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Generalidades

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24
Jul22

As histórias e toponímias que cabem em 692 metros da Rua Albino José Batista - Sintra


Vagueando

Placa Fim da rua.jpg

A Rua Albino José Batista, com 692 metros de comprimento e de largura irregular, inicia-se junto ao Jardim da Vigia e termina na Estrada de Chão de Meninos, junto à Casa das Queijadas do Preto.

A história (possível) sobre esta rua, completa uma trilogia de posts que já escrevi, ligando assim as histórias do Jardim da Vigia Ler aqui  e da Casa das Queijadas do Preto Ler aqui.  Nasceu de uma conversa com D. Carlota, 86 anos, a sua habitante mais velha, residente na mesma há 64 anos, que me disse com a certeza de uma memória fresca e bem viva, que antigamente se chamava Rua Campo do Arrabalde.

Não existe na CM de Sintra qualquer registo sobre a atribuição desta toponímia à rua, ainda que tenham indicado que este topónimo seja anterior a 1969, data a partir da qual estes registo foram organizados.

José Alfredo da Costa Azevedo, ex-presidente da CM Sintra, refere no seu livro Bairros de Sintra, que o comerciante lisboeta com o mesmo nome, residiu nesta rua, sendo que, segundo a D. Carlota, viveu no nº 47, na altura Vila Eliza e atualmente Vila Stª Maria.

Albino José Batista, fundou em 6 de Julho de 1876, uma loja na Rua Nova do Almada, nº 92, razão pela qual lhe atribuiu o nome de Loja 92, especializada em artigos de senhora. Sugiro uma consulta ao blogue Restos de Coleção neste link Albino J Batista

Curioso é o facto do dia da inauguração da loja (dia 6) e nome atribuído à mesma (92), formar o número igual ao comprimento da rua com o seu nome, os tais 692 metros.

Para confirmar a informação dada pela D. Carlota, recorri a documentos da família da minha mulher e de alguns dos moradores, que me deram acesso a escrituras e contribuições prediais dos anos 30 e até mesmo anteriores. Desta consulta conclui que a rua era designada por Campo do Arrabalde ou Sítio do Campo do Arrabalde e também, popularmente por Rua Bairro do Ingleses e que os terrenos que a ladeavam eram conhecidos por Terras de Cima e Terras de Baixo.

Deduzo que a designação oficial seria mesmo Rua Campo do Arrabalde, isto porque a história contada pela D. Carlota parece confirmá-lo; Quando esta necessitou de realizar um acto público que envolvia a sua casa, referiu que se situava na Rua Bairro dos Ingleses, toponímia que não constava oficialmente e que impediu a realização deste ato. Neste sentido, foi obrigada a fazer um novo registo da casa na Rua Campo do Arrabalde.

Num testamento de 1950 de um familiar da minha mulher, faz-se referência a uma casa situada no Campo do Arrabalde (não referia rua) ou Bairro dos Ingleses. Por curiosidade, nesse mesmo testamento, também é referida uma casa na Escadinhas do Arrabalde, as quais, em sessão de Câmara de 16 de Abril de 1955, adotaram a toponímia de Escadinhas da Vigia, sendo que estas Escadinhas começam junto ao Miradouro da Vigia, onde se inicia também a Rua Albino José Batista.

O Arrabalde, começava no Largo Sousa Brandão (local onde existia uma Casa de Cantoneiros, transformada em Posto de Turismo de Sintra) e estendia-se para nascente, abrangendo toda esta zona onde se situa a rua e o jardim.

Há cerca de 7 anos, cruzei-me na rua Albino José Batista, com um casal italiano que me perguntou onde era a Vila Alecrim do Norte. Disse-lhes que não havia nenhuma Vila com este nome, nesta rua.

Perante a sua insistência e convicção inabalável de que estavam certos, tinham viajado propositadamente até Sintra para ver o local, telefonei à minha mulher, nascida nesta rua e perguntei-lhe onde era esta Vila. A resposta foi, para minha vergonha e contentamento do casal, que era muito perto do local onde tinha nascido e pela sua explicação percebi que estávamos mesmo à porta da Vila Alecrim do Norte e, pela primeira vez em muitos anos, reparei que estava lá escrito Vila Alecrim do Norte.

Curioso, perguntei-lhes a razão do seu interesse para viajar de Itália em busca deste local. Referiram-me que leram um livro cujo título era o “Diário de Sintra”, que relata a experiência de 3 jovens ingleses S. Spender, C. Isherwood e W.H.Aunden, que viveram nesta casa ente Dezembro de 1935 e Agosto de 1936.

Efectivamente nos anos 30 e até aos anos 70, viveram nesta rua vários ingleses, nomeadamente na Casa Cerrado da Eira e na Vila Alecrim do Norte, que conviveram com portugueses, alguns dos quais ainda vivos.

No Cerrado da Eira vivia a Srª Enid Mitchell, que manteve com os habitantes portugueses uma excelente relação de amizade e até de solidariedade social, chegando a doar casas a alguns deles, quer nesta rua quer em ruas adjacentes, alguns dos quais ainda as habitam. No alto de S.Pedro, mesmo junto à escola, existia uma taberna conhecida por Carlos Mitchell, dado que o dono, o Sr Carlos, chegou a ser motorista da Sra Mitchell.

