois mapas antigos, um do ACP de 1949 e outro da Preservatrice, cujo ano não consegui ainda verificar. No entanto, creio ser anterior a 1949 por causa de uma ponte, a de Totenique, sobre a ribeira com o mesmo nome, construída em 1949, que permitiu a ligação entre a povoação e estação de caminho de ferro de Luzianes a Monchique e a Portimão, através da N266, ainda não estava referenciada no mesmo. Só de olhar para os mapas, tendo nascido em 1957, conduzindo desde 1975, tenho bem a noção do que era circular por aquelas estradas.

Voltar a fazer um percurso tão longo por estrada, neste caso a N2, parecia-me um desafio, porque já não me lembro há quantos anos, não percorria uma distância tão grande apenas em estrada.

Quem já não é jovem lembra-se que em Portugal, antes da Revolução de Abril, existiam apenas dois pequenos troços de Auto Estrada; Um entre Lisboa e Vila Franca de Xira e outro entre Lisboa e Coina, aberto já mais tarde com a inauguração da Ponte de 25 de Abril em 6 de Agosto de 1966. O resto eram estradas nacionais, muitas delas de má qualidade.

As Estradas Nacionais eram a forma mais rápida, de se circular entre cidades. A maioria dos carros à época eram muito mais lentos, não tinham cintos de segurança, o habitáculo era invadido por cheiro a óleo ou a gasolina e os travões eram de tambor às 4 rodas, sem servo freio. Com esta panóplia de extras e gadgets, fazer uma ultrapassagem ou contornar uma serra, eram um teste à paciência e ao sangue frio de cada condutor, ou porque o motor fingia que acelerava, mas apenas deitava mais fumo ou porque os travões fingiam que travavam, mas apenas abrandavam.

A N2, outrora sob a jurisdição da antiga Junta Autónoma das Estradas e dos seus abnegados cantoneiros, depende agora das Infraestruturas de Portugal e/ou das autarquias, que menosprezam mais estas vias do que as rotundas dentro das suas localidades. Por outro lado atravessar 11 distritos, 35 concelhos, 11 cidades e muitas mais localidades e pequenas aldeias, bem como atravessar serras como a Lousã, Melriça, Monfurado, Montemuro (onde a N2 atinge a sua altura máxima 980 m na povoação de Bigorne) e Caldeirão , bem como cruzar rios, o Douro, o Varosa, o Balsemão o Paiva o Vouga, o Dão, o Mondego, o Alva o Ceira, o Zézere e o Tejo, para além de várias ribeiras, riachos e curso de água, passar ainda por desníveis acentuados e tornear milhares de curvas, parecia uma tarefa surrealista.

Temos uma certa tendência revivalista e talvez até ser do contra a modernidade nalgumas situações. Um bom exemplo é o da comida. Depois de anos a desdenhar da comida caseira, quer por falta de sabor, quer por ser lenta e trabalhosa, virámo-nos para a fast food. Contudo, começou agora o movimento contrário, o gourmet, que, por exemplo, no caso dos enchidos, dos queijos, do pão e até de alguns pratos, é, nem mais nem menos, a comida que eu tinha à disposição na casa dos meus avós, a preço muito mais contidos, sem publicidade ou tiques de novo riquismo.

Este desafio de regresso ao passado só era diferente apenas porque o carro era mais moderno, seguro e confortável, mas o condutor muito mais velho. Será que uma coisa compensava a outra ou a idade descompensava a segurança oferecida pelo carro? A N2 criou-me expectativas enormes e receios ainda maiores.

Os preparativos para a viagem foram feitos tendo por base a Edição 100 (2019) do mapa do ACP e do livro “ A Mítica Estrada Nacional 2” edição de 2016 da Motorpress. Olhando para o mapa actual é difícil não vislumbrar pelo menos uma autoestrada ou uma via rápida, que não siga na direção dos principais pontos cardeais da rosa dos ventos.

Com tantas e tão boas vias rápidas até parecia um absurdo fazer um percurso tão longo, exclusivamente por estrada. É que num mundo cada vez mais acelerado a escolha vai sempre para a via rápida mais perto de si, que ligue com a via via rápida mais perto do seu destino.

