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Generalidades

Generalidades

16
Fev24

Nota muito curta


Vagueando

Ainda há pouco tempo andava eu  a vaguear pelas Estações do Desconforto, eis que descubro aqui na Sapo uma notícia que se relaciona com o tema.

Projeto de renovação da Gare do Oriente para a alta velocidade vai custar 8,5 milhões

A dado passo, nesta notícia, - finalmente - diz-se; 

Segundo os mesmos documentos, as duas novas plataformas de passageiros devem possuir 420 metros úteis de comprimento e 760 milímetros de altura”e, dado que a IP assume que “as barreiras corta-vento existentes da estação ferroviária, localizadas no topo das fachadas nascente e poente, não garantem o conforto dos passageiros nem a proteção necessária à intempérie”, “deve ser prevista a alteração/revisão da solução arquitetónica das barreiras novas e existentes”.

Espero que o ajuste direto, porque tem que ser, de 8.5 mil milhões de euros seja suficiente para acabar com o frio, a chuva e o vento dentro daquela estação, é o mínimo dos mínimos.

Nota da nota - O bold e o sublinhado é meu.

31
Jan24

As estações do desconforto


Vagueando

 

A resposta ao desafio 1foto1texto de hoje são várias fotos para um texto.

Saio de casa bem cedo, para um compromisso de saúde previamente agendado. Chove, o vento é forte, está frio, parece que devido às depressões Irene e Juan. Entro na Estação de comboios de Sintra mas é como se continuasse na rua.

O telhado deixa passar a água da chuva como se não existisse. É normal nas estações de comboio portuguesas, não protegerem os passageiros das intempéries. Não protegem porque estão degradadas, não protegem porque a CP ou a IP se estão marimbando para os seus clientes, não protegem porque a arquitetura que as concebeu privilegiou o design ou, eventualmente o ego do arquiteto em prejuízo do conforto do passageiro, em suma é normal achar-se que o clima em Portugal é quentinho e fofinho poupando-se dinheiro(o que não é necessariamente a mesma coisa de que evitar défices nos seus balanços) de as fazer confortáveis.

Para temperar o desconforto, a instalação sonora (talvez rouca da humidade no interior desta gare) cansada de anunciar os muitos atrasos da CP - só descansa em dias de greve informa que o (meu) comboio circula com um atraso de 12 minutos. Os relógios da estação, mostram horas diferentes e ambas erradas, manias, estão ali para enfeitar e não para informar, são apenas mais uma fonte de stress.

O comboio chega, sento-me (privilégio de quem entra na primeira estação) e sai com o atraso previsto, chegando a Lisboa, acumulando mais 10 minutos de atraso. Uma viagem de 40 minutos, demora mais 22 minutos que o previsto.

A Gare do Oriente, a estação ferroviária mais moderna e recente do país é o ex-libris da beleza máxima, conforto (muito abaixo do) mínimo, o oposto da Estação do Rossio, que conseguiu juntar antiguidade, beleza e conforto, uma autêntica raridade no panorama nacional.

Entro no Metro as passadeiras rolantes, que me poderiam fazer recuperar algum tempo, estão paradas. Deduzo, não existe nenhum aviso, que a paragem se deve a uma de duas coisas;

1- Zelar pela saúde dos utentes fazendo-nos caminhar, no meu caso em ritmo acelerado para recuperar os 20 minutos de atraso.

2- Zelar pelo ambiente, menos consumo de energia - supostamente - melhor ambiente. Ora não excluindo a hipótese de estarem avariadas, mais uma vez a falta de respeito pelo utente, avisos não há, nem sobre a eventual avaria, muito menos quando estará resolvida.

Se por hipótese for uma avaria, a IP teve conhecimento mas, não estará reparada porque a empresa encarregue da manutenção não tem as peças para substituir e não as tem porque a empresa fornecedora ainda não as enviou e esta não as enviou porque o transportador falhou e este último falhou por causa de qualquer coisa que não lhe é imputável.