Enid Mitchell pintava quadros com motivos de Sintra e foi a mentora de um pintor natural de S.Pedro de Penaferrim, Pinheiro de Santa Maria, que foi viver para os Açores, nos anos 70,  mais precisamente na Ilha Graciosa, infelizmente, falecido já no decorrer de 2022.

Devido à “colónia” de ingleses a viver nesta rua e arredores, conta-se que foi um dinamarquês de nome Anderson, residente na casa conhecida por Achadinha, com acesso quer por esta rua como pela Rua Dr. José Neto Milheiriço, que resolveu “batizar” a rua, com o nome de Rua Bairro dos Ingleses, e terá mesmo colocado uma placa com esta designação.

Não estava mal visto e parecia fazer sentido e não terá havido contestação popular ou eventualmente, dos serviços oficiais, pelo que a designação pegou!

A toponímia não oficial de Rua Bairro dos Ingleses, explica-se então assim.

Nos anos 30, vieram viver para uma casa, alugada pela Srª Mitchell, a Vila Alecrim do Norte, os 3 jovens escritores ingleses, Stephen Spender, Christopher Isherwood e Wystan Hugh Aunden. Este jovens fugiam do preconceito existente em Inglaterra sobre os homossexuais e vieram para Sintra em busca da tranquilidade e inspiração que lhes permitisse escrever obras teatrais e poesia e que mais tarde concretizaram.

Enquanto habitaram esta casa, entre Dezembro de 1935 e Março de 1936, escreveram um diário (Diário de Sintra) que deu origem a um livro, editado em italiano e traduzido para espanhol. Este livro só foi possível após o filho de Stephen Spender, Mattew Spender, radicado em Itália, ter descoberto por volta de 2012, o diário escrito pelo seu pai, enquanto aqui viveu.

Depois da história contada pela D. Carlota, resolvi procurar o livro, o qual, infelizmente não está traduzido para português, e adquiri a versão espanhola.

Ao ler as histórias foi como tivesse visto filme da época, a forma como os ingleses nos viam “os portugueses eram engraçados e simpáticos, dado que em Inglaterra segue-se a tradição de que todos os estrangeiros não o são”, e as tarefas levadas a cabo por estes ingleses, que iam desde a construção de casotas em madeira para acolher a criação de coelhos, à construção de galinheiros para criação de galinhas, à construção de um canil, para além das tarefas de jardinagem e, pelo meio, iam escrevendo, quer o diário, quer outras obras.

C.Isherwood escreve uma carta à sua mãe em Dezembro de 1935, que consta do livro, a relatar que encontraram casa em Sintra, mais precisamente a Vila Alecrim do Norte e chama a atenção da mãe para a morada que segue na carta. Infelizmente, pese embora tenha conseguido contatar Matthew Spender, não foi possível apurar qual a rua ou local que era referido naquela carta.

Segundo o Diário de Sintra, Enid Mitchell terá referido aos jovens ingleses que foi a segunda mulher a tirar a carta de condução em Portugal.

Enid Mitchell, viveu com os pais em Portugal, com o início da guerra vai para Inglaterra servir o seu país como enfermeira regime de voluntariado e regressa a Portugal com o fim da mesma.

Após a morte dos seus pais, vende a casa onde viviam, “O Cerrado da Eira”, a outro inglês o Senhor Shaw e vai viver numa pequena casa que autonomizou do Cerrado da Eira, com uma criada portuguesa, de nome Domingas. Esta casa foi deixada em testamento à sua criada Domingas que, por sua vez, a deixou em testamento a outro habitante de S. Pedro que ainda nela reside.

Quando se dá o 25 de Abril em Portugal, Shaw decide vender "O Cerrado da Eira", que foi comprado pela família Rocha Neves, cujos herdeiros a habitaram até há pouco tempo.

Regressando à toponímia Albino José Batista. Existem mapas camarários, um dos quais editado pela C.M. Sintra em 1978, que relativamente a esta rua, coincide com outro publicado na página 304, do livro de José Alfredo da Costa Azevedo – Bairros de Sintra, que mostram que a rua Albino José Batista, não chegava até à Casa das Queijadas do Preto, onde hoje termina.

Principiava igualmente junto ao Jardim da Vigia, mas terminava no final da Travessa da Boavista. E era esta Travessa da Boavista que ia terminar em Chão de Meninos, junto à Casa das Queijadas do Preto. (ver foto abaixo)

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A azul a extensão da Rua Albino José Batista no mapa da CMSintra de 1978.

A vermelho a Travessa da Boavista no mesmo mapa

A verde a atual Rua Albino José Batista

Ainda assim, em conversas tidas com alguns residentes das redondezas asseguraram-me que a parte final da rua, ou seja, junto à Casa das Queijadas do Preto, não era a Travessa da Boavista, mas sim Rua do Forno da Cal, dada a existência de um forno mesmo junto ao parque de estacionamento da desta casa de queijadas.

Como já referi acima as pesquisas que efectuei, na CMSintra, Biblioteca Municipal e no Arquivo Histórico da Câmara, não consegui apurar, quando é que foi atribuída a toponímia Albino José Batista, muito menos se se estendeu até Chão de Meninos. Nem tão pouco a empresa que fez as placas toponímicas, Cerâmica Isabel Garcia, me conseguiu esclarecer. A ser verdade que a Travessa da Boa Vista se estendia até à Casa das Queijadas do Preto, também faria sentido, não só devido à existência da Quinta da Boavista, mas também porque que nalguns locais da rua é possível ter uma excelente vista, para Norte e Poente. À vista desarmada é possível ver as Berlengas, o Convento de Mafra e a serra de Montejunto.

