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Generalidades

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17
Mar22

Ucrânia


Vagueando

Com uma rapidez estonteante, com uma determinação incrível, com uma atitude digna de seres humanos, com uma solidariedade fantástica, com uma espontaneidade genuína, o povo português, o país europeu mais longe da Ucrânia, assumiu como missão, ajudar de todas as formas que poder, o povo ucraniano.

Fê-lo porque somos assim, bondosos, fraternos, amigos, porque somos dignos da nacionalidade que ostentamos.

Desde doações de bens de primeira necessidade, à oferta de alojamento, à oferta de profissionais de serviços que permitam legalizar a sua vida num país estrangeiro, à oferta de cuidados de saúde, à oferta de empregos, ao transporte de bens para a Ucrânia e na volta trazer refugiados, demonstrou que a logística foi bem montada. Tudo isto em menos de 15 dias.

Podemos ser desorganizados em tudo mas somos os enormes e coesos no desenrasque de tudo.

Existem muitas famílias ucranianas em Portugal, algumas das quais conheço pessoalmente e com quem me relaciono, pelo que não estranho esta ajuda, até porque estas pessoas estão a ser vítimas de uma guerra que julgávamos impossível de voltar a acontecer na Europa, ainda por cima, provocada por uma grande potência mundial.

De um dia para o outro, ficou disponível em Portugal tudo aquilo que antes não estava disponível para os portugueses em geral.

Isto recorda-me um livro que li recentemente, cujo título é “Economia de Missão”. A sua autora, economista italo-americana Mariana Mazzucato, de quem fiquei adepto depois da leitura do livro, parte do exemplo daquilo que foi a Missão Apollo, para demonstrar que é necessário inovar para reformular o capitalismo, o qual perdeu sentido porque se centrou em demasia no lucro proveniente de rendimentos de curto prazo, exclusivos da economia FIRE (Finance, Insurance e Real Estate).

Foi este modelo de capitalismo que empurrou os Estados para a eliminação de serviços públicos que foram entregues a privados, nem sempre com os melhores resultados em termos de eficiência.

Os Estados perderam dinheiro e aprendizagem e com isso a capacidade de gerir situações mais graves. Um dos exemplos mais recentes desta falta de experiência, veio dos serviços de saúde do Reino Unido. Com a pandemia, os seus serviços de saúde já não tinham capacidade de resposta, obrigado o Estado a gastar 438 milhões de libras com empresas de consultoria só para elaborar um plano de gestão de testagem e rastreio de pessoas com Covid 19, com resultados desastrosos.

Voltando à Missão Apollo. O Estado foi o impulsionador do projeto e definiu como foco pôr um homem na lua e trazê-lo de volta em segurança. Para isso o governo deixou de lado convenções que limitavam as suas atividades, era necessário inovar e não é possível inovar sem errar, pelo que perante uma hipótese enorme de falhanço, o risco foi assumido pelo Estado.

Um dos muitos desafios, parece ridículo hoje, era transformar um computador do tamanho de um armário, no tamanho de uma caixa de sapatos que não pesasse mais de 31 kg. Foi esta busca intensa para obter sucesso na Missão Apolo que levou a que muitas empresas também motivadas e empenhadas (o que é diferente de contratadas) na missão, à descoberta de múltiplos produtos de uso corrente nos dias de hoje, como são por exemplo, os telemóveis com câmara, lentes anti-risco, mantas isotérmicas, calçado desportivo, detetor de fumo, rato de computador, led, leite para bebés, desfibrilhadores cardíacos, pacemakers, purificação de água.

A essas descobertas, muitas delas por acaso, ou seja enquanto se buscava uma solução para um problema, apareciam soluções que, não servindo, teriam, no entanto, outra aplicação, chamou a autora serendipidade. Os acordos com as empresas (não necessariamente as mais bem apetrechadas ou com capacidade técnica) dispostas a juntar-se à Missão implicou uma cláusula de “eliminação do lucro excessivo”.

Apenas para se perceber a importância da cláusula usada no programa, que correu entre 1961 e 1972, eis um exemplo recente. O medicamento Remdesivir para o novo coronavírus, foi codesenvolvido com um subsídio de 70 milhões de dólares do National Institutes Health - NIH que é financiado pelo Estado. A farmacêutica produtora do mesmo estava a 3.120 dólares durante a pandemia, pelo comprimido. Isto só foi possível porque em 1995 o NIH aboliu a cláusula de preço justo.

O que tem tudo isto a ver com a nossa disponibilidade para ajudar a Ucrânia? Tudo!

