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Generalidades

Generalidades

25
Set25

Tudo está bem, mesmo que não acabe bem


Vagueando

Se há realidade que os portugueses conhecem bem é são os Espaços Comerciais das Grandes Superfícies, não só porque existem por todo o lado, mas também porque os usam diariamente para compras e para o passeio habitual em família, em especial aos fins-de-semana.

O que me traz aqui hoje não são estes espaços de lazer, de compras e de convívio, mas sim os seus parques de estacionamento.

É na utilização desta facilidade gratuita, com muitos lugares disponíveis, normalmente com espaço suficiente para estacionar qualquer veículo ligeiro, que vem ao de cima a forma como os portugueses demonstram a maior falta de respeito pelas regras de estacionamento, de segurança e de respeito para com todos os outros utilizadores destes espaços. Não está em causa apenas o incumprimento do Código da Estrada, naquilo que são as regras de estacionamento, mas sim a uma falta de respeito enorme por todos os outros utentes, nomeadamente para com os mais idosos, com crianças de colo e particularmente, para com os que, infelizmente, têm mobilidade reduzida.

É comum assistirmos ao estacionamento de veículos em lugares destinados a pessoas idosas, com crianças de colo e verificar que nenhum dos seus ocupantes pertencem a estas categorias ou, muito pior estacionar num lugar reservado a pessoas com deficiência, sem que sejam portadores do cartão obrigatório que dá acesso as estes lugares o que, para além da multa, constitui uma infração grave e retira dois pontos da carta de condução.

Mas há mais.

Mesmo com lugares de parqueamento disponíveis, estacionar fora dos lugares devidamente marcados, por exemplo ocupando parte da via destinada a assegurar a circulação de veículos dentro destes parques também é comum, mesmo que lá esteja de forma bem evidente a proibição de estacionar, quer através da sinalização vertical, quer através da pintura do pavimento.

Nada disto parece preocupar, os que não cumprem, mas também os cumprem. Afinal, todos eles, por força destes abusos ficam sujeitos a paragens desnecessárias e, essencialmente, todos os que frequentam e trabalham nestes espaços vêm a sua segurança reduzida.

Em suma, gostamos da bandalheira, embora andemos sempre a gritar que isto e aquilo deveria ser crime, em especial se for contra a figuras públicas.

Nas diversas conversas que tenho tido com funcionários destes espaços, fiquei a saber que existem regulamentos destinados a prevenir estes abusos e que alegadamente são cumpridos mas que, objectivamente, não servem para nada.

Limitam-se a colocar uns avisos a informar o condutor que o veículo está mal estacionado (eu pessoalmente nunca vi nenhum carro com estes avisos) mas não existe mais nada que possam fazer, nem estes espaços, possuem um sistema sonoro que permita alertar o condutor para retirar o carro do local onde se encontra.

Por outro lado, as competências destes espaços, também não permitem que possam, por sua iniciativa rebocar estes veículos (que seria a forma mais justa de resolver este problema) e as autoridades também não têm competência para fiscalizar, multar e rebocar, uma vez que se trata de um espaço privado.

Perfeito, não se passa nada, é a vida!

Em suma, todos os planos de segurança que foram aprovados antes do espaço abrir, estão de acordo (presumo) com os regulamentos de segurança previstos na lei, estes espaços transferiram para os seus regulamentos internos os procedimentos a adoptar e adoptam-nos e por fim, as autoridades estão a cumprir com a lei, que não lhes permite actuar, nestas situações em espaço privado.

Contudo, em caso de incumprimento, ninguém pode fazer nada, há que aguentar.

E assim acontece (era o nome do programa de Carlos Pinto Coelho na RTP de 1994 a 2003) neste país em que tudo está bem, de acordo com a lei e com as melhores práticas, mesmo que não se cumpra nada.

A culpa, também pode morrer solteira quando é o cidadão comum a não cumprir com os seus deveres.

