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Generalidades

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30
Mai24

Des(a)fiando Contos


Vagueando

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Quando me inciei nesta coisa dos blogs nunca me passou pela cabeça escrever o que já escrevi, até um dia em que publico um conto de Natal e recebo uma mensagem a perguntar-me se me importava que o conto fosse reunido num livro.

Ok, vamos a isso.

E assim pela primeira vez na vida, há sempre uma primeira vez para tudo, um conto (não contem a ninguém) meu foi compilado em livro.

Mais tarde, um segundo livro seria editado só que desta vez, os autores foram chamados a comparecer numa cerimónia na Ericeira, onde se conheceram, cara a cara, face to face para parecer modernaço.

E assim fiquei a conhecer pessoalmente alguns dos criadores de textos que aparecem aqui pelo Sapo blogs. Foi interessante, afinal a sociedade só ganha com isso, empatia, cooperação, amizade, nascem destes encontros, ainda que informais e sem direito a notícias em jornais.

Uma das pessoas que conheci foi o José da Xã que por coincidência privou com o filho de um médico, muito estimado em Sintra,  e com o qual tive consultas em criança,  (um dia destes dedico-lhe um post) e cujo nome serviu de toponímia à rua onde resido.

Este mundo é mesmo muito pequeno.

Ora o José da Xã resolveu lançar mais um livro e brindou-me com a oferta de um exemplar o que agradeço desde já e voltarei aqui para tecer os meus comentários quando o ler.

Fica feita a minha homenagem e agradecimento pelo livro Des(a)fiando Contos, com um grande abraço ao autor.

15
Ago20

Não sei


Vagueando

Ontem andei com uma estranha sensação, sentia vontade de escrever mas faltava inspiração.

Desisti, que se lixe, isto não é uma missão, nem sequer uma obrigação, muito menos uma ambição é apenas e só prazer, quanto se junta uma coisa com a outra, a gana de escrever e a inspiração.

Regressei à leitura do livro, já liberto do tormento que foi distrair-me dela.

Lia, o pensamento ora seguia o texto de forma mais pausada como a água que corre numa ria ou de forma mais rápida como a água de um rio contida nas margens ou até de forma mais agressiva como acontece quando a água explode para lá do seu curso habitual ou quando se despenha numa grande catarata, onde o som  da sua queda dá tranquilidade a toda aquela violência.

Estava de novo a sonhar e via, no texto que lia, por onde seguia.

O imaginário que a leitura de um livro nos permite, é o nosso melhor guia, de noite e dia. Sentado, sentia que naquela página que o meu dedo prendia, logo após a vírgula, a interrogação ou exclamação, era por ali que se seguia, sem mapa, sem norte, sem estrela polar, sem guia, sentia os sons das imagens que a leitura me transmitia.

Entretanto perdi-me no texto e na viagem que não terminou, fiquei preso nesta frase. “Nos tempos que correm, já não há Deus nem Diabo. Há só pobres e ricos. E salve-se quem puder.”

Esta frase, de Sophia de Mello Breyner Andresen, faz parte do conto “O Jantar do Bispo” do livro Contos Exemplares., publicado pela primeira vez em 1962.

Centrei-me no prefácio deste livro, da autoria de Federico Bertolazzi. Refere o Professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Roma, na 39 Edição destes contos, de Fevereiro de 2014 , que a primeira edição nasceu de uma urgência ditada pela imposição de condições sociais iníquas praticada pelo governo de Salazar que se mantinha no poder em virtude de uma estrutura piramidal da sociedade cujo efeito era o esmagamento das camadas mais baixas.

E o inaceitável, aos olhos da escritora, era o facto de Salazar afirmar que a sua política se baseava na doutrina católica.

A sociedade mundial está actualmente, perante um desafio épico.

Não sei se estamos perante um problema de saúde pública ou se perante uma campanha massiva de divulgação do medo que permita esmagar a liberdade, fazendo com que sejam as pessoas a exigir mudanças que levem à perda de direitos e pior, de liberdade, sim de liberdade.

Recordo-me da parábola escrita por Oscar Wilde sobre umas limalhas de ferro que viviam perto de um íman.

As limalhas mais jovens começaram a planear uma visita ao íman, o que era contrariado pelas limalhas mais velhas. À medida que a rebeldia das limalhas mais jovens crescia iam-se aproximando do íman que assistia, impávido e sereno aos planos destas. Dia após dia iam discutindo ao mesmo tempo que se aproximavam do íman. Até que um dia, já perto dele, foram atraídas pelo seu poder electromagnético.

Eufóricas por terem, finalmente, visitado o íman, nem se aperceberam que a decisão não tinha sido voluntária, mas sim uma inevitabilidade.

Neste sentido, não sei se todos nós, hoje, perante a pandemia, não estamos a fazer o papel de limalhas, ainda que se desconheça onde está e quem é o íman.

Salve-se quem puder ou salva-se quem tem poder?

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