A velocidade a que gira o mundo, tirando as discussões científicas, sempre foi a mesma, mas parece que toda a gente, mesmo de férias ou aos fins-de-semana, está sempre com pressa para ir para ….sei lá eu! . A velocidade dos acontecimentos é que deixou de ser medida pelos critérios antigos, baixa, média ou alta, exige-se apenas que seja verdadeiramente estonteante.

Curioso, mas não há multas para o excesso de velocidade dos acontecimentos e das pessoas, exepto quando entram num transporte terreste. Também não deixa de ser absurdo que se fabriquem carros cada vez melhores, mais seguros, quer activa, quer passivamente, com velocidades limitadas pelos próprios fabricantes e que as estradas, também elas cada vez melhores nos imponham limites de velocidade.

Não deixo de reconhecer, às vias rápidas, importância para combater o isolamento, fomentar o crescimento económico e o indispensável turismo, quer o que apela para fazermos férias cá dentro, quer o que apela aos de fora, para as fazerem também dentro do nosso pequeno retângulo à beira mar plantado.

Recapitulando. Para iniciar esta jornada usei as vias rápidas, para chegar ao ponto de partida. Foram 531 km, de Sintra a Chaves em cerca de 5h e 55 m, respeitando as regras de trânsito, mesmo os tais limites de velocidade, mais as que o bom senso e o civismo aconselham, para que a rapidez não se faça com prejuízo da nossa segurança e dos demais utentes da via. Infelizmente apenas o factor humano, com a sua maior ou menor apetência para conduzir e com a sua maior ou menor capacidade para perceber o risco e interpretar as regras do Código da Estrada, impedem que se explore toda a rapidez e segurança que é possível obter num carro actual, numa auto estrada.

Antes de chegar a Chaves, não larguei a A24, saí só em Espanha (coisa que nos anos 60 e 70, não era uma tarefa assim tão fácil e descontraída) para colocar combustível, 20 cêntimos mais barato, na localidade de Feces de Abaixo e, no regresso, já por estrada, ainda antes de entrar em Chaves vejo o primeiro sinal a indicar, Chaves N2.

Não vou destacar nenhum ponto da viagem, porque isso faz parte das memórias e fotos que guardei, mas gostaria de deixar aqui algumas notas do que foi voltar a fazer 738,5Km em estrada, sem recurso a vias rápidas, excepto num pequeno troço do IP3 porque a Barragem da Aguieira afundou a N2, na ligação entre o Distrito de Viseu e o Distrito de Coimbra.

Pois bem, foi uma experiência muito agradável ao constatar que a Estrada Nacional 2, está muito bem conservada (estou a comparar com o que encontrava no anos 70, quer nesta estrada quer noutras) está razoavelmente bem sinalizada e marcada e à parte de ter muitas rotundas (coisa raríssima no passado) ao longo do seu trajecto, não perdeu o seu encanto nem a sua mística.

Ao longo da N2, encontra-se de tudo; cidades, aldeias, vilas, lugares, lugarejos, hóteis, pousadas, pensões, rotundas, cruzamentos, entroncamentos, gentes, restaurantes, cafés, postos de combustíveis, oficinas, paisagens de todo o tipo, pontes gigantescas, agora designadas por obras de arte, uma espécie de deserto, serras, rios, praias fluviais e com mar a sério, floresta, jardins, comboios, mamarrachos, monumentos, igrejas, encanto, desencanto, memórias, histórias, paisagens de toda a espécie, sinais de pobreza, sinais de riqueza e de desenvolvimento, sinais da voragem, dos tempos, frio, calor, sol, chuva, vento, brisa, terrenos cuidados e ao abandono, o malfadado eucalipto, ali mesmo na beira da estrada plantado, à espera que o próximo incêndio deixe tudo arrasado. Ainda assistimos à transformação da N2 em Regional (R2) despromoção que não me pareceu justa e ainda podemos encontrar duas N2, paralelas entre Vila de Rei e Abrantes, a saber; •

 * Uma N2, mais antiga, daí existirem marcos com a designação de Antiga N2 em vez de simplesmente N2, que passa na Praia Fluvial de Penedo Furado, local com a particularidade de ficar na extrema do Distrito de Castelo Branco com o distrito de Santarém. Foi esta a estrada que optámos por fazer •

 *Outra, mais moderna que segue um trajecto mais a nascente e que passa próximo de Sardoal.