Seremos também nós portugueses, cidadãos e Estado, independentemente de quem o representa, executarmos uma Missão, de partilha de riscos mas também de partilha de lucros, para levar a cabo os grandes desafios nacionais e através da inovação e da tal serendipidade, melhorar o nosso país, mostrando aos ucranianos que agora estamos a acolher, que também somos capazes de fazer tão bem a nós próprios como o que sabemos fazer aos outros?

Em suma, seremos nós capazes de, no futuro, disponibilizar a todos os cidadãos uma vida melhor, sem ser necessário a desenrascar uma caridadezinha, muitas vezes transformada em espectáculo televisivo, após a desgraça?

10
Mai20

Sinal de Vida


Vagueando

 

Este é o título de um romance de José Rodrigues dos Santos.

A história, apaixonante, começa com a figura de Thomas Quinn, estagiário do SETI (Search for Extraterrestrial Intelligence) sedeado, segundo ele, num buraco nos EUA, mais precisamente em Hat Creek (Califórnia), onde está instalado Allan Telescope Array, uma rede de escuta astronómica.

Thomas Quinn estava encarregado de analisar as resmas de folhas diárias contendo os dados captados por 42 antenas que cobriam as frequências de rádio dos 0,5, aos 11,2 gigahertz em busca de vida extraterrestre. Esta rotina diária, estava frustrá-lo ao ponto de ter perdido a fé de encontrar fosse o que fosse.

Até que um dia, um sinal vindo de Tau do Sagitário, na banda de 1,42 gigahertz fez disparar o coração de Thomas Quinn e do seu chefe.

Tinham descoberto um sinal de vida.

Sinal de Vida

Este é o título de um post de Vagueando, que sou eu.

A história, arrepiante, começa no dia 11 de Março do corrente ano, quando Tedros Adhanom Ghebreyesus, nessa malfadada tarde, declarou que o surto do novo coronavírus tinha atingido o nível de pandemia. Nesse dia, juntamente com a minha mulher e um amigo, apanhei um autocarro de Sintra para Mafra, de onde regressei a pé para Sintra. A distância de 28km que já percorri várias vezes, não em busca de qualquer sinal extraterrestre ou divino, mas pelo prazer de caminhar pelo campo onde os sons estão próximos dos captados pelas antenas do Allan Telescope Array, com a vantagem de estarmos perto de tudo e longe de tudo o que chateia, nomeadamente a poluição sonora e do ar.

Já em Nafarros, depois de passarmos junto a vários aldeões que cuidavam do seu pedaço de terra e nos saudavam efusivamente, como se fossemos os seus vizinhos mais próximos e garantiam que por ali não andava vírus nenhum, fizemos uma pausa no União Cultural e Desportivo de Nafarros, onde saboreámos um prego acompanhado de um fino. Ali mesmo, assistimos na TV à declaração da pandemia.

A partir daí foi o pandemónio, que se conhece, fechámo-nos em casa e ficámos todos à espera, tal como o Thomas Quinn, de sinais.

Estes sinais, ainda que dados e explicados por especialistas de toda a espécie, lançavam mais dúvidas do que esclarecimentos.

No final de cada dia, em família e em conversa telefónica com os amigos tentávamos, tal como Thomas Quinn, apanhar um sinal diferente que nos desse conforto, alegria e esperança.

Nada!

Durante estes dois meses, fui mantendo a minha actividade, ou seja andar a pé, à volta de casa, e dei conta de que, mesmo nos locais onde estava habituado a ver multidões, não via qualquer sinal de vida(ver fotos no link abaixo).

https://photos.app.goo.gl/7ud9FPmDpJX9S6VS6

Agora que parece existir algum alívio ou talvez não, nas minhas saídas para fazer exercício, vi um sinal de vida. (foto abaixo)

20200505_175320.jpg

A primeira loja aberta em Sintra após a declaração de pandemia. Só faltam os clientes

A diferença entre o Sinal de Vida de JR Santos e o Sinal de Vida que eu vi, é que a história de JR dos Santos é ficção, embora ele afirme que a informação científica apresentada no romance é verídica e a minha história é real, embora desconheça se a informação científica que fui recebendo ao longo destes dois meses é verdadeira.

Acresce que Thomas Quinn conseguiu descobrir um sinal de vida extraterrestre e eu ando a tentar perceber se na Terra, nomeadamente onde vivo, vamos ter hipótese de voltar a sentir a emoção de estar no ponto G de Portugal, ou seja, “Onde a terra acaba e o mar começa” sem máscara, sem distanciamento social, sem vigilância, vulgo tudo ao molho e fé em Deus.

Gostava de olhar para o precipício do Cabo da Roca e pensar, ainda que queda vá ser grande, recuperaremos antes de bater lá em baixo.

Afinal a Europa acaba ali, mas nós, os portugueses, não deixaremos que ela se esvaia, só por isto, para o Mar.

 

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