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Generalidades

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02
Jun23

Soco da EMEL


Vagueando

Declaração de (não de interesses) mas de cidadão – Só conheço o caso da alegada agressão a um cidadão por fiscais da EMEL pelo li nos jornais.

Não posso deixar de lamentar que este(s) colaborador(es) da EMEL tenham agredido um cidadão.

A justiça nestes casos não costuma falhar nos julgamentos que faz, esperemos então por essa parte. Desejo as rápidas melhoras ao cidadão agredido.

O que me interessa agora  é o objectivo da EMEL, o cumprimento do Código da Estrada e o que se exige a estes funcionários de uma empresa municipal.

A EMEL (segundo a própria) tem como missão a gestão da mobilidade e do estacionamento em Lisboa, através da gestão e fiscalização de lugares na via pública, de parques e de Bairros Históricos. Presumo e estranho que não conste da Missão que esta gestão terá em conta as regras do Código da Estrada e a segurança do cidadão.

Considerando os pressupostos em causa, não deveriam os seus funcionários ser premiados consoante o maior ou menor número de multas que emitem. Contudo, há muito que a opinião pública vem defendendo que a meritocracia e os prémios que lhes estão associados devem ser  premiados, se atingidos os objetivos traçados, tal como se exige nas empresas privadas. A EMEL aproveita a boleia para definir objetivos quantitativos (monetariamente falando) que são o melhor dos dois mundos, arrecada-se mais receita e premeia-se quem a ajuda a obter, desvirtuando assim o necessário bom senso que deveria pautar um serviço desta natureza.

O que está em causa é a boa gestão do estacionamento no espaço público de modo a que possa ser utilizado em rotatividade, assegurando-se que estes lugares de estacionamento oferecem espaço suficiente, segurança, não causam embaraço ao trânsito e cumprem com o preconizado pelo Código da Estrada. Em 2018 abordei o assunto aqui em PPP-P

Já confrontei a EMEL com a exploração lugares de estacionamento  em contravenção com o Código da Estrada que, honra lhes seja feita, os removeram.

É incompreensível que para além dos prémios para quem emite mais multas, se deixe de fiscalizar (ou se fiscalize muito menos) os restantes espaços onde sendo proibido estacionar, se estaciona. E, pior, se estaciona, causando risco para automobilistas e peões, causando congestionamento do tráfego. Dou apenas dois exemplos; estacionamento em cima de passeios e passadeiras de peões e em segunda fila.

O zelo ou seu excesso, em multar carros aparentemente bem estacionados cuja infração é não pagar um lugar de estacionamento, parece-me bem menos grave do que o estacionamento em cima do passeio ou em segunda fila. O curioso é que até a própria EMEL estaciona as suas carrinhas com bloqueadores, em segunda fila para autuar e bloquear os tais carros bem estacionados mas que não pagaram o estacionamento.

Uma palavra final para quem estaciona mal, ao arrepio das regras do Código da Estrada e liga os quatro piscas como se isso fosse um salvo-conduto para o estacionamento abusivo. Os quatro piscas só podem ser usados em situações de emergência e não para informar terceiros que se deixou o carro mal parado, de forma consciente. Consigo entender que se fique dentro de um veículo (desde que não estorve a circulação) à espera de alguém por uns minutos, mas não consigo entender que se ligue os quatros piscas para o efeito.

Afinal estamos num país em que frequentemente se fala em caça à multa, para justificar o injustificável e também estamos no mesmo país em que nos gabamos de sermos multados fora de portas, justificando que lá é mesmo a sério, seriedade que não aceitamos, infelizmente, em Portugal.

10
Jan19

Complicar ou inovar, eis a questão.


Vagueando

Disco.jpgSinal (2).jpg

O meu primeiro carro foi um boguinhas de cor verde, conhecido por Carocha, ou seja VW 1200, matrícula GF-38 qualquer coisa. Ano de nascimento 1960, tudo muito simples, duas portas, um porta bagagens à frente, onde se encontrava também o depósito de gasolina normal, motor atrás ainda mais simples que a simplicidade do carro e nada de cintos de segurança. Apenas duas fechaduras, uma para a porta do condutor, outra para a tampa do compartimento do motor.

Tudo era fácil. No tablier só se encontravam três botões, um para o limpa vidros (só de uma velocidade, lenta por sinal) e o dos faróis, que, com duas posições, ligava os mínimos e estes mais os médios. O botão que alternava entre os médios e os máximos era um pequeno interruptor accionado pelo pé esquerdo, que estava ao lado do pedal da embraiagem. Os faróis alimentados por uma bateria de 6V, montada debaixo do banco traseiro, eram tão fracos que muitas vezes saia do carro para confirmar se estavam mesmo ligados. O terceiro botão, servia para puxar um cabo que fechava a entrada de ar no carburador e assim facilitava o arranque do motor a frio. Após o motor arrancar, esperava-se uns segundos, empurrava-se aquilo para dentro e toca a andar.