Conduzir nesta estrada revelou-se agradável, talvez porque muito do trânsito (se calhar não tanto como seria desejável pelo preço das portagens) foi desviado para as vias rápidas. Voltar à estrada faz-nos reaprender a conduzir, obriga a mais atenção e muito mais acção, não provoca tanta sonolência e a paisagem é muito mais variada. Ao mesmo tempo, porque paramos com mais frequência, tira-se uma foto, relaxa-se e minimizamos o cansaço.

Os automobilistas portugueses sempre se queixaram da má sinalização das estradas nacionais.

Ao longo destes 738 km fui reparando que nos locais onde a estrada estava bem sinalizada, quer do ponto de vista da sinalização vertical, quer das pinturas no pavimento, esta era desrespeitada com muita facilidade. Até dentro de localidades, com limite de velocidade de 50Km/h com traço contínuo bem visível, fui ultrapassado. Por outro lado, em zonas onde a sinalização era mais fraca, o tipo de condução não variava muito, pelo que conclui que a maioria dos condutores, pura e simplesmente, ignora a sinalização e conduz à vista, com base na intuição que julga ser a correcta, a sua, obviamente! Sempre é um bocadinho melhor conduzir à vista do que com a vista no telemóvel ou com ele à vista, o que suponho que acontecia nos casos em que me deparei com veículos fora de mão, aos quais tive que buzinar fortemente e fazer sinais de luzes, para evitar males maiores.

O regresso de Faro a Sintra foi feito por estrada até Beja, apanhando a A2 até casa, no nó de acesso a esta cidade. O objectivo de fazer a N2, como um regresso nostálgico às estradas, foi cumprido. Contudo, há muito mais para ver e explorar em redor da N2, história, cultura, natureza, gastronomia, pelo que fiquei com vontade de repetir o percurso de forma mais demorada. Iniciei a viagem na Primavera, a 16 de Junho e cheguei a Faro no Verão, a 21 de Junho.

Percorri 2.119 km, sendo que 531 Km correspondem à ligação Sintra Chaves e 388 Km à ligação Faro, Alcoutim, Beja, Sintra. Na N2 foram percorridos 1200 km, ou seja 738,5km para percorrer a estrada e o remanescente 461,5km nas voltinhas à sua volta. Parecia que não havia volta a dar, mas tal como no mar, há ir e voltar, aqui também foi ir explorar e voltar à N2.

Posso concluir que as expectativas ficaram muito acima do esperado e os receios eram, felizmente, totalmente infundados.

Fazer a N2 significou reviver o passado, perceber melhor o país, conviver com pessoas sem necessitar de redes sociais, ver o que fomos e o que somos, e entender que somos melhores do que pensamos.

Esta estrada foi instituída em 11 de Maio de 1945, altura em que foi publicado o Decreto Lei 34.593 com o Plano Rodoviário de 1945, com as normas de classificação das Estradas Nacionais, Municipais e Caminhos Públicos. Com este plano criou-se a N2 como a estrada mais longa do País, que pretendia ser a espinha dorsal em termos de vias de comunicação, o que tinha a sua lógica, já que atravessar o país pelo meio, seria uma forma de não privilegiar o litoral em detrimento do interior.

A grande dúvida com que fiquei foi a de que país seríamos hoje em termos demográficos, se tivéssemos apostado nesta estrada central, que até poderia ter sido uma Auto Estrada.

A N2 não era, na época, apenas uma estrada mas sim um sinal de desenvolvimento e de organização. O litoral acabou por se desenvolver à custa do despovoamento do interior e assim chegámos ao tempo actual em que a desertificação do interior é uma realidade.

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