Afinal estamos em Portugal, é normal não se considerar necessário vir a público dar qualquer explicação, a competência deste do assunto é sempre de outro qualquer, excepto, quando, por qualquer razão ou reestruturação, levada a cabo por qualquer governo, a competência que afinal era sua, lhe é retirada.

Aí sim, aparecem a defender a sua dama, mais que não seja, defendendo que o serviço público fica posto em causa com a tal transferência de competências de A para B.

Os websites destas empresas, donas das estações, da empresas encarregues da manutenção, das empresas que forneceram os equipamentos, apresentam-nos bem embrulhadas em marketing. Estão todas certificadas com as normas xpto qualquer coisa, são mais verdes que os lagartos, estão na rota da sustentabilidade e, imaginem, lá num cantinho qualquer, existem para nos servir.

Depois destas peripécias que não o são (estou a abusar do significado da palavra) porque isto é o dia a dia, saio do Metro e entro numa zona pedonal onde nem sequer deviam circular carros, eis que uns quantos estão lá parados.

Entro no estabelecimento de saúde, privado, para fazer o tal exame, um audiograma. Ouço mal mas vejo bem, não se pode ter tudo.

O sistema está em baixo (também acontece frequentemente) às vezes até para pagar se demora mais tempo do que na consulta ou no exame. Mesmo ouvindo mal vejo as filas e o desespero de alguns com pressa para se ir embora e não deixo escapar o comentário de um utente – O sistema de cobrança do estacionamento nunca vai abaixo e eu aqui a acumular mais uma conta, a de estacionamento, para pagar a conta do hospital.

Peço desculpa mas isto não é desculpável, mesmo que sirva de desculpa para descarregar a culpa neste, no anterior, no próximo governo ou nos políticos que os integram, integraram ou venham a integrar.

A culpa nos casos que relatei morre solteira todos os dias, porque a casam sempre com o governo, com os políticos, com isto é o país que temos, quando deveriam ser estas empresas a dar cara aos utentes.

E quanto aos carros mal estacionados o cidadão comum não se defenda a dizer que isto é uma bandalheira ou que a polícia não faz nada, a solução é não estacionar em cima do passeio, ponto!

Se o Polígrafo ler este post e for fazer a verificação do conteúdo, agora está na moda o “Fact Check” em vez de concluir por Falso, Verdadeiro, Verdadeiro mas ou Pimenta na língua, vai colocar mais uma hipótese que consiste em perguntar;

Quem é este gajo?

27
Dez23

Caramba é isto o Natal!


Vagueando

Se há coisa que me aflige e muito é ver a forma como se conduz em Portugal. Não é necessário circular durante muitos quilómetros, para assistir a mudanças de direção sem que se ligue o pisca, traços contínuos (continuamente) ignorados, faróis desligados com chuva ou nevoeiro, desrespeito pelo sinal vermelho, parar na estrada para tomar e largar passageiros (TVDE’s).

Em 10 dias, 4.852 acidentes, 17 mortos, 1.400 feridos, 80 dos quais graves, 49 mil infrações, 682 detidos por excesso de álcool no sangue ou por estarem a conduzir sem carta de condução, vários condutores a conduzir veículos sem seguro e/ou sem inspeção obrigatória.

Mas também me aflige e muito a falta de indignação, com esta tragédia. Não há primeiras páginas inflamadas à procura de culpados, porque não há figuras públicas envolvidas, nem políticos.

17 mortos, caramba é Natal, e isto não devia fazer parte do Natal.

Em que circunstâncias ocorreram estes acidentes, porque ocorreram, atropelos ao Código da Estrada, má manutenção dos veículos, negligência grosseira dos condutores?

Nem se consegue arranjar uma desculpa esfarrapada, por exemplo, a culpa é do mau estado das estradas e do parque automóvel envelhecido por causa dos impostos que se pagam na compra de um carro novo?

Convivemos bem com a desgraça, exceto se o envolvido num acidente, com ou sem culpa, seja uma figura pública ou um político.

12
Set23

Chapéus há muitos

De chuva é que não


Vagueando

20230904_160326.jpg

 

Há dias assim.

Vamos equipados para a praia, procuramos uma zona para colocar o chapéu-de-sol, procuramos o Sol e descobrimos a chuva.