Diz o povo e muito bem, como posso confirmar, que quando daqui se avista as Berlengas (normalmente a bruma ou o nevoeiro o impedem) é sinal de chuva o que é verdade.

Para baralhar ainda mais esta história, um contrato de promessa de compra e venda, datado de 30 de Novembro de 1979, que também consultei, faz-se referência a um mesmo imóvel, como estando em ruas diferentes. Efectivamente o promitente-comprador era o arrendatário do andar superior, é referido no contrato como estando sedeado na Rua Albino José Batista e o imóvel completo, é referido no mesmo contrato como estando sedeado na Rua Bairro dos Ingleses.

Em resumo; Parece não existir dúvidas que a Rua Albino José Batista recebeu esta toponímia devido ao facto de este comerciante aqui ter vivido e não teria a extensão atual. Anteriormente seria era designada por Rua Campo do Arrabalde, conhecida popularmente por Rua do Bairros dos Ingleses. Mais tarde, penso que nos anos 70, especulo eu, que a CM de Sintra terá constatado que a residência do referido comerciante estava localizada não na rua com o seu nome, mas sim na Travessa da Boavista ou Rua do Forno da Cal e resolveu prolonga-la. Lembro perfeitamente de ser colocada a placa toponímica junto à Casa das Queijadas do Preto, ainda que não consiga datar o acontecimento.

Já que a Rua principia junto ao jardim da Vigia e porque estamos a falar de uma contadora de histórias invisual, vai para 10 anos, no decorrer das conversas, a mesma perguntou-me pela pedra dos Cinco Dedos que era visível deste Jardim quando foi inaugurado em Maio de 1939, (ver foto abaixo do local onde foi construido o Jardim da Vigia e onde é possível ver a pedra dos cinco dedos).

Arrabalde.jpg

 

Disse-lhe que a pedra não se vê.

Respondeu-me, que era impossível aquela mão de pedra é tão grande, não me diga que caiu.

Não D. Carlota, não caiu, foram as árvores que cresceram muito e a taparam.

Ficou triste!

Sendo a cegueira uma doença, infelizmente no caso da D. Carlota incurável, ela não esperava que natureza cegasse todos aqueles que ainda vendo, já não conseguem ver a pedra dos cinco dedos.

09
Abr22

Jardim da Vigia - Sintra


Vagueando

 

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Panorâmica do Jardim da Vigia

At the end of the text in Portuguese you will find the English version of this post

Tratando-se de Sintra, cuja fama é reconhecida dentro e fora de portas, profusamente retratada e descrita em prosa e poesia, prefiro começar este texto com uma descrição de Sintra, assinada por “X.”no Jornal de Sintra nº 222 de 08 de maio de 1938.

A Beleza da Serra de Sintra, por ser obra de Deus, está muito acima da concepção humana. Nem prosadores, nem poetas, verberando muito embora em rasgos de génio imortal, conseguirão jamais, com os seus escritos, igualar a sua Beleza maravilhosa e incomparável.

E uma frase também de um texto de Carlos Sombrio no Jornal de Sintra 205 de 09 de Janeiro de 1938, sob o título “Aguarela de Sintra”.

…fazendo de Sintra a Grande Catedral do Silêncio.

Neste sentido, não sendo eu historiador, nem escritor, nem poeta, embora faça umas fotos aceitáveis, não esperem ficar a conhecer Sintra pelo que aqui escrevo e, se ainda não vieram a Sintra, não se deixem encantar pelas fotos que aqui deixo porque, mesmo estas não chegam para ilustrar esta terra.

Por outro lado, vou centrar-me exclusivamente no jardim indicado no título.

Arrabalde, Miradouro da Vigia, Campo ou Monte da Vigia, Jardim da Vigia, Jardim dos Cardos, Miradouro da Condessa de Seisal, sete designações, um só lugar, lindíssimo.

Nas pesquisas feitas na imprensa local, desde os anos 30, nomeadamente no Jornal de Sintra, encontrei todas estas expressões para designar o local. Porquê tantos nomes para um só lugar?

Arrabalde – É parte de uma povoação que, por sua vez, faz parte de uma vila mas fora dos muros desta. Este local estava fora do centro a chamada Vila, onde se encontra o Palácio Nacional de Sintra. Daí parecer fazer sentido que lhe chamassem Arrabalde, palavra que deriva do árabe ar-rabad que significa arredor.

Monte da Vigia e Campo da Vigia – O nome Vigia não consegui apurar de onde deriva, mas especulo que por se tratar de um bom local de vigia pela desafogada vista que tinha (a serra de Sintra e redondezas não apresentava a profusão de arvoredo que hoje conhecemos).

Do lado esquerdo do Jardim existem as Escadinhas da Vigia e em frente deslocada para a direita está a Quinta da Vigia. A adoção do nome Vigia parece assim fazer sentido.

A designação de Campo ou de Monte, deduzo que o local antes de ser jardim poder ser designado por monte, nome que usamos para designar uma pequena elevação, ou campo, nome que se atribui também a um ponto de vista.