Estranha forma de vida!

25
Jul25

A História (infelizmente) repete-se como tragédia de dimensões dantescas


Vagueando

Participação no Desafio 1 foto 1 texto de IMSilva

Vai fazer amanhã dois anos que este desafio foi lançado. Creio que não falhei nenhum, ainda que tenha falhado claramente a numeração que lhes fui atribuindo no segundo ano, daí que abandonei essa prática.

Não sei se poderei continuar a ser assíduo nas publicações semanais e considero que o tema que me traz aqui hoje, não é certamente a melhor forma de celebrar um aniversário.

Daí que a(s) foto(s) de hoje não seja(m) publicada(s) em imagem; primeiro porque não são da minha autoria, segundo porque são chocantes.

Deixo-as em link, aqui.

Não esperava voltar a ver imagens semelhantes às que ao longo do tempo nos foram mostradas sobre o Holocausto, muito menos quando elas se relacionam com crianças que, obviamente não são terroristas e muito menos quando elas ocorrem num mundo supostamente mais justo, supostamente mais regrado, supostamente com leis que refletem a aprendizagem do passado, para proteger o futuro e supostamente quando a riqueza atingiu (para alguns poucos, bem certo) níveis estratosféricos. 

E muito menos esperava que as estas imagens, em Gaza,  fossem o resultado de aplicação de uma estratégia militar, com origem num povo que foi ele próprio uma vítima do Holocausto.

Enquanto há vida à esperança, talvez isto já não seja verdade. 

Estamos em guerra e ainda não percebemos, embora ela nos entre todos os dias no conforto das nossas casas, tendo sempre a hipótese de mudar de canal ou desligar a televisão.

A realidade não desparece nesse clique.

 

29
Abr25

Apagão e o renascimento dos anos 70


Vagueando

Ontem dia 28/04/2025, coloquei a bateria do meu velho UMM à carga, logo de manhã. Fi-lo, por hábito porque se trata de uma carro velho, quero dizer, antigo e que prezo (muito) por ser meu, por ter sido o carro onde o meu filho aprendeu a conduzir, por ser um carro português e porque, sendo velhinho, não anda todos os dias, pelo que a bateria não gosta de estar sem uso e por isso necessita de ser carregada de tempos a tempos.

É um processo ecológico, na medida em que, evita que a bateria vá para o lixo prematuramente.

Entretanto, pelas 11h e 30m sensívelmente, dá-se o apagão.

Não estranhei, a minha rua tem problemas crónicos de abastecimento de energia eléctrica, aos quais a ERedes, tem vindo a não resolver. Isto não é uma crítica, é um facto e como resido numa zona sensível de Sintra, devido à sua classificação como Património Mundial, as soluções para a resolução do problema não são fáceis de encontrar e por isso, são lentas.

Mas, pouco tempo depois do apagão, começou a instalar-se um silêncio estranho, parecia que estávamos de novo em pandemia. Poucos carros, poucas pessoas, silêncio.

Estranho!

Ligo o rádio do meu velho UMM e eis que o país estava sem energia, mas começava a estar em pânico.

Sai à rua, a pé, sinto o silêncio e constato a ausência de carros e de pessoas na rua.

Recordo a pandemia. No entanto na rua Dr Higino de Sousa, com cerca de 300m de comprimento e com menos trânsito do que é habitual encontrar em Sintra, algumas crianças jogam à bola e brincam em plena rua.

A falta de computadores, de redes sociais, de video jogos, de televisões, de telemóveis, de internet, fizeram renascer, aquela alegria dos anos 70 em que os "putos", brincavam na rua, no jardim, ao ar livre.

Só por esse fugaz momento, agradeço ao apagão e aos seus responsáveis.

25
Abr25

Peste Grisalha


Vagueando

Participação XXV, Ano II, no Desafio 1 foto 1 texto de IMSilva

 

“A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha.”