Fico furioso, procuro um culpado para vir destilar a minha raiva para as redes sociais e vou ao site do IPMA. Azar previam chuva e logo para a hora em que cheguei.

Tenho que arranjar um bode expiatório, a culpa não pode ser do S.Pedro, eis que me deparo com a placa da foto acima.

Procuro por toda a praia pela zona de chapéus-de-chuva, ao fim de 3kms percorridos debaixo de chuva, não encontro.

Vou ter com o nadador salvador, foto abaixo, pergunto-lhe pela zona de chapéus de chuva, recebo (debaixo de chuva) uma resposta seca, não há. Insisto. Não há amigo, vá lá falar com o homem dos toldos, ele é que tem a concessão da praia.

E não é que fui.

Disse-me exatamente o mesmo e antes que eu perguntasse, adiantou - também não alugo chapéus-de-chuva.

Como é que isto é possível? Cambada de desorganizados.

20230904_155811.jpg

 

12
Set23

Divagações sobre a "mula"


Vagueando

No meu tempo de infância habituei-me a ver crescer uma mula, que o meu avô comprou muito jovem e que mais tarde usava para lavrar e para puxar uma carroça algarvia, que na época eram lindas e um luxo. A mula era linda, esbelta, mansa, meiga, parecia um cão a segui-lo por todo o lado e o meu avô tratava-a como uma princesa.

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Carroça algarvia

Não seguia mais ninguém, só obedecia ao meu avô.

Uma vez seguia com ele, montados na mula e parámos na taberna para tomar uma bebida. A mula obviamente ficou à porta e solta. Na brincadeira, um conhecido tentou leva-la para a esconder mas não conseguiu.

Nesta altura também me habituei a ouvir a canção A Mula da Cooperativa, cantada por Max e recentemente, por António Zambujo num espetáculo a homenagear  este cantor. Contou ele que durante uma destas homenagens espetáculo, alguém na plateia, gritava com frequência, “Canta a Mula, canta a Mula….

E lá cantou a Mula.

Nos meus tempos de juventude a atirar para o adulto quando passava uma mulher jeitosa, agora já não se pode mandar piropos, dizíamos “ganda mula”. Também por esta altura ouvia-se muito a expressão “doutores da mula ruça” para designar pessoas que davam ares de importante quando não o eram.

Nos meus tempos de adulto em início de carreira profissional, cometi a maior gafe da minha vida, que ainda hoje me amargura, isto tudo por causa da “mula”.

A palavra mula fazia parte do vocabulário da empresa. Naquela altura trabalhava-se com muita documentação em papel e muito desse papel era transportado de mota que fazia o chamado serviço expresso. Ora essa documentação tinha que chegar todos os dias de manhã cedo, sob pena de não se conseguir trata-la até às 12h, o que acarretava consequências graves para a empresa e para os seus clientes.

O chefe, cabelos brancos, sempre de cigarro na boca e quase sempre com outro acesso no cinzeiro, conseguia transformar um espaço amplo onde trabalhavam cerca de 60 pessoas, num espaço pequeno para tanto fumo. Em abono da verdade, quase todos e todas (ainda não havia todes) fumavam.

Num dia chuvoso, entra o chefe por ali adentro, obviamente de cigarro na boca, onde eu e mais uns colegas aguardávamos a chegada da documentação para começarmos a trabalhar e diz; Estamos tramados (imaginam a outra expressão que o começa com “f”) o mula expresso (referindo-se o pobre estafeta) estampou-se no Campo Grande e a documentação espalhou-se toda pela estrada.

Deu-me vontade de rir chamar ao estafeta o mula expresso, mas passou-me a vontade quando descobri o trabalho extra que iríamos ter para recuperar aquele dia.

Percebem agora a razão por que é que a palavra mula fazia parte do vocabulário da empresa e este incidente, acabou por me inspirar a escrever um post, em Dezembro de 2019 a que chamei o Mula Expresso.

Para terminar só falta falar da gafe. Num final de dia, a empresa já tinha encerrado o atendimento ao público.