Miradouro da Condessa de Seisal- A Condessa de Seisal, Maria Germana de Castro Pereira (dama fiel e próxima da Rainha D. Amélia) era a proprietária do local onde o Jardim se encontra implantado, cedeu gratuitamente o terreno para que nele fosse construído o Jardim. Daí que a adoção do seu nome é da mais elementar justiça.

No Jardim é possível apreciar um obelisco de granito, da autoria do arquiteto Raul Lino com a inscrição “Miradouro da Condessa de Seisal”.

Jardim da Vigia ou Jardim dos Cardos – Trata-se da alteração de Monte da Vigia para Jardim uma vez que o local, segundo o Jornal de Sintra nº 275 de 21 de Maio de 1939 foi finalmente ajardinado.

Quanto à designação Jardim dos Cardos deixarei para mais à frente. Este Jardim, também conhecido pelos nomes acima, sempre me atraiu.

Não consigo definir um motivo de atração, porque são vários.

Desde a vista deslumbrante que nos oferece sobre a Serra de Sintra, aos seus rústicos, estreitos e assimétricos caminhos, às suas árvores e plantas, à sua história, a forma como se integra na paisagem, até ao gosto porque sim e porque gostos não se discutem. É um excelente lugar de contemplação.

Não há muito tempo foi ali rodado um excerto do filme Frankie com Isabelle Hupert, filme a que fui assistir, para ver como este magnífico jardim seria retratado pelo realizador Ira Sachs. Fiquei com a impressão que o filme vale mais pela paisagem de Sintra e pelas imagens do Jardim, do que pelo seu próprio enredo.

Como espectador privilegiado, uma vez que sou “obrigado” a passar por ali quando saio ou chego a casa, já vi por ali gente abraçando longamente os plátanos. Também vejo pintores, e fotógrafos que ficam por ali à espera das mudanças de luz, caminheiros nas suas voltas por Sintra fazem sempre uma paragem, turistas apressados, curiosos, admiradores, gatinhos à trela saboreando a vista e o sol e até uma simpática e tranquila ovelha, costuma passear por lá atrás da sua dona.

Como era o local e que acontecimentos ocorreram até à sua construção.

O Campo da Vigia à época mais não era que um monte de pedras, muitas das quais, propositadamente, ainda são visíveis como o leitor irá perceber com o avançar desta história.

Arrabalde.png

Nesta foto (1826/1929) retirada do arquivo da Câmara Municipal de Sintra, é possível ver o local (do lado esquerdo) onde hoje existe o jardim, a pedra calcária era dominante. A serra despida de arvoredo e ao fundo do lado esquerdo da estrada o portão de acesso à Quinta da Vigia.

A menos de 100m em linha reta, para a esquerda da foto encontra-se a Casa do Cipreste de Raul Lino onde anteriormente existia uma pedreira, da qual ainda existem vestígios dado o cuidado que o arquiteto colocou na sua construção de modo a integra-la na paisagem com o mínimo impacto.

A primeira referência sobre este jardim, descrevia o local como Campo da Vigia. No Jornal de Sintra (1), publicava-se uma carta enviada pelo Sr Tenente Mário Pimentel relativa ao ajardinamento do Monte da Vigia, indicando ter sido contatado por Mário Ribeiro da Comissão de Iniciativa e Turismo que lhe terá pedido, em nome da Comissão de Melhoramentos de S. Pedro, apoio para o ajardinamento do Campo da Vigia(2).

O Sr.Tenente interessa-se pelo tema, também pelo facto do arquitecto Raul Lino se ter disponibilizado a elaborar o projecto de ajardinamento de forma gratuita. Depois de uma reunião com Rodrigo Seisal, filho da Condessa de Seisal (dona do terreno) foi acordado que o terreno seria cedido de forma gratuita, sob algumas condições, que foram aceites pela Câmara.

Foram necessários 5 anos para que a obra se completasse. Durante este período ocorre o ajardinamento mas, a avaliar pelas notícias que iam saindo na imprensa local, esteve votado ao abandono.

Em várias ocasiões eram publicadas notícias como esta, por altura das celebrações das Festas da Nossa Senhora do Cabo em 1937. …“O celebérrimo Miradouro da Vigia se encontrará como actualmente, ou ….Pior ainda! Não terá a nossa Câmara uns singelos escudos para mandar desbastar os cardos e as urtigas que medram à vontadinha?”(3).

Ou ainda esta “O cardo e o tojo crescem sem licença de Deus e o poste que defeitua a paisagem por lá continua…” (4).

Presumo que estas referências aos cardos terão levado a que o povo, sempre dado a criticar o poder, o apelidasse de Jardim dos Cardos.

A par destas críticas, corriam insistentes pedidos para se efetuar a reparação da atual rua Rodrigo Delfim Pereira, que passa pelo jardim, porque dificultava a circulação entre S. Pedro e a Estefânia, via Largo Fernando Formigal de Morais (5).

Os atrasos na construção do Jardim também motivaram a intervenção da imprensa local, nomeadamente numa entrevista ao Secretário da Junta de S. Pedro, Francisco Ribeiro e Costa, no Jornal de Sintra nº 257 de 08 de Janeiro de 1939, ao ser questionado quando será ajardinado o Miradouro da Vigia, respondeu; O Miradouro pertence à Freguesia de Santa Maria, mas como, praticamente, está dentro do bairro de S. Pedro, tem-nos merecido especial atenção, pelo que apresentamos à Câmara uma sugestão que nos parece resolver o assunto.

