O futebol em fora de jogo
Vagueando
Depois dos nove centímetros aqui estou eu de novo, que não percebo peva de futebol, nem sequer sou grande apreciador, a falar novamente de uma situação que se relaciona com futebol. Ou melhor, não se relaciona nada com futebol enquanto jogo jogado (desportivamente), mas com um beijo na boca nos festejos da final do campeonato mundial de futebol feminino, em que ambas as bocas tinham acabado de vencer o campeonato.
Ao que parece e repito ao que parece, porque hoje tudo o que se vê em filme ou em imagem pode ser tudo menos o que se vê, o presidente da Federação Espanhola de Futebol, beijou a jogadora Jenni Hermoso na boca.
A questão de dar um beijo na boca a uma mulher tem muito que se lhe diga e como enquanto se beija não se fala, por isso o “diga” na frase pode estar um bocadinho transviado. Contudo, a discussão em torno dos festejos e do beijo, resvalou para a praça pública, quer dizer para a tourada (se calhar o termo também não encaixa bem) das redes sociais.
Claro que não vou tomar partido por ninguém, porque ao que parece, repito ao que parece, o beijo partiu a loiça toda mas ninguém anda a apanhar os cacos, anda sim a servir-se deles para os ir atirando aqui e ali, num claro gesto de imundice e até de falta de respeito pelo ambiente, porque podiam apanhá-los, separá-los e depositá-los nos ecopontos.
Daí que este ror de cacos degenerou numa cacofonia que pretendem que chegue a sinfonia mas a orquestra e os vários maestros, não se entendem pelo que ficamos apenas só com os cacos, em bruto.
Recolhi algumas amostras de cacos espalhados e vou tentar ordená-los por ordem cronológica, mas como sabem, os cacos são como um puzzle, nem sempre é possível reconstrui-los pela ordem lógica.
Caco número 1- Jenni Hermoso reaje ao beijo dizendo que foi um gesto de gratidão, o presidente e eu temos uma grande relação. Se gostei do beijo, não gostei, mas o que é que eu podia fazer?
Caco número 2 – A Federação terá falsificado as declarações da jogadora reveladas no caco número 1.Caramba, mas a mulher não falou para ninguém, ninguém gravou o que ela disse, naquele momento.
Caco número 3 – Associação de mulheres Juízas de Espanha pedem demissão do presidente, assim sumariamente, sem julgamento, sem as provas serem validadas. Será que a Associação de Homens Juízes de Espanha vai exigir a condecoração do Presidente? O primeiro Ministro ainda em exercício, Pedro Sanchez considera o beijo um gesto inaceitável, diz isso porque não conhece o nosso Presidente da Repúblcia e o seu entusiasmo beijoqueiro. Tivesse a nossa equipa sido campeã nem consigo imaginar o que teria acontecido.
Caco número 4 – FIFA abre um inqérito ao comportamento do Presidente da Federação, Luis Rubiales . A FIFA alega que pode estar em causa a prática de violações dos artigos 13.1 e 13.2 do Código Disciplinar. Então e só abre um processo 4 dias depois da ocorrência. Onde andavam os delegados da FIFA, não fizeram logo um relatório, não viram nada, andavam também aos beijos? Ou a FIFA foi "empurrada" para ir na onda do protesto ?
O que me faz confusão nestes cacos são as cambalhotas que foram dadas, depois de a jogadora ter alegadamente desvalorizado o caso do alegado beijo na boca. Já agora pode-se discutir se o beijo teve direito a linguado, se foi amoroso, conquistador, cinematográfico, pornográfico, ou se o próprio futebol se tornou pornográfico.
Mas o importante aqui não será sequer o beijo (desvalorizado ou valorizado) mas a importância que o ato tem para a causa das mulheres contra o machismo (que obviamente não é de somenos importância) e portanto o que interessa, muito mais que a intenção de beijar ou o libertar de uma emoção é a punição do Presidente que cometeu um crime odioso à frente de milhões de pessoas.
Já agora para que conste, se a questão são os beijos na boca, indignem-se lá com mais estes beijos. E tu FIFA, põe-te a pau, porque qualquer dia vais ter que abrir mais uns inquéritos também para estes beijos passados. É o que o novo moralismo e puritanismo estão imparáveis e não admitem foras de jogo.
O futebol que é um desporto que gera emoções brutais, em especial para quem ganha ou está envolvido na conquista de um campeonato mundial, está a montar um circo à sua volta em que, qualquer dia, se não é o que já está a acontecer, discute-se mais as polémicas fora de campo do que a beleza e arte de jogar futebol.