Não me interessa quem disse, quando disse, em que contexto, nem com que intenção. Já o que se passa no dia a dia, interessa-me e muito, face à hipocrisia que grassa na sociedade e quando falo da sociedade, refiro-me a todos, políticos e cidadãos.

Aos primeiros porque cabe-lhe dar o exemplo no cumprimento das regras e leis que aprovam. Aos segundos, porque lhes compete dar o exemplo aos outros, não usando os maus exemplos como desculpa para os praticar.

Cada vez que me dirijo a um espaço público, onde existem lugares reservado às pessoas indicadas na foto abaixo, vejo, recorrentemente, infelizmente, maus exemplos no utilização dada a estes lugares.

20250425_090443.jpg

Estes lugares, como facilmente se depreende pelas imagens, estão reservados a:

  • Pessoas com deficiência ou incapacidade;
  • Pessoas idosas;
  • Grávidas; e
  • Pessoas acompanhadas de crianças de colo.

Por tal facto, como é lógico, estes lugares estão mais perto das portas de acesso a estes espaços públicos.

Por comodismo, por falta de respeito, por hipocrisia ou por outra razão qualquer, estão frequentemente ocupados por pessoas que não se enquadram nas categorias acima e, muitas vezes, por jovens.

Jovens que se queixam de tudo e de todos, que defendem causas diversas, jovens que querem colocar a sua formação ao serviço do desenvolvimento do futuro deste ou de outro Pais, não terão falhado a formação cívica quando ocupam estes lugares?

27
Mar25

Um almoço em imagens


Vagueando

Participação XXII, Ano II, no Desafio 1 foto 1 texto de IMSilva

 

Esta semana estava a almoçar sozinho num restaurante no centro de Sintra onde costumo ir. Sentei-me num conjunto de duas mesas que totalizavam 4 lugares. Estamos uma zona turística ainda que nesta época não se assista a grandes enchentes, a metereologia também não tem ajudado, mas eis que entra um jovem casal asiático, com 4 crianças de idades muito próximas, quase diria que tinham nascido, tipo ninhada, todos no mesmo dia.

Um funcionário afastou uma das minhas mesas que se foi juntar a outro grupo de 2 mesas permitindo assim sentar as seis pessoas, dado que já não havia espaço paras os sentar todos juntos.

Não entendi peva do que diziam mas pareceram-me sempre muito divertidos. A partir daqui vou tentar explicar o que se passou, por ter achado curioso e que mostra bem como todos somos tão diferentes uns dos outros. Ainda que tenham feito os pedidos em inglês não me interessei por nada do que encomendaram, mas achei engraçado porque as mesas, postas com tudo alinhadinho, copos, pratos talheres, rapidamente entraram em desordem total e o desalinhamento não foi só "culpa" das crianças.

À medida que os pedidos vinham chegando, pensei que iam tomar tipo, uma bebida e uma sandocha, nada mais errado.

Veio uma sopa, um sumo de laranja, um cappuccino, uma coca cola, um café com leite, um copo de espumante, uma água, dois bolos que não percebi o que eram sendo que um tinha chocolate. A sopa foi divida entre o casal, mas não a comeram toda. As crianças, depenicavam os bolos enquanto bebericavam o sumo, o cappuccino, a coca-cola e o café com leite, mas sobrou um bom bocado do tal bolo com chocolate.

De seguida veio um bacalhau à brás, dois hamburgers com batata frita, um bitoque.

As crianças iam-se deleitando com os hambúrgueres e o bitoque, acompanhando com o cappuccino, o café com leite, o sumo e a coca cola. O Bacalhau à brás foi repartido pelo casal, ele acompanhando-o com o copo de espumante a esposa com a água, com o resto da sopa e espantosamente com o resto do bolo de chocolate.

Moral da história, esta é uma estória de outros hábitos alimentares, de outras pessoas, de outras culturas, mistura que foi genuinamente estranha para mim, em especial quando a senhora acompanhou o bacalhau à brás com o bolo que também tinha chocolate.