Os atrasos, a manutenção ou a falta dela não terão sido os únicos problemas do jardim. O projeto do arquiteto Raul Lino não foi respeitado, pelo que este interveio através de uma carta dirigida em 25 de Junho de 1939, a Francisco Ribeiro e Costa, Secretário da Junta de Freguesia de S. Pedro. Nessa carta refere que o projeto era simples, claro, lógico, imediato, prático e económico e, reforçando a ideia expressa na entrevista no parágrafo acima, Raul Lino refere que - não obstante o “corpo do delito” estar fora da vossa freguesia, o que foi feito era a negação do que havia sido planeado (6).

A preocupação de Raul Lino com o tipo de flores e árvores que deveriam ser plantadas e com a forma com que o mesmo se deveria ligar à envolvente, justificavam as suas preocupações que estão expressas num documento que integra o trabalho do Dr Ricardo Miguel Oliveira Duarte, que aconselho vivamente a ser consultado (não só pelo detalhe dado a este jardim como pelo resto do notável trabalho sobre a azulejaria de exterior em Sintra) no final deste post(7).

No referido documento pode ler-se “É preciso por de lado qualquer ideia de um jardim “á inglesa” ou “á francesa” ou de qualquer maneira exótica que não esteja dentro das possibilidades imediatas de uma fácil criação e mantença, em caso de falta de rega, de outros cuidados, ou por motivo de grandes secas naturais ou de prolongadas épocas chuvosas- como é frequente dar-se na nossa região” . E continua afirmando a necessidade revestir quanto baste a rocha “deixando que a graça do recinto dependa mais da disposição dos caminhos e do dois miradoiros, do que da variedade de qualquer coleção de plantas.

A importância que Raul Lino dá à necessidade de se alterar o mínimo possível na construção do jardim, explica a razão pela qual é possível ver parte da rocha que existia no local, nos caminhos e canteiros deste jardim. Os dois terraços circulares que marcam o desnível, sombreados por duas árvores de folha caduca que permitem a solarização do local no Inverno e o sombreamento no Verão, os caminhos desalinhados, marcados com a rocha original, a par da manutenção da pedra existente que em muitos sítios do jardim não foi coberta de terra, talvez sejam a razão do encanto deste jardim.

E sim, o encanto também vem do domínio e da exibição que fazem os 3 montes, o do Castelo, o do Palácio da Pena e o do Monte Sereno, em frente deste jardim.  O Monte Sereno, também conhecido por Castelo Gregório, foi construído por iniciativa de Gregório Ribeiro, cujas obras se concluíram mais ou menos na mesma altura da inauguração do Jardim e que se destinava a ser uma Pensão Restaurante e de onde era possível ter uma vista magnífica sobre Sintra (8), como se pode ver numa das fotos existentes no link abaixo.

Este Jardim faz também parte do Património Arqueológico de Sintra, designado pelo sítio medieval do Jardim da Vigia (9).

Neste Jardim existe ainda uma referência ao Engenheiro Agrónomo Mário de Azevedo Gomes (1885-1965) que na década de 50 elaborou vários estudos sobre clima, solos e floresta do Parque da Pena. Recordo com prazer uma frase sua no livro “A Utilidade das Árvores” – A natureza é consoladora quando é bela e árvores é uma das coisas da natureza que mais ajudam a torna-la bela aos nossos olhos.

A título de curiosidade, já no início da existência do jardim se lamentava a existência de um poste que destoava no jardim e que impedia que se desfrute de ampla vista sem que interferência deste.

Aquando do registo da inauguração do jardim podia ler-se – …um poste telefónico grande, inestético, denegrido, donde irradiam numerosos fios que riscam a paisagem (10).

Coincidência ou não, os postes (agora de electricidade e de telecomunicações) continuam ali a riscar a paisagem. Sendo Sintra Património Mundial da Humanidade há vinte sete anos, não parece fazer sentido a existência de tais fios e postes, visíveis na primeira foto deste texto.

Resta-me informar que este Jardim fica localizado na Rua Rodrigo Delfim Pereira, filho ilegítimo do Imperador do Brasil D. Pedro I e nosso Rei D.Pedro IV, que foi proprietário da Quinta Vigia, sendo que nesta Quinta foi recebida a Rainha D. Amélia na oportunidade dada por Salazar para revistar Portugal em 1945.

O filho de Rodrigo Delfim Pereira, Manuel Rodrigo Castro Pereira era pessoa muito rica, para além da Quinta Vigia, possuía a Quinta das Murtas (que fica a cerca de 300 m abaixo do Jardim da Vigia) e era o avô de Francisco Pinto Balsemão. Um dos irmãos do avô Manuel, era Rodrigo Castro Pereira, salazarista convicto. No dia 26 de abril de 1974, vestiu a farda Legião, sentou-se na sua casa, na Quinta das Murtas e esperou que o viessem prender o que nunca aconteceu. Mais tarde terá confessado ao seu sobrinho Balsemão, de forma semi-sarcástica que tinha muito orgulho em ter um sobrinho como Primeiro-ministro de Portugal (11).

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Foto da Rainha D. Amélia na companhia da Condessa de Seisal, Quinta Vigia em 22 de Maio de 1945, obtida em https://www.tagusart.com/pt/auction/lot/id/3553. Na foto é possível ler-se Quinta da Vigia Sintra 22 de maio de 1945.

