Recorro à primeira letra do alfabeto para a colocar no início da palavra aéreo. A primeira letra do alfabeto inicia a palavra que se refere ao último grande meio de transporte a ser inventado.
Os últimos são os primeiros e, neste caso, é bem verdade.
O Comboio, o Barco a Vapor, o Automóvel surgem por volta de 1800, mas o avião só aparece no Século passado, em 1903 pela mão dos irmãos Wright e por Santos Dumont, já em 1906. Em 1926 deu-se início à aviação comercial. Nasci 31 anos depois, cedo fiquei fascinado por voar e tive a oportunidade de desfrutar de forma pessoal e profissional do boom do transporte aéreo.
Voar passou a ser o meio de transporte mais rápido e seguro de nos deslocarmos. Voar passou a ser também a mais bela forma de viajar. Voar, mesmo para quem usa muito o avião, continua a ser, ainda hoje, uma certa forma de aventura. Voar é, em suma, deixar de ter os pés bem assentes na terra e andar de cabeça no ar.
O meu primeiro voo foi entre Lisboa e o Funchal, na TAP, Boeing 727, entrava-se pela traseira, numa altura em que a pista só tinha 1,6 km de comprimento, aquilo parecia mais uma pequena estrada do que uma pista. Lembro-me perfeitamente de ver a pista antes de aterrar, tão pequena que me pareceu a minha régua de liceu, assente ali no morro de Santa Catarina. Esta pista foi o que se atamancou para ligar, por via aérea, o Continente à ilha da Madeira, tendo o aeroporto sido inaugurado em 1964.
Contudo, a primeira aterragem experimental de um avião na Ilha da Madeira, ocorreu em 1957, justamente o ano em que nasci.
A partir daqui, recordo-me sempre que voo, a frase de Leonardo Da Vinci – Uma vez que tenha experimentado voar, passará a andar pela terra com os seus olhos voltados para o céu, pois já lá esteve e desejará voltar.
No que toca a voar, pode até ser daqui para fora, mas sem nunca perder a vontade de voltar, andei a vaguear pela internet e descobri outras frases interessantes, sobre o tema, pelo que farei referência a algumas neste post.
A romancista brasileira, Tati Bernardi, deixa uma questão muito interessante sobre o medo de voar, perguntando – É mais corajoso quem não tem medo de voar pelo Mundo ou quem aguenta ficar dentro de si? Eu diria que a única coragem de que se precisa para voar é para fazer o percurso de carro até ao aeroporto.
Quando se voa, seja num avião comercial, numa avioneta, num planador ou num helicóptero – falta-me um voo de balão - desfrutamos de imagens irrepetíveis, de vistas deslumbrantes, de sensações únicas e desafiantes, não temos olhos que cheguem para tanta beleza nem cérebro capaz de assimilar tudo o que vê, nem memória que chegue para armazenar tudo o que vimos.
Felizmente, para as questões de memória, há a fotografia.
Caio Fernando Abreu, jornalista e dramaturgo brasileiro referiu – Quando os corpos se tocam as mentes conseguem voar para mais longe que o horizonte.
Quando se voa não estamos para lá do horizonte mas temos muito mais horizonte para desfrutar. Uma pessoa com 1,7 metros de altura conseguirá ter, ao nível do mar, por exemplo na praia, uma visão de quase 5km até à linha do horizonte. Essa mesma pessoa conseguirá, num avião a 33 mil pés, cerca de 10 mil metros de altitude, ter uma visão de cerca de 350 km até ao horizonte. Um pouco acima já consegue vislumbrar, ligeiramente a curvatura da terra. Um boa experiência para os terraplanistas viajarem de avião.
Por outro lado é interessante verificar que a curvatura da terra implica que os aviões não percorram uma linha recta entre o ponto de partida e o ponto de chegada mas sim, a distância ortodrómica. Podem experimentar este site, https://es.distance.to/ usando, por exemplo, a rota entre Lisboa e Tóquio. A distância ortodrómica é de 11.148 km e a rota de avião, como podem comprovar não é a linha recta que une as duas cidades, traçada num simples mapa plano.
Espero que tenham gostado deste voo e que pensem como Clarice Lispector e Filipe Ret que afirmaram, respectivamente; •
- Você até pode empurrar-me de um penhasco que eu vou dizer; Eu adoro voar. •
- O medo de cair não pode ser maior que a paixão de voar.
As mihas fotos obtidas a partir de alguns do meus voos e de locais onde cheguei de avião e também de outros voos, no link abaixo;
https://photos.app.goo.gl/32Fo7WnPQUkfsQT69
Lembrem-se de Rita Apoena – A poeira é só a vontade que o chão tem de voar. Sem dúvida que até o chão gosta de voar.
Subscrevo inteiramente o pensamento de Verônica Heiss que não aceita ter nascido num mundo tão grande e conhecer apenas uma pequena parte e termino com Alejandro Jodorowsky – Pássaros criados em gaiola, acreditam que voar é uma doença.
No meio desta doença, uma terrível pandemia que nos atormenta e nos tolhe, estamos cada vez mais na gaiola e cada vez menos a voar, a desfrutar e a observar.
Espero que gostem, das fotos e desejo-vos bons e muitos voos.