De Cintra a Sintra
Vagueando
Da grafia Cintra à designação Sintra atravessaram-se 4 séculos. No princípio do Século XVII usava-se Cintra. 109 anos depois, com a Revisão ortográfica de 1911, passou a usar-se o S em vez do C.
Sintra do Monte da Lua, vê hoje o seu centro despido de gente, de som, de alegria, de animação, de vida. A vida que existe não se manifesta, não se vê, está escondida, confinada em casa. São poucos os habitantes que sobraram nas casas existentes, dado que muitas já estavam abandonadas antes do crescimento brutal do turismo, foram recuperadas para alojamento local.
Do apinhado de gente que diariamente enchia, melhor que apinhava ruas, ruelas, becos, passagens, trilhos, palácios, castelo, restaurantes e cafés, que esgotavam queijadas e travesseiros, tudo desapareceu, incluindo as queijadas e os travesseiros. Foi uma aterragem de emergência em que os passageiros se salvaram mas desapareceram misteriosamente, não sei se a coberto do nevoeiro tão habitual em Sintra.
Não há residentes no centro de Sintra que justifiquem um take away aberto, não há nada. Não há sintrenses, não há o travesseiro ou a queijada. Não é Sintra, é não sinta, nada.
Das estradas e ruas apinhadas onde não se respirava nem andava por falta de espaço hoje não se anda nem se respira (a ansiedade também cria falta de ar) por falta de gente e porque os residentes, quando saem para passear o seu animal de estimação, fazer um pouco de exercício ou ir às compras, são tão poucos para o espaço existente.
As estradas outrora perigosamente congestionadas por excesso de carros, autocarros e veículos de animação turística, deram lugar a espaços enormes por onde nada circula a não ser o ar que ninguém quer respirar, até porque nesta época, para além do vírus, junta-se o malfadado pólen dos plátanos.
Ontem ao dar uma volta, à volta de casa, em estrito cumprimento do estado de emergência, vi menos de meia dúzia de pessoas, ainda bem, está em causa o bem de todos. Pela primeira vez desde que me encontro em casa, pensei que estava a sonhar, com a cabeça na Lua ou no Monte da Lua sem cabeça para pensar, que apesar de morto a minha alma pensava que estava vivo ou, apesar de estar vivo, pensava que estava morto e que me tinha calhado em sorte tão imenso paraíso.
Ao encontrar um velhinho painel de azulejos com a designação de S. Pedro de Cintra, fiquei mais confuso ainda, tinha viajado no tempo, até ao Século XVII.
Espantado olhei para os trajes e constatei que, de acordo com o que aprendi na História, estava mesmo em Cintra.
Recomposto da agradável surpresa e livre do virus, lembrei-me logo; Se em 1985 Michael J. Fox consegui ir ao passado e regressar ao futuro, também eu conseguirei regressar a Sintra após Covid 19 se ir embora. Mesmo em Cintra a esperança é a última coisa a morrer, para o bem de todos.
No link abaixo encontrão as fotos.
https://photos.app.goo.gl/dtermW1SeuXLvULW6