Em frente ao Jardim desembocam a rua Albino José Batista e a Rua José Neto Milheiriço, conceituado médico sintrense alvo de vários agradecimentos no Jornal de Sintra (12) pelas suas qualidades profissionais e humanas que chegou a ter consultório na Vila Maria, na Rua do Roseiral, rua onde está implantada a Casa do Cipreste de Raul Lino.

Mais tarde este prestigiado médico, passou a dar consultas na sua Casa Particular, na Rua D. João de Castro muito próxima do Jardim da Vigia.

(1) - Jornal de Sintra nº 37 de 16 de Setembro de1934.

(2) - Jornal de Sintra nº 37 de 16 de Setembro de1934.

(3) - Jornal de Sintra nº172 de 23 de Maio de 1937 “Ao correr da Pena… Casos e coisas de Sintra”

(4) - Jornal de Sintra nº 212 de 27 de Fevereiro de 1938 “Do Bairro de S.Pedro”

(5) - Jornal de Sintra nº 229 e 234 de 29 de Junho e 31 de Julho de 1938

(6) - Documentos de Raul Lino incluídos no Anexo ao trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte da Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras – Azulejaria de Exterior em Sintra, Dissertação orientada pelo Prof.Doutor Vitor Serrão.

(7) - Documentos de Raul Lino incluídos no Anexo ao trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte da Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras – Azulejaria de Exterior em Sintra, Dissertação orientada pelo Prof.Doutor Vitor Serrão.

(8) - Jornal de Sintra nº257 de 21 de maio de 1939

(9) - Sítio Inventariado. Abrangido pela ZEP da Paisagem Cultural de Sintra - Aviso n.º 15169/2010, DR, 2.ª série, n.º 147, de 30-07-2010. Na área correspondente ao jardim da Vigia foram recolhidos à superfície materiais arqueológicos tardomedievais e modernos que indicam uma ocupação no sítio da Vigia, junto ao núcleo urbano de São Pedro

(10) - Jornal de Sintra nº 275 de 21 de maio de 1939

(11) - Livro Memórias de Francisco Pinto Balsemão, Porto Editora

(12) - Nº 244 de 09 de outubro de 1938 e 256 de 31 de dezembro de 1938

Abaixo o link para mais fotos do jardim e dos artigos do Jornal de Sintra mencionados ao longo da minha descrição.

Sugiro que vejam as fotos com os comentários abertos para acompanhar a descrição de cada foto.

https://photos.app.goo.gl/aFBoe5JyXzjpxYno6

Abaixo o link para o trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte - Azulejaria de Exterior em Sintra e respetivo anexo.

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37922/1/ulfl259924_tm.pdf

https://repositorio.ul.pt/handle/10451/37922  (depois de abrir este link, no final da página, encontra o ficheiro pdf com os anexos)

English Version

Note; This translation was automatically generated through an online translator so it may contain some expressions that do not faithfully translate the Portuguese version

 

sample

Panoramic view of Jardim da Vigia

In the case of Sintra, whose fame is recognized inside and outside doors, profusely portrayed and described in prose and poetry, I prefer to begin this text with a description of Sintra, signed "X." in Jornal de Sintra nº 222 of May 8, 1938.

The Beauty of the Serra de Sintra, because it is the work of God, is far above the human conception. Neither prose writers nor poets, though in traces of immortal genius, will ever be able with their writings to match their marvellous and incomparable Beauty.

And a sentence also from a text by Carlos Sombrio in the Jornal de Sintra 205 of January 9, 1938, under the title "Watercolor of Sintra".

... making Sintra the Great Cathedral of Silence.

In this sense, not being a historian, nor a writer, nor a poet, although I make some acceptable photos, do not expect to get to know Sintra by what I write here and, if you have not yet come to Sintra, do not be enchanted by the photos that I leave here because, even these do not come to illustrate this land.

On the other hand, I will focus exclusively on the garden indicated in the title.

Arrabalde, Miradouro da Vigia, Campo ou Monte da Vigia, Jardim da Vigia, Jardim dos Cardos, Miradouro da Condessa de Seisal, seven designations, one place, beautiful.

In the searches done in the local press, since the 30s, namely in the Jornal de Sintra, I found all these expressions to designate the place. Why so many names for one place?

Arrabalde – It is part of a village that, in turn, is part of a village but outside the walls of it. This place was outside the center the so-called Vila, where the National Palace of Sintra is located. Hence it seems to make sense that they would call it Arrabalde, a word that derives from the Arabic ar-rabad meaning around.

Monte da Vigia and Campo da Vigia – The name Vigia I could not ascertain where it derives from, but I speculate that because it is a good place of lookout for the unobstructed view that had (the mountain range of Sintra and surroundings did not present the profusion of trees that we know today).

On the left side of the Garden there are the Escadinhas da Vigia and in front shifted to the right is the Quinta da Vigia. The adoption of the name Vigia thus seems to make sense.

The designation of Field or Mount, I deduce that the place before being garden can be designated by hill, name that we use to designate a small elevation, or field, name that is also attributed to a point of view.

Viewpoint of the Countess of Seisal- The Countess of Seisal, Maria Germana de Castro Pereira (faithful lady and close to Queen Amelia) was the owner of the place where the Garden is implanted, gave free of charge the land so that the Garden was built in it. Hence the adoption of his name is of the most elementary justice.