O meu posto de trabalho era ao lado de um colega que durante quase todo o dia andava na rua a angariar e visitar clientes, pelo que não tinha muita confiança com ele, até porque estava na empresa há menos de 3 meses. Tocam à campainha, foram abrir a porta e entra uma mulher linda, alta, super elegante que sentou num dos sofás destinados ao público.

Não resisti e atirei ao meu colega, já viste a ganda mula que acabou de entrar? A resposta do meu colega foi educada, acompanhada de um sorriso - É a minha mulher!

15
Jun23

O Caminho


Vagueando

Comecei a andar por aquele caminho que não sabia para onde ia. O nevoeiro cerrado não deixava perceber em que direção seguia, tinha a noção dos pontos cardeais mas não tinha nenhuma referência que me permitisse identifica-los, era como se tivesse na mão uma bússola desorientada na presença de um íman.

Contudo, simpatizava com aquele caminho, talvez até tivesse carinho por ele, ainda que racionalmente não existissem razões para tal.

Sentia a sua beleza sem a ver, sentia a sua sinuosidade sem a compreender, sentia que subia ou descia através do maior ou menor esforço para caminhar e sentia que devia continuar. O comum dos mortais dar-se-ia como perdido mas eu não estava, afinal nem sabia para onde seguia aquele caminho e também não fazia a mínima ideia para onde queria ir.

Quando os meus pés, único sensor que me ligava à realidade, perdiam a sensação de pisar terra e pedra, passando a tatear um tapete húmido e fofo, sabia que me tinha desviado do caminho e entrado numa floresta. Aí parava e procurava regressar ao caminho que me queria levar não sei onde.

O caminho era abraçado por copas das árvores que não via e pelo nevoeiro que também não me deixava ver os meus pés, mas seguia-o na esperança de encontrar o que não sabia ou com medo de encontrar coisa nenhuma e ficar ali, no caminho ou fora dele.

Caminhei, caminhei, caminhei, sei lá porquanto tempo, também não me interessava o tempo, nem tinha forma de o medir, apenas sabia, através da pouca luz que atravessava aquele espesso nevoeiro, que era dia. O caminho seguia algures não sei por onde e eu seguia para lado nenhum (1).

Fiquei curioso com isto do lado nenhum, como materializar o lado nenhum. Tentei imaginar como o fotografaria, como me sentiria eu ao lado do lado nenhum. Finalmente um bom motivo para continuar, agora tinha um objetivo, encontrar o lado nenhum.

Continuei então, de vez enquanto o vento sacudia as copas das às árvores que aliviavam ruidosamente as gotículas de água que se tinham acumulado nas suas folhas e que sem dó nem piedade, caiam em cima de mim. O vento parecia forte, espaçadamente tão forte com rajadas furiosas. Como era possível sacudir as árvores com tanta violência e deixar o nevoeiro tão calmo a envolver tudo e mais alguma coisa?

Não compreendia.

Era tão estranho que não sabia se estava num ponto alto, onde o nevoeiro gosta de se fixar com maior regularidade ou se ele, nevoeiro, desta vez, tivesse descido tão baixo até ao meu caminho apenas para me atrapalhar ou quem sabe, me ajudar. Não obstante as dificuldades, continuava porque aquele caminho me guiava e de certo modo dava-me tranquilidade, afinal todos os caminhos vão dar a Roma, mas antes de lá chegar, chegam a outros lados, quem sabe se ao lado nenhum. O curioso é que este caminho não se encontrava com outros caminhos, nem sequer uma vereda, que me obrigasse a tomar uma decisão de continuar ou de o abandonar, não tinha nada que enganar, como se eu não me estivesse, quase de certeza, a enganar-me a mim mesmo ao seguir aquele caminho.

Afinal o caminho faz-se caminhando e para a frente é que é caminho.