Mas havia muita vida, muita partilha, muita alegria naquela mesa e isto sim é o que deve ser a vida.

Sem críticas, sem qualquer tentativa de vir aqui expor de forma negativa esta refeição, até porque o casal e as crianças me pareceram sempre muito divertidos, tudo era estranho. Então quando a senhora começou a misturar o bacalhau à brás (prato que eu também estava comer) com o tal bolo que continha chocolate, até as entranhas se me revoltaram. Contudo, por decoro e respeito, coloquei-as na ordem e não estraguei nem o ambiente, nem o meu almoço, nem o almoço da família feliz.

E fica então a imagem do almoço.

20250327_184727.jpg

Não viram nada, ainda bem.

O objetivo era mesmo relatar o que vi, mas não mostrar nada. A imaginação,  a criação dos cenários, os retratos robots ficam a vosso cargo, mais que não seja para não me dar a conhecer, nem para faltar ao respeito  e à privacidade de cada membro daquela família.

Qualquer semelhança da foto, com o filme Branca de Neve de João César Monteiro é pura coincidência  

01
Dez24

Um conto de Natal ou algumas curiosidades de Natal


Vagueando

20241130_125256.jpg

O meu azevinho com mais de 50 anos

 

O António, quiçá espevitado pelas aulas de cidadania no primeiro ano do ensino básico, andava às voltas com o nascimento e da adoração ao menino Jesus e começou a interessar-se pelo Natal.

Não percebendo o porquê da grande correria às lojas, aproveitava as suas conversas com o avô, que tinha toda a paciência do Mundo para falar com ele sobre o Natal e disparou uma série de perguntas.

Avô porque já anda tudo atarefado com compras de Natal?

Porque temos por hábito trocar presentes nesta altura do ano?

Porque penduramos as meias na chaminé na noite de Natal?

Eh lá tanta pergunta, vamos lá isso, chega-te aqui para o pé de mim.

No início da civilização humana guardavam-se provisões para o Inverno que eram consumidas com muito cuidado. É que com o rigor dos Invernos, não havia forma de obter novos alimentos.

Com chegada da Primavera celebrava-se a passagem segura do Inverno e tirava-se a barriga de misérias, festejando com comida em abundância. Cada agricultor tinha as suas próprias reservas mas faziam-se celebrações em grupo nas pequenas povoações, trocando/oferecendo comida, podendo assim obter-se uma grande variedade de pratos.

O Cristianismo aproveitou-se desta celebração convertendo-a nas oferendas ao menino Jesus. Mais tarde esta prática foi adotada pelas famílias e amigos como forma de reforçar os laços sociais entre elas. É assim que nasce a troca de presentes entre famílias no Natal, razão pela as lojas já estão com muito movimento.

E o avô continuou, aquele receio da comida poder faltar no Inverno, afinal na altura não existiam mercearias nem supermercados as pessoas só comiam o que conseguiam cultivar e o que conseguiam caçar, também tem a ver com o Pai Natal.

Este começou por ser uma figura que o viquingues vestiam para representar o Inverno, figura essa que era recebida e adorada na esperança de que o Inverno fosse o mais suave possível. Mais tarde, esta figura tosca acabou por ser ligada a S. Nicolau, protetor de crianças e estas, em sinal de agradecimento, costumavam deixar às suas portas, comida para o seu cavalo. S. Nicolau, bondoso deixava-lhes doces.

Reza a lenda que o estalajadeiro de uma hospedaria, tinha por hábito fazer conservas de rapazinhos em vinagre que guardava dentro de barricas de salmoura, para depois servir aos clientes e que S. Nicolau salvou três rapazes da morte certa. A partir daí tornou-se um santo adorado pelas crianças, daí as ofertas ao seu cavalo e a retribuição de doces ás crianças o que só aumentou a sua popularidade.