In the Garden it is possible to appreciate a granite obelisk, by the architect Raul Lino with the inscription "Miradouro da Condessa de Seisal".

Jardim da Vigia or Jardim dos Cardos – This is the change from Monte da Vigia to Jardim since the place, according to the Jornal de Sintra nº 275 of May 21, 1939 was finally landscaped.

As for the designation Garden of Thistles I will leave it for later. This Garden, also known by the names above, has always attracted me.

I can't define one reason for attraction, because there are several.

From the breathtaking view that it offers us over the Serra de Sintra, to its rustic, narrow and asymmetrical paths, to its trees and plants, to its history, the way it integrates into the landscape, to the taste because yes and because tastes are not disputed. It is an excellent place of contemplation.

Not long ago, an excerpt from the film Frankie with Isabelle Hupert was shot there, a film I went to watch to see how this magnificent garden would be portrayed by director Ira Sachs. I was under the impression that the film is worth more for the landscape of Sintra and the images of the Garden, than for its own plot.

As a privileged spectator, since I am "forced" to pass by when I leave or get home, I have seen people there hugging the plane trees at length. I also see painters, and photographers who stay there waiting for the changes of light, hikers around Sintra always make a stop, hurried tourists, curious, admirers, kittens on a leash savoring the view and the sun and even a friendly and quiet sheep, usually strolls there behind its owner.

What the site was like and what events took place until its construction.

The Watchtower Field at the time was nothing more than a heap of stones, many of which, purposely, are still visible as the reader will realize as this story progresses.

 

sample

In this photo (1826/1929) taken from the archive of the Sintra City Hall, it is possible to see the place (on the left side) where today there is the garden, the limestone was dominant. The mountain stripped of trees and at the bottom of the left side of the road the access gate to Quinta da Vigia.

Less than 100m in a straight line, to the left of the photo is the Casa do Cipreste of Raul Lino architect where previously there was a quarry, of which there are still traces given the care that the architect put in its construction in order to integrate it into the landscape with the minimum impact.

The first reference about this garden, described the place as Campo da Vigia. In the Jornal de Sintra (1), a letter sent by Lieutenant Mário Pimentel regarding the landscaping of Monte da Vigia was published, indicating that he had been contacted by Mário Ribeiro of the Commission of Initiative and Tourism who had asked him, on behalf of the Commission for the Improvement of S. Pedro, support for the landscaping of Campo da Vigia(2).

Lieutenant is interested in the subject, also because the architect Raul Lino has made himself available to elaborate the landscaping project for free. After a meeting with Rodrigo Seisal, son of the Countess of Seisal (owner of the land) it was agreed that the land would be ceded free of charge, under some conditions, which were accepted by the Chamber.

It took 5 years for the work to be completed. During this period the landscaping takes place but, judging by the news that was coming out in the local press, it was doomed to abandonment.

On several occasions news like this was published, at the time of the celebrations of the Feasts of Our Lady of the Cape in 1937. ..."The celebérrimo Miradouro da Vigia will be as it is now, or ....Worse still! Will not our House have some simple shields to have the thistles and nettles that sprinkle the little wolves to be scuttled?" (3).

Or this "The thistle and the bush grow without God's permission and the pole that defects the landscape there continues..." (4).

I presume that these references to thistles led the people, always given to criticizing power, to call it the Garden of Thistles.

Along with these criticisms, there were insistent requests to repair the current street Rodrigo Delfim Pereira, which passes through the garden, because it hindered the circulation between S. Pedro and Estefânia, via Largo Fernando Formigal de Morais (5).

The delays in the construction of the Garden also motivated the intervention of the local press, namely in an interview with the Secretary of the Board of S. Pedro, Francisco Ribeiro e Costa, in the Jornal de Sintra nº 257 of January 8, 1939, when asked when the Miradouro da Vigia will be landscaped, he answered; The Miradouro belongs to the Parish of Santa Maria, but as, practically, it is within the neighborhood of S. Pedro, it has deserved special attention, so we present to the Chamber a suggestion that seems to us to solve the matter.

Delays, maintenance or lack thereof won't have been the only problems with the garden. The project of the architect Raul Lino was not respected, so he intervened through a letter addressed on June 25, 1939, to Francisco Ribeiro e Costa, Secretary of the Parish Council of S. Pedro. In that letter he states that the project was simple, clear, logical, immediate, practical and economical and, reinforcing the idea expressed in the interview in the paragraph above, Raul Lino states that - despite the "body of crime" being outside your parish, what was done was the denial of what had been planned (6).

Raul Lino's concern with the type of flowers and trees that should be planted and with the way in which it should be connected to the surroundings, justified his concerns that are expressed in a document that integrates the work of Dr Ricardo Miguel Oliveira Duarte, which I strongly advise to be consulted (not only for the detail given to this garden as for the rest of the remarkable work on outdoor tiles in Sintra) at the end of this post(7).

In the said document it can be read "It is necessary to put aside any idea of a garden  at english or french way or in any exotic way that is not within the immediate possibilities of an easy creation and maintenance, in case of lack of watering, other care, or because of great natural droughts or prolonged rainy seasons - as is often the case in our region". And he goes on to affirm the need to coat as much as the rock is enough, "letting the grace of the enclosure depend more on the arrangement of the paths and the two viewpoints, than on the variety of any collection of plants."

