No meu tempo de infância habituei-me a ver crescer uma mula, que o meu avô comprou muito jovem e que mais tarde usava para lavrar e para puxar uma carroça algarvia, que na época eram lindas e um luxo. A mula era linda, esbelta, mansa, meiga, parecia um cão a segui-lo por todo o lado e o meu avô tratava-a como uma princesa.
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Carroça algarvia
Não seguia mais ninguém, só obedecia ao meu avô.
Uma vez seguia com ele, montados na mula e parámos na taberna para tomar uma bebida. A mula obviamente ficou à porta e solta. Na brincadeira, um conhecido tentou leva-la para a esconder mas não conseguiu.
Nesta altura também me habituei a ouvir a canção A Mula da Cooperativa, cantada por Max e recentemente, por António Zambujo num espetáculo a homenagear este cantor. Contou ele que durante uma destas homenagens espetáculo, alguém na plateia, gritava com frequência, “Canta a Mula, canta a Mula….
E lá cantou a Mula.
Nos meus tempos de juventude a atirar para o adulto quando passava uma mulher jeitosa, agora já não se pode mandar piropos, dizíamos “ganda mula”. Também por esta altura ouvia-se muito a expressão “doutores da mula ruça” para designar pessoas que davam ares de importante quando não o eram.
Nos meus tempos de adulto em início de carreira profissional, cometi a maior gafe da minha vida, que ainda hoje me amargura, isto tudo por causa da “mula”.
A palavra mula fazia parte do vocabulário da empresa. Naquela altura trabalhava-se com muita documentação em papel e muito desse papel era transportado de mota que fazia o chamado serviço expresso. Ora essa documentação tinha que chegar todos os dias de manhã cedo, sob pena de não se conseguir trata-la até às 12h, o que acarretava consequências graves para a empresa e para os seus clientes.
O chefe, cabelos brancos, sempre de cigarro na boca e quase sempre com outro acesso no cinzeiro, conseguia transformar um espaço amplo onde trabalhavam cerca de 60 pessoas, num espaço pequeno para tanto fumo. Em abono da verdade, quase todos e todas (ainda não havia todes) fumavam.
Num dia chuvoso, entra o chefe por ali adentro, obviamente de cigarro na boca, onde eu e mais uns colegas aguardávamos a chegada da documentação para começarmos a trabalhar e diz; Estamos tramados (imaginam a outra expressão que o começa com “f”) o mula expresso (referindo-se o pobre estafeta) estampou-se no Campo Grande e a documentação espalhou-se toda pela estrada.
Deu-me vontade de rir chamar ao estafeta o mula expresso, mas passou-me a vontade quando descobri o trabalho extra que iríamos ter para recuperar aquele dia.
Percebem agora a razão por que é que a palavra mula fazia parte do vocabulário da empresa e este incidente, acabou por me inspirar a escrever um post, em Dezembro de 2019 a que chamei o Mula Expresso.
Para terminar só falta falar da gafe. Num final de dia, a empresa já tinha encerrado o atendimento ao público.
O meu posto de trabalho era ao lado de um colega que durante quase todo o dia andava na rua a angariar e visitar clientes, pelo que não tinha muita confiança com ele, até porque estava na empresa há menos de 3 meses. Tocam à campainha, foram abrir a porta e entra uma mulher linda, alta, super elegante que sentou num dos sofás destinados ao público.
Não resisti e atirei ao meu colega, já viste a ganda mula que acabou de entrar? A resposta do meu colega foi educada, acompanhada de um sorriso - É a minha mulher!