Balada da Neve
Vagueando
Esta balada de Augusto Gil, sempre buliu comigo, desde pequeno. Gosto de a ler, gosto de a ouvir. Sabe-me bem, faz-me sentir bem, aconchega.
Quando vagueio por aí recordo sempre desta balada. Vai daí, lembrei-me de ir buscar ao sótão buscar algumas das imagens que fui coleccionando ao longo dos anos e que me fazem ouvir, que batem leve, levemente, com se chamassem de novo por mim.
Não sei se vou deturpar, se vou estragar ou homenagear, mas deu-me muito prazer, relembrar estas imagens e relembrar a balada (ver link abaixo)
https://photos.app.goo.gl/RT9DdhcnkF51ZL3Y7
Batem leve, levemente,
como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
e a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
mas há pouco, há poucochinho,
nem uma agulha bulia
na quieta melancolia
dos pinheiros do caminho…
Quem bate, assim, levemente,
com tão estranha leveza,
que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria…
. Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
os passos imprime e traça
na brancura do caminho…
Fico olhando esses sinais
da pobre gente que avança,
e noto, por entre os mais,
os traços miniaturais
duns pezitos de criança…
E descalcinhos, doridos…
a neve deixa inda vê-los,
primeiro, bem definidos,
depois, em sulcos compridos,
porque não podia erguê-los!…
Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!…
Porque padecem assim?!…
E uma infinita tristeza,
uma funda turbação
entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
e cai no meu coração.
Augusto Gil