O Sol, a que chamam astro-rei, tem o poder de nos aquecer e iluminar. Contudo, não tem a capacidade de escolher o que aquecer e iluminar.
Cabe à Terra, com o seu movimento de rotação e trasladação, decidir onde e quando o Sol ilumina e aquece. Para além disso, o Sol ainda está limitado na sua acção, pelas nuvens, pelas montanhas, pelo nevoeiro, pelas florestas.
Mas o Sol, não fosse ele o Astro Rei, tem gostos e simpatias e, notícia em primeira mão, confirmada pelo fact-check, o Sol gosta muito de Sintra.
Sintra não é fácil de se deixar ver, quer a turistas, quer ao próprio Sol, gosta de se esconder por baixo do nevoeiro. Até para mim, que aqui resido há 63 anos, quando está nevoeiro, tenho muita dificuldade em ver o portão da minha casa, quanto mais ver a Serra, os monumentos e os jardins.
Se o astro rei fosse dotado de movimento próprio, estacionava em Sintra. E quando resolvesse dar uma volta, passava rapidamente pelo país do sol nascente, apenas para cumprir o protocolo e vinha deitar-se junto ao mar, logo após se despedir do fim geográfico da Europa (convém referir para não se confundir com o fim político e social da mesma) e ficaria ali, eternamente, a contemplar Sintra, a sua serra, os seus palácios e o castelo.
O Sol deitado no mar, sem nevoeiro, deslumbra-se com tanta beleza e cor. A sua luz entra pelas janelas dos palácios criando sombras fantasmagóricas que não vê mas imagina.
Ao fim de tantos séculos a passar por aqui, ainda não conseguiu perceber se a beleza, a cor, a nitidez, deriva da sua própria luz ou se da reflexão da mesma na serra e nos seus monumentos.
A Terra não lhe concede tempo extra, continua no seu movimento imperturbável. O Sol, por vezes, em jeito de agradecimento, pela ausência de nevoeiro, deixa ver, por breves instantes o raio verde, mesmo onde o mar e o céu se juntam mas não se confundem.
Gostaria de dizer ao Sol que, mesmo com a sua luz filtrada pelo nevoeiro ou mesmo de noite, Sintra continua bela e tenho pena que o Sol nunca consiga ver a sua beleza nestas alturas.
Quem sabe, um dia, o Sol, possa reinventar-se e passar por cá uma noite destas, sem dar nas vistas - afinal há países onde o Sol passa por lá à meia-noite - para ver que mesmo sem a sua luz e o seu calor, Sintra continua bela e propícia ao amor.
Para que não me acusem de mentir, coisa que já fiz aqui https://classeaparte.blogs.sapo.pt/mentira-16889 deixo, no link abaixo, algumas imagens de Sintra, da sua serra e dos seus palácios onde fica evidente que o Sol e o nevoeiro têm um especial apego a esta maravilhosa e misteriosa vila.
https://photos.app.goo.gl/gmEXqwchQejoWoEy5