Tudo está bem, mesmo que não acabe bem
Vagueando
Se há realidade que os portugueses conhecem bem é são os Espaços Comerciais das Grandes Superfícies, não só porque existem por todo o lado, mas também porque os usam diariamente para compras e para o passeio habitual em família, em especial aos fins-de-semana.
O que me traz aqui hoje não são estes espaços de lazer, de compras e de convívio, mas sim os seus parques de estacionamento.
É na utilização desta facilidade gratuita, com muitos lugares disponíveis, normalmente com espaço suficiente para estacionar qualquer veículo ligeiro, que vem ao de cima a forma como os portugueses demonstram a maior falta de respeito pelas regras de estacionamento, de segurança e de respeito para com todos os outros utilizadores destes espaços. Não está em causa apenas o incumprimento do Código da Estrada, naquilo que são as regras de estacionamento, mas sim a uma falta de respeito enorme por todos os outros utentes, nomeadamente para com os mais idosos, com crianças de colo e particularmente, para com os que, infelizmente, têm mobilidade reduzida.
É comum assistirmos ao estacionamento de veículos em lugares destinados a pessoas idosas, com crianças de colo e verificar que nenhum dos seus ocupantes pertencem a estas categorias ou, muito pior estacionar num lugar reservado a pessoas com deficiência, sem que sejam portadores do cartão obrigatório que dá acesso as estes lugares o que, para além da multa, constitui uma infração grave e retira dois pontos da carta de condução.
Mas há mais.
Mesmo com lugares de parqueamento disponíveis, estacionar fora dos lugares devidamente marcados, por exemplo ocupando parte da via destinada a assegurar a circulação de veículos dentro destes parques também é comum, mesmo que lá esteja de forma bem evidente a proibição de estacionar, quer através da sinalização vertical, quer através da pintura do pavimento.
Nada disto parece preocupar, os que não cumprem, mas também os cumprem. Afinal, todos eles, por força destes abusos ficam sujeitos a paragens desnecessárias e, essencialmente, todos os que frequentam e trabalham nestes espaços vêm a sua segurança reduzida.
Em suma, gostamos da bandalheira, embora andemos sempre a gritar que isto e aquilo deveria ser crime, em especial se for contra a figuras públicas.
Nas diversas conversas que tenho tido com funcionários destes espaços, fiquei a saber que existem regulamentos destinados a prevenir estes abusos e que alegadamente são cumpridos mas que, objectivamente, não servem para nada.
Limitam-se a colocar uns avisos a informar o condutor que o veículo está mal estacionado (eu pessoalmente nunca vi nenhum carro com estes avisos) mas não existe mais nada que possam fazer, nem estes espaços, possuem um sistema sonoro que permita alertar o condutor para retirar o carro do local onde se encontra.
Por outro lado, as competências destes espaços, também não permitem que possam, por sua iniciativa rebocar estes veículos (que seria a forma mais justa de resolver este problema) e as autoridades também não têm competência para fiscalizar, multar e rebocar, uma vez que se trata de um espaço privado.
Perfeito, não se passa nada, é a vida!
Em suma, todos os planos de segurança que foram aprovados antes do espaço abrir, estão de acordo (presumo) com os regulamentos de segurança previstos na lei, estes espaços transferiram para os seus regulamentos internos os procedimentos a adoptar e adoptam-nos e por fim, as autoridades estão a cumprir com a lei, que não lhes permite actuar, nestas situações em espaço privado.
Contudo, em caso de incumprimento, ninguém pode fazer nada, há que aguentar.
E assim acontece (era o nome do programa de Carlos Pinto Coelho na RTP de 1994 a 2003) neste país em que tudo está bem, de acordo com a lei e com as melhores práticas, mesmo que não se cumpra nada.
A culpa, também pode morrer solteira quando é o cidadão comum a não cumprir com os seus deveres.
Estranha forma de vida!