The importance that Raul Lino gives to the need to change as little as possible in the construction of the garden, explains the reason why it is possible to see part of the rock that existed on the site, in the paths and beds of this garden. The two circular terraces that mark the slope, shaded by two deciduous trees that allow the solarization of the place in winter and shading in summer, the misaligned paths, marked with the original rock, along with the maintenance of the existing stone that in many places of the garden was not covered with earth, are perhaps the reason for the charm of this garden.

And yes, the charm also comes from the domain and the display that make the 3 hills, the Castle, the Pena Palace and the Monte Sereno, in front of this garden. The Serene Hill, also known as Gregory Castle was built on the initiative of Gregório Ribeiro, whose works were completed at about the same time as the inauguration of the Garden and which was intended to be a Pension Restaurant and from where it was possible to have a magnificent view over Sintra (8), as you can see in one of the photos in the link below.

This Garden is also part of the Archaeological Heritage of Sintra, designated by the medieval site of Jardim da Vigia (9).

In this Garden there is also a reference to the Agronomist Mário de Azevedo Gomes (1885-1965) who in the 50's elaborated several studies on climate, soils and forest of the Pena Park. I recall with pleasure a phrase of yours in the book "The Usefulness of Trees" – Nature is comforting when it is beautiful and trees are one of the things of nature that most help to make it beautiful in our eyes.

Out of curiosity, already at the beginning of the existence of the garden was lamented the existence of a pole that clashed in the garden and that prevented the enjoyment of a wide view without interference from it.

At the time of the registration of the inauguration of the garden it could be read – ... a large, unsightly, denigrated telephone pole, from which radiate numerous wires that scratch the landscape (10).

Coincidence or not, the poles (now electricity and telecommunications) are still there to scratch the landscape. Being Sintra World Heritage Site for twenty-seven years, it does not seem to make sense the existence of such wires and poles, visible in the first photo of this text.

It remains for me to inform you that this Garden is located on Rua Rodrigo Delfim Pereira, illegitimate son of the Emperor of Brazil D. Pedro I and our King D. Pedro IV, who was the owner of Quinta Vigia, and in this Quinta was received Queen D. Amélia in the opportunity given by Salazar to search Portugal in 1945.

The son of Rodrigo Delfim Pereira, Manuel Rodrigo Castro Pereira was a very rich person, in addition to Quinta Vigia, owned Quinta das Murtas (which is about 300 m below Jardim da Vigia) and was the grandfather of Francisco Pinto Balsemão. One of Manuel's grandfather's brothers was Rodrigo Castro Pereira, a staunch Salazarist. On April 26, 1974, he donned the Legion uniform, sat in his home in Quinta das Murtas and waited for them to arrest him, which never happened. He later confessed to his nephew Balsemão, in a semi-sarcastic way, that he was very proud to have a nephew as Prime Minister of Portugal (11).

 

sample

Photo of Queen Amelia in the company of the Countess of Seisal, Quinta Vigia on May 22, 1945, obtained in https://www.tagusart.com/pt/auction/lot/id/3553. In the photo you can read Quinta da Vigia Sintra May 22, 1945.

In front of the Garden flow the street Albino José Batista and Rua José Neto Milheiriço, renowned Sintrense doctor target of several thanks in the Journal of Sintra (12) for his professional and human qualities that came to have office in Vila Maria, in Rua do Roseiral, street where is implanted the House of the Cypress of Raul Lino.

Later this prestigious doctor, began to give consultations in his Private House, in Rua D. João de Castro very close to Jardim da Vigia.

(1) - Jornal de Sintra nº 37 of September 16, 1934.

(2) - Jornal de Sintra nº 37 of September 16, 1934.

(3) - Jornal de Sintra nº172 of May 23, 1937 "Ao correr da Pena... Cases and things from Sintra"

(4) - Jornal de Sintra nº 212 of February 27, 1938 "Do Bairro de S.Pedro"

(5) - Jornal de Sintra nº 229 and 234 of 29 June and 31 July 1938

(6) - Documents of Raul Lino included in the Annex to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte of the University of Lisbon – Faculty of Letters – Exterior Tiles in Sintra, Dissertation supervised by Prof. Vitor Serrão.

(7) - Documents of Raul Lino included in the Annex to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte of the University of Lisbon – Faculty of Letters – Exterior Tiles in Sintra, Dissertation supervised by Prof.Doutor Vitor Serrão.

(8) - Jornal de Sintra nº257 of May 21, 1939

(9) - Inventoried Site. Covered by the ZEP of the Cultural Landscape of Sintra - Notice no. 15169/2010, DR, 2nd series, no. 147, of 30-07-2010. In the area corresponding to the Vigia garden, late medieval and modern archaeological materials were collected on the surface that indicate an occupation at the Vigia site, next to the urban core of São Pedro

(10) - Jornal de Sintra nº 275 of May 21, 1939

(11) - Book Memories of Francisco Pinto Balsemão, Porto Editora

(12) - No. 244 of October 9, 1938 and 256 of December 31, 1938

Below the link to more photos of the garden and the articles of the Jornal de Sintra mentioned throughout my description.

https://photos.app.goo.gl/aFBoe5JyXzjpxYno6

Below the link to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte - Exterior Tiles in Sintra and its annex.

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37922/1/ulfl259924_tm.pdf

https://repositorio.ul.pt/handle/10451/37922

(after opening this link, at the bottom of the page, you will find the pdf file with the attachments)

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