Sentia cheiros que não conseguia identificar, mas os que identificava permitiam-me saber que aquilo à volta era terra húmida, estava habitua a ter água em abundância. Mas não ouvia água a correr, era como se não existissem rios ou riachos a terra absorvia toda a água que por ali caísse, exceto a que era despejada em cima de mim, pelas árvores em fúria com o vento que as sacudia. Ouvi aqueles chocalhos usados pelo gado nas pastagens. Este som tão tranquilizante, parecia-me longe ou então era perto mas estava abafado pelo nevoeiro e desvirtuado pelo vento. Podia tentar seguir o som na esperança que o cão pastor me farejasse e me conduzisse a alguém. Desculpei-me a mim mesmo, nenhum cão me farejaria, o vento, o nevoeiro, quiçá a distância o impediria de sentir o meu cheiro. Talvez, no fundo, no fundo, não quisesse encontrar mesmo ninguém e seguir o (meu) caminho.

Continuei, sentia agora o vento mais forte e percebi que as árvores teriam ficado para trás, já não recebia salpicos e o vento era mais forte, estava em campo aberto sem o ver, maldito nevoeiro porque não te vais embora. A paisagem que não via assumia-se como fantasmagórica no meu imaginário, mas a roupa começava a secar com a ajuda da brutalidade das rajadas de vento que me dificultavam a progressão no caminho. O caminho seguia e eu seguia-o, como um crente em Deus, mas sem esperança no que quer que fosse, apenas e só com o desejo de continuar.

A dado momento o vento, ainda que forte deixou de se manifestar em rajadas, era mais quente, mais aconchegante não fosse o pó que trazia consigo e que se me colava no rosto, começava a ficar exausto, mas não parava, sempre com o pensamento de que chegaria a algum lado, talvez ao lado nenhum. Estou a sonhar, tenho que acordar, acabar com isto, lavar a cara, já não suporto este pó colado ao rosto que me impede de ver, como se o nevoeiro não bastasse. Mas qual quê, não era sonho era realidade, o nevoeiro e o vento não mentiam, sentia-os e bem.

Seitei-me no chão pedregoso e seco, senti o cheiro do mar, que me reconfortou, fechei os olhos para o imaginar, foi como se tivesse posto os óculos da realidade virtual, vi o mar e praia.

Abri os olhos, o nevoeiro desaparecera, à minha frente tinha uma mulher que me observava, perguntei-lhe o nome, respondeu Mariana.

Demos as mãos, seguimos os dois o caminho, que ainda estamos a caminhar, até que a morte nos separe e ainda não encontramos o lado nenhum. Desde esse dia, encontramos sim, lado a lado, muitos e bons lugares, por todos os lados. 

(Título de um livro espantoso da autora Júlia Navarro e cuja história explica o que é ser de lado nenhum)

08
Nov22

Gare do Oriente


Vagueando

Os pilares escorrem água em quantidades inimagináveis, os bancos estão todos encharcados

Sou passageiro regular nos comboios, gosto deste meio de transporte por várias razões. É nostálgico, é seguro, podemos movimentar-nos dentro das carruagens, consegue-se ler tranquilamente (ainda que agora, sem perceber porquê, as pessoas atendem os telemóveis em alta voz e isso irrita-me, perturba-me o sossego e a leitura).

Já tinha usado a Gare do Oriente algumas vezes mas sempre com bom tempo. Contudo, hoje estava um dia chuvoso, percebi como uma estação moderna, de grande importância na linha mais movimentada do país e na ligação entre Lisboa e Porto pode ser tão desconfortável, mal concebida e péssimamente mantida.

Está em causa uma das estações ferroviárias mais importante do país, usada por passageiros tão diferentes, desde o profissional que se desloca em trabalho, ao turista nacional e estrangeiro e ainda por famílias.

Pois esta estação, deixa entrar o vento e chuva, tornando impossível aguardar na gare pelo comboio num dia como hoje. Pode ser bonita (já nem é muito pela falta de conservação a que tem sido votada), mas caramba quem concebeu e aprovou a construção desta estação de comboios alguma vez pensou no conforto dos passageiros e na funcionalidade da mesma?

Nas gares centrais, supostamente protegidas da chuva, porque as coberturas abragem uma área maior, estas são tão altas que deixam que o vento transporte a chuva  para o seu interior. Pior são as coberturas terem aberturas, buracos, falta de isolamento, seja lá o que for, deixarem entrar a chuva por todo o lado, pingando em cima dos poucos bancos existentes, porquê tão poucos bancos para as pessoas se sentarem?

