História de um aprendiz de agricultor - Psila-Africana
Vagueando
Quando os meus avós faleceram herdei um terreno no Algarve com cerca de 100 laranjeiras. Como morava a 300 km de distância e não queria deixar a coisa ao abandono, arrendei o laranjal.
A coisa correu mal.
Não obstante, não desisti e, no ano seguinte, fiz uma ronda pelas cooperativas da região, com a seguinte proposta;
- Tratam, apanham, vendem e só me pagam o custo anual da electricidade consumida para a rega que era totalmente automática. De salientar que no inverno, altura em que não consumia nenhuma energia, a EDP cobrava-me sempre o aluguer do contador, pelo que os custos eram elevados, para rendimento zero.
A resposta de 4 cooperativas foi, não estamos interessados, é pouco, não tem dimensão para explorarmos. (E eu que pensava que as cooperativas serviam para juntar interesses e prestar ajuda aos associados)
Morreram, por falta de água, todas as laranjeiras.
O meu pai, falecido em 2012, que tinha como hobby a agricultura e percebia da coisa, plantou no meu quintal, 3 limoeiros, uma laranjeira e uma tangerineira, que produziram sempre muito bem até 2018. Nesse ano comecei a ver as folhas a definhar e mirrar.
Como não percebia e não percebo nada do assunto, levei umas folhas a uma cooperativa agrícola da minha zona que me informou tratar-se de psila-africana. Perguntei logo como se trata? É difícil, é uma praga de declaração obrigatória ao Ministério da Agricultura, é obrigatório tratar, tem que fazer uma poda radical aos ramos afectados, não os pode deitar fora nem colocar no lixo e tem de aplicar o produto xxx e produto yyy .
Não consegui comprar os produtos, por não tenho cartão de aplicador de produtos fitossanitários e os ramos, mesmo que os cortasse, não os podia queimar, porque era Verão!
No ano seguinte, com as árvores em pior estado fui pesquisar sobre a praga e fiquei a saber que o Ministério da Agricultura referia que, apesar de todas as medidas implementadas, a praga Trioza erytreae (ou Psila-Africana dos Citrinos) estava a expandir-se no Centro do País. Este insecto, foi detectado pela primeira vez no território nacional em 2014. Acrescentava ainda o Ministério que estava a decorrer um programa de luta biológica, com recurso a um insecto parasitoide específico, num trabalho conjunto e articulado entre as autoridades fitossanitárias portuguesas e espanholas.
Comecei a estar atento aos sinais dos limoeiros e laranjeiras e verifiquei que na zona onde vivo e arredores mais afastados a praga instalou-se e já há árvores completamente atacadas, ou seja em vias de morrer.
Em desespero de causa, a minha esperança virou-se para as associações de ambientalistas, pelo que fui ao Google e pesquisei “ambientalistas psila africana”.
Surpreendentemente, aparece muita coisa sobre a psila africana mas nada que ligue os ambientalistas à mesma, ou seja, nem conselhos, nem indignações, nem propostas, nem pedidos de esclarecimento ao Ministério da Agricultura.
Movido pela curiosidade, porque normalmente os ambientalistas preocupam-se muito com árvores em perigo, voltei a fazer nova pesquisa “ambientalistas e abate de árvores”.
Bingo!
Muitos resultados;
- Ambientalistas contra abate de árvores em Sintra (Logo eu que sou de Sintra)
- Ambientalistas constestam abate de árvores no Tua.
- Quercus critica abate de árvores.
- Quercus constesta abate de árvores junto …. E por aí fora.
Continuando curioso, nova pesquisa “ambientalistas poda de árvores”
Bingo!
- Organização ambientalista FAPAS constesta poda excessiva de árvore
- Quercus – Podas abusivas e/ou abate infundado de árvores em espaço urbano são um problema ambiental em destaque no distrito da Guarda
- Quercus – Câmara de Tondela acusada de fazer podas de árvores fora de prazo e por aí fora.
Ora adoptando a velha máxima do o que não está na Internet, nomeadamente no Google, não existe, concluo que embora a psila africana existe, mata árvores, é uma praga de difícil controlo, mas não é uma causa, nem preocupação para os ambientalistas.
Mas que raio de ambientalistas são estes? Defendem a natureza ou apenas aquela natureza que lhes dá visibilidade e publicidade?
Não precisam de responder, mas perderam um aliado.
“A imagem acima mostra o que acontece à ramagem das árvores atacadas por esta praga”. Pode ser que a Sapo ache que isto merece destaque, por isso junto aqui chocolate, porque li uma vez que a equipa da Sapo Blogs é muito sensível ao chocolate.