S. Nicolau era uma figura tosca, muito popular na Holanda, era conhecido por Sinter Klaas. Os colonos holandeses chegaram à América no Século XVII, altura em que deram a conhecer a figura por aquelas bandas e a pronúncia americanizada acabou por derivar o nome de Santa Claus.

Não estás a ver uma figura tosca, criada pelos viquingues, vestir um fato vermelho como o Pai Natal usa hoje, pois não?

Mas o fato do Pai Natal não foi sempre assim avô?

Não. O fato do Pai Natal nasceu de uma acção de marketing, desculpa, de publicidade. Conheces a Coca Cola, uma marca que esteve proibida de se vender em Portugal antes da Revolução de Abril, mas que é muito popular no Estados Unidos da América?

Conheço, claro!

Bem então antes de te explicar a relação entre a Coca Cola e o fato do Pai Natal, deixa-me falar desta bebida em Portugal. Nos anos 20, esta bebida já circulava por alguns cafés mais seletos de Portugal. A marca queria entrar oficialmente no País e decidiu fazer uma campanha publicitária. Para tal contratou a única agência de publicidade em Portugal. A agência socorreu-se de Fernando Pessoa, na altura ainda não era o grande poeta que hoje conhecemos que resumiu a bebida numa frase interessante – Primeiro estranha-se depois entranha-se. Como em Portugal vigorava um regime fascista, liderado por António Salazar, que impedia a liberdade que hoje temos, o diretor de saúde de Salazar classificou o produto como uma espécie de droga, pelo que a bebida foi proibida.

Contudo, continuou a fazer sucesso na América.

Bom então a Coca Cola, nos anos 30, decide usar São Nicolau para fazer publicidade na América. A tal figura tosca que representava o Pai Natal pela forma como se vestia parecia um velhote bastante bêbado e isso não ligava nada com aquela bebida, tipo xarope açucarado.

Então a Coca Cola, contratou um artista americano, Haddon Sundblom para desenhar um fato para o Pai Natal. Dos vários desenhos, a Coca Cola escolheu aqueles que tinham as suas cores, vermelho e branco. A partir daí o fato do Pai Natal passou a ser o que conhecemos hoje, lá lá vão quase 100 anos.

O António com a curiosidade satisfeita preparava-se para se despedir do avô quando este lhe disse.

Então já vais?

É que falta responder porque se penduram as meias na véspera de Natal e ainda te queria falar de outra coisa.

Pois é avô tinha-me esquecido dessa.

As meias também têm a ver com S. Nicolau que pertencia a uma família abastada, Com a morte dos seus pais numa epidemia, ficou sozinho e muito rico. Como era bom cristão resolveu ajudar os mais pobres mas cedo percebeu que se ficassem a saber da sua grande fortuna seria pressionado por todo o tipo de vigaristas e parasitas pelo que resolveu ajudar de forma anónima, realizando os seus actos caritativos disfarçado.

Ficou a saber que um homem tinha perdido todo o seu dinheiro num mau negócio e que por isso ficou impossibilitado de dar dotes às suas filhas para se casarem, nem tão pouco conseguia mantê-las em casa por falta de sustento. A única alternativa que lhe restava era vendê-las para prostituição.

S.Nicolau resolveu agir. Passou pela casa do homem e atirou um bolsa cheia de ouro através da janela aberta do quarto de uma das filhas. No dia seguinte atirou outra bolsa de ouro pela janela da segunda filha. Intrigado, o homem escondeu-se debaixo da janela da terceira filha, apanhando S. Nicolau quando atirou outra bolsa de ouro.

S.Nicolau implorou-lhe que não contasse a ninguém as suas acções o que não foi cumprido.

Quando mais tarde esta história foi conhecida, veio a saber-se que uma das filhas tinha encontrado a bolsa de ouro dentro de uma das suas meias que estava a secar à janela, porque S. Nicolau tinha depositado a bolsa propositadamente dentro da meia em vez de a atirar para dentro da janela. E assim nasceu o costume de se pendurar meias na chaminé para que o Pai Natal deposite dentro delas as prendas para os meninos.Que giro avô.