Numa altura em que se pede às pessoas para usar o comboio, quer por questões ambientais, quer por razões económicas ditadas pelo preço dos combustíveis, esta estação tem todos os ingredientes para fazer fugir qualquer passageiro. Pela minha parte fiquei avisado e só se for de todo impossível evitá-la não me apanham lá mais em dias de chuva. As coberturas dos acessos ao Centro Vasco da Gama e os que seguem até às paragens de autocarros deixam a chuva entrar, mais uma vez não se vê manutenção, as escadas tornam-se um perigo porque estão molhadas.

Não sei se foi por ter ficado tão defraudado, que até reparei que as plataformas de acesso ao comboio são demasiadamente baixas (relativamamente a outras estações que conheço na Grande Lisboa) face aos estribos dos comboios, dificultando a entrada e saída de pessoas mais idosas.

Sinceramente num país onde a poucos metros de distância se realiza uma Web Summit, onde circulam milhões para projectos que a maioria das pessoas não entende para que servem (se é que servem para alguma coisa para além de dar dinheiro a ganhar a poucos e acabar com mais uns empregos), se fala à boca cheia de Unicórnios (que a maioria das pessoas também não sabe o que é) não consigo conceber que aquela estação tenha sido concebida na era moderna, na modernidade que foi a Expo 98.

Simplesmente deplorável.

 

19
Set22

Encontro de raridades em Sintra e um fenómeno


Vagueando

 

Sintra é conhecida, mesmo em pleno Verão, pelo seu microclima, nevoeiro, frio, humidade, chuva e vento, em especial de manhã e nos finais de tarde.

Talvez por isso, muitos espetáculos ao ar livre são cancelados devido a este microclima.

Contudo, tal como apregoavam os cauteleiros antigamente (agora as cautelas até já nos são impingidas nos balcão dos CTT) há horas de sorte e ontem, em Monserrate, não foi só uma hora de sorte, foi um final de dia fantástico.

Isto porque;

  • A temperatura estava excelente.
  • Não havia nevoeiro.
  • A despedida do Sol foi incrivelmente bela.
  • Não estava vento, nem sequer uma brisa.
  • O Teor de humidade era baixo.
  • A luz estava fantástica, a chuva caída na semana passada limpou toda a poeira do ar, aumentando a qualidade dos raios solares em todo o parque.
  • Esteve presente o fenómeno do piano - Mário Laginha - que acrescentou à beleza paisagística do anfiteatro relvado de Monserrate, a beleza musical .

Sintra é sempre uma descoberta, até para mim, residente há 64 anos, nunca tinha visitado o parque no final do dia e ainda por cima nestas condições.

Porque se trata de uma raridade, partilho convosco as fotos do evento.

https://photos.app.goo.gl/inAbWAbAP1YvdaK2A

 

20
Ago21

Já fui árvore e árvore ainda sou


Vagueando

P7280473.JPG

Não nasci assim, torta. Entortaram-me.

Não nasci assim seca, secaram-me.

Não era deste tamanho, cresci.

Não fui como estou, mas agora sou.

Não era daqui, viajei para cá.

Não era árvore, era semente.

Já não sou senciente, nem doente, nem sequer estou dormente, morri, não sendo gente. Morri, pasme-se de pé, assim, como me ainda vê, depois de muito retorcida pelo vento.

Estou morta, na paisagem tratam-me por resistente.

Estou sem vida como se vê, dou vivas à vida que me vê.

Sou um peso morto, apoio o peso da vida de outras espécies que se agarram a mim, como se eu, morta, fosse a sua tábua de salvação.

Sou abraçada por caminhantes, que não se podem agora abraçar, fotografada por curiosidade, quiçá por me acharem bela, observada por muitos, idolatrada por paisagistas, pintada por artistas, que me chamam natureza morta.

Já não sinto o vento a retorcer-me nem abanar-me, já não sinto o frio a gelar-me, nem a chuva a molhar-me, apenas percebo que sou torta, depois de morta, quem se importa!

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