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Generalidades

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22
Nov24

Já não se usa, já não se vê


Vagueando

Participação  XVI , Ano II do Desafio 1 foto 1 texto

 

20241020_115652.jpg

 

Habituei-me a ouvir os comboios nas noites de Verão, quando estava na casa do meus avós, no Algarve. Aquele calor, mesmo com o Sol já posto, transportava até aquela casa o barulho da locomotiva, primeiro a carvão, depois a gasóleo. Este último era o Rápido, assim se chamava, embora a velocidade sobre os carris fosse tudo menos rápida. O Sotavento, uma automotora de cores garridas, branco e vermelho dava-lhe um ar "racing" mas a sua velocidade máxima, raramente chegava aos cento e picos quilómetros hora.

O problema nem sequer era a velocidade máxima, mas sim os carris que não aguentavam grandes velocidades e, por outro lado, obras ou má conservação da via, obrigavam a frequentes abrandamentes que, em termos ferroviários dá pelo nome de afrouxamentos.

Tudo conjugado era uma seca, uma eternidade viajar entre o Barreiro e a minha estação onde todos os comboios paravam - S. Bartolomeu de Messines.

E era o percurso entre esta estação e a estação de Tunes, implantado num mini planalto que eu ouvia e via, o comboio a avançar, o som do comboio, conhecido por pouca terra, pouca terra, era uma falácia. Havia muita terra para tão minúscula serpente que por ali passava.

E não era só ver e ouvir, eu parava para admirar o comboio - nostalgia e sentia o cheiro das travessas de madeira, pingadas de óleo que, perante o Sol inclemente do Algarve, também libertavam um odor que não consigo descrever mas que ainda hoje está gravado na minha memória.

A foto de hoje é de um antigo sinal ferroviário, muito usado junto das passagens de nível, com e sem guarda que assinalavam o perigo que um comboio representava. Assim para evitar acidentes esta placa avisava -Pare, Escute e Olhe, antes de atravessar a linha.

Hoje, o sinal deixou de fazer sentido, os carris foram desnivelados do nosso caminho que ficou livre. Em nome dessa liberdade, deixámos de Parar, de Escutar e de Ouvir - perdemos a linha e o respeito por todos os que se atravessam ou partilham connosco o caminho que é de todos.

Pouca terra, pouca terra, deixou de fazer sentido, a terra por onde o comboio passava, ficou muita e sem gente para ouvir o comboio.

 

09
Fev20

Balada da Neve


Vagueando

Esta balada de Augusto Gil, sempre buliu comigo, desde pequeno. Gosto de a ler, gosto de a ouvir. Sabe-me bem, faz-me sentir bem, aconchega.

Quando vagueio por aí recordo sempre desta balada. Vai daí, lembrei-me de ir buscar ao sótão buscar algumas das imagens que fui coleccionando ao longo dos anos e que me fazem ouvir, que batem leve, levemente, com se chamassem de novo por mim.

Não sei se vou deturpar, se vou estragar ou homenagear, mas deu-me muito prazer, relembrar estas imagens e relembrar a balada (ver link abaixo)

https://photos.app.goo.gl/RT9DdhcnkF51ZL3Y7

Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…

Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…

Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…

E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…

Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…

E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.

Augusto Gil

 

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