Deixa-te estar aqui mais um pouco vou contar-te uma história que entristece o Natal e as suas celebrações. O António anichou-se no avô, entusiasmado com mais uma curiosidade.

O avô perguntou-lhe; Sabes que há famílias que proíbem os avós de ver os netos?

O António, estupefacto, dada a sua grande estima pelo seu avô e porque já havia perdido a avó, perguntou-lhe, porquê?

O avô, disse-lhe que embora conhecesse muitas histórias e curiosidades sobre o Natal, não tinha resposta para lhe dar.

O António, acrescentou que os pais deles nunca o impediriam de ver o avô e, mesmo que o fizessem ele viria sempre visita-lo e rematou, vou procurar saber porquê.

Meu neto escusas de procurar, o Mundo evoluiu tanto, já fala de Inteligência Artificial, capaz de resolver de forma rápida tantos problemas, mas ainda não resolveu o problema da estupidez humana.

As pessoas perderam a bondade, a compreensão e a gratidão, ao mesmo tempo adotaram e mantêm as celebrações, nomeadamente as do Natal, por puro espírito consumista, preferindo privar este relacionamento de tão grande importância para todos.

Curiosidades baseadas no livro Mistérios do Natal de Desmond Morris - Publicações Europa América - 1992, com a exceção da última parte do conto.

22
Out24

A reportagem de guerra, com anúncios


Vagueando

Hoje assisti no telejornal da SIC à filmagem de uma menina em Gaza que carrega às costas a sua irmã, atropelada por um carro, para que possa receber tratamento, sabe-se lá onde. 

Um jornalista filma a criança, notoriamente cansada, enquanto, durante mais de meio minuto vai lançando perguntas à criança que continua com a sua irmã às costas.  

Perante aquela máscara de sofrimento, pergunta-lhe  se não está cansada de a carregar assim. Como a resposta não sai logo, volta à carga, Estás cansada ou não?

Termina a reportagem com uma oferta; Vem. levo-te comigo, mas não a ajuda a carregar a irmã ferida.

À chegada, volta a filmar a criança, sem que lhe seja dada alguma ajuda para tirar a irmã do carro que volta a carrega-al ao colo.

A Sapo também destaca a reportagem, servindo-se das imagens da SIC que pode ver neste link Descalça na estrada, menina carrega às costas irmã ferida em Gaza.

Se se for ver o video, primeiro leva com um anúncio (oportunidade de negócio)  e depois pode assistir aos efeitos da guerra e por fim ao interrogatório do jornalista à criança, sem que em algum momento se lhe tenha sido prestada alguma ajuda para a aliviar do peso que carregava.

Não é só a guerra e a insensabilidade de quem a promove que não se preocupa com o impacto que provoca na vida das pessoas, nomeadamente nas crianças, o jornalismo não é melhor, se se rever neste tipo de reportagem.

 

 

19
Dez21

Aquele Natal foi diferente


Vagueando

Este era o seu primeiro Natal fora de casa, tinha 6 anos. Naquele ano, em vez dos seus avós se deslocarem a Sintra foi ele até ao Algarve.

Na altura a casa dos seus avós não tinha sequer uma estrada.  Ficava num outeiro, num escampado, longe de tudo. Depois de sair da estação de caminho-de-ferro tinha que se percorrer 12 km, sendo que 3 km ou se faziam a pé ou de carroça.

A casa não dispunha de água canalizada, apenas uma cisterna, nem de eletricidade. Aliás, num raio de 10 km as poucas casas existentes não tinham energia elétrica.

As noites eram escuras que nem um breu salvando-se as de lua cheia, cuja luz parecia tão mais forte do que é hoje. Os avós tinham um cão enorme, também conhecido por cão fantasma, o que ele era nestas noites de luar.