O painel de instrumentos era composto apenas e só por um velocímetro com 4 luzinhas, uma azul que indicava máximos ligados, uma vermelha que era sinal de motor quente (nunca acendeu), uma amarela que indicava problemas de carregamento da bateria e uma verde que indicava se o pisca estava a funcionar. Nada de Auto Rádio porque, para 6V, também rareavam na altura e eram caros.

Indicador do nível da gasolina nem pensar, muito menos o botãozinho mágico que liga os 4 piscas ao mesmo tempo. Nem sem como seria a vida dos portugueses sem esta grande invenção da indústria automóvel, que tanto jeito dá para largar o carro de qualquer maneira, vai-se tomar um café ou, sei lá, fumar uma cigarrada ou estaciona-se em cima do passeio ou da passadeira de peões.

O motor não precisava de água, tinha um pequeno radiador que arrefecia o óleo de lubrificação, cujo arrefecimento era assegurado com o ar que era forçado, pelo próprio motor, em direção do referido radiador.

Essas coisas de desembaciador do vidro e chauffage eram coisas assim um bocado supérfluas e esquisitas, o sistema de desembaciar o vidro da frente era mais embaciador, pelo que no meio dos bancos da frente andavam sempre umas folhas do jornal O Século para esfregar o vidro nos dias de chuva e chauffage nunca se ligava porque era necessário dar muitas voltas a uma torneira (leram bem era mesmo uma torneira) que existia ao lado do travão de mão e quando se chegava ao fim, o pouco calor que entrava no habitáculo era acompanhado de um forte cheiro a óleo.

Só falta falar dos travões, de tambor às quatro rodas, com bomba hidráulica central, que, curiosamente, já dispunham de ABS, não como o conhecem hoje mas era um ABS muito especial porque quando se travava o carro Abrandava Basicamente Solto.

Eram tempos de contas de cabeça, pois a malta como não tinha indicador de gasolina atestava o depósito e depois era só fazer as contas aos quilómetros que se conseguia percorrer sem voltar à bomba. Como também não havia contador parcial dos quilómetros ou se os memorizava ou se apontavam num papelinho ou, pura e simplesmente, ficava-se sem gasolina.

Quando se andava de cabeça perdida usava-se um ferro, que também servia para fazer subir o macaco. Colocava-se, à vertical, dentro do depósito e a parte que ficava molhada, correspondia à gasolina lá existia. Não era uma medida expressa em litros mas sim em mais ou menos.

Vem esta lenga lenga a propósito de quê? Pois bem para falar do que foi transformar as coisas simples em coisas complicadas e, pior que isso, apelidar essa transformação de inovação quando lhe deveriam, justamente, chamar, complicação.

Com o aumento do número de carros em circulação o estacionamento, em especial nas grandes cidades começou a ser um problema.

Neste sentido, para facilitar a vida a todos, dentro das cidades, criou-se umas zonas de estacionamento com duração limitada. Essas zonas eram conhecidas por “Zona Azul”.

Para se estacionar nestas zonas era obrigatório possuir um Disco de Fiscalização que eram aprovados pelas Câmaras Municipais.

O procedimento não podia ser mais simples. Quando se estacionava nesses locais, marcava-se a hora de chegada no disco e, nesse mesmo disco, ficava logo indicada a hora até à qual o estacionamento estava autorizado. Tão simples, nada de moedas, nada de trocos, nada de ir ao parquímetro, nada de apps, nada de cartões pré comprados, apenas e só um disco que durava toda a vida, ainda por cima era gratuito, porque as próprias marcas de automóveis e outras empresas ofereciam-nos aos automobilistas.

Parece-me que o estacionamento à superfície nas cidades, deveria ser todo regulado desta forma porque se trata de espaço público que as Câmaras têm vindo, em meu entender, abusivamente, a ceder a Empresas Municipais de Estacionamento que fiscalizam ferozmente estes espaços, por vezes até exploram lugares em contravenção com o disposto no Código da Estrada, tudo em nome do NEGÓCIO. Lugares pagos só em parques de estacionamento construídos especificamente para o efeito.

A inovação é tão grande nesta área que até se esquece da complicação que este negócio trouxe às cidades e que consiste em perseguir-se os automobilistas que do ponto de vista da segurança e fluidez de tráfego (missão fundamental do Código da Estrada) têm os seus veículos bem estacionados, deixando impunes todos os outros que estacionam em cima do passeio, na faixa de rodagem, nas passadeiras de peões, a bloquear bocas de ataque a incêndios a bloquear saídas de garagens, ou seja, em clara contravenção com o Código da Estrada. E esta inversão de valores só acontece porque os automobilistas estão, cientes de que o risco de ser multado nestas condições é bem menor do que o risco de ser multado num lugar pago sem pagar. É o que se chama trabalhar-se para aumentar drasticamente o sentimento de impunidade.

Ironia das ironias até as carrinhas da EMEL estacionam na faixa de rodagem enquanto cumprem a sua missão de bloquear, multar e desbloquear.

Afinal o que queremos inovação ou complicação?

 

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