Não existia, nem se suspeitava que pudesse vir a existir aquilo a que hoje se chama poluição luminosa, muito menos se suspeitava que anos mais tarde, estaríamos dispostos a pagar para puder observar o céu sem a atual poluição luminosa, quando, naquela altura queríamos era fugir dali.

O céu era escuro, muito escuro, as constelações eram facilmente identificáveis, a estrela polar idem e o melhor de tudo, todos os dias as estrelas cadentes davam espetáculo.

E porque é que isto é um conto de Natal? Pois não sei!

Não havia Bimbys, não havia máquinas de lavar louça, nem roupa, não havia gás, não havia frigorífico. Não existiam supermercados nem lojas de conveniência nem pastelarias. Compras online ou a UBER Eats eram coisas que nem a ficção científica ainda tinha abordado, e as poucas mercearias existentes, eram a mais de 10km, fechavam aos Sábados à tarde e ao Domingo, pelo que preparar a refeição de Natal era uma tarefa logística gigantesca, o esquecimento de algum ingrediente deitava tudo por água abaixo.

Mas havia espírito de Natal, talvez por isso, isto seja um conto de Natal.

As mulheres passavam o dia a cozinhar a ceia. Para além disso faziam pão, biscoitos, fritos, rabanadas, fatias douradas, sonhos. Os homens ajudavam nas tarefas mais pesadas, como carregar os alguidares de barro cheios de massa, a qual amassavam com vigor, transportavam os tabuleiros de madeira cheios de pão, empilhavam lenha para o forno e para as lareiras. Para além disso limpavam os estábulos dos animais e alimentavam-nos. As crianças mais velhas, encarregavam-se de pôr a mesa, fazer pequenos recados e no fim secavam a louça que era colocada em armários de madeira rústica e tosca, cujas portas fechavam com fechos de aldraba.

Toda a gente trabalhava de forma solidária, a casa mais próxima era a 300m e a outra a 500m, sem estrada que as ligasse.

Ainda assim os preparativos de Natal eram feitos em conjunto, economia de escala. Várias panelas de ferro com 3 pernas eram postas ao lume em cima de brasas numa das casas, cozia-se couves, bacalhau, batatas, nabos, cenouras. Na outra casa, ateava-se fogo ao forno onde se cozia pão, dois ou três tabuleiros com cerca de 30 pães, esperavam para entrar para a cozedura e depois seguiam-se os perus para assar ao lado do polvo, que ia a este forno transformar-se em lagareiro. Na última casa, faziam-se as filhoses, os fritos e outros bolos à base de batata doce.

As crianças corriam de casa em casa, com um petromax  (lanterna a petróleo) na mão com que iluminavam a vereda (caminho de pé posto), para levar algo que estivesse a fazer falta e na hora de sair o pão do forno, um dos pães era grosseiramente partido à mão, molhado em azeite e açúcar ou seja uma tiborna, que eram repartidos e transportados pelas crianças às outras casas.

Ao principio da noite, depois de feita a distribuição da comida, cada família reunia-se na sua casa para celebrar o Jantar de Natal em grande alegria.

À meia-noite as mulheres pegavam nos seus terços, acompanhando a Missa do Galo pelos pequenos transístores (rádios de bolso a pilhas) e as crianças andavam de casa em casa a tentar descobrir em que chaminé tinha descido o Pai Natal para deixar as almejadas prendas.

Depois de correrem todas as casas, não encontraram nada, ficaram perplexas e zangadas pela falha do Pai Natal.

O avô entrou em cena, com aquela calma que caracterizava os avôs da época, levou-as ao telheiro onde também se cozinhava nas brasas e lá estavam as prendas, naquela chaminé cheia de fuligem do negro fumo da lenha, da muita lenha ardida ao longo do ano.

Desta vez o Pai Natal tinha deixado tudo cá fora, para por a criançada em polvorosa.

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