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Generalidades

Generalidades

02
Jan24

A propósito de árvores


Vagueando

Há poucos dias publiquei aqui Fui Abraçar Árvores sendo que estas árvores se encontravam em ambiente rústico ou rural se preferirem, pelo que para além de acrescentarem muita beleza à paisagem, contribuírem para tornar o ar mais respirável e para a economia local, servirem de local de abrigo para aves e ainda, no Verão projetarem uma sombra generosa, a probabilidade de atingiram alguém se caírem ou se partir uma pernada é mínima.

A coisa pia mais fino em ambiente citadino, de tempos a tempos lá se parte uma pernada ou cai uma árvore grande porte e, para além dos prejuízos materiais, matam e ferem pessoas com gravidade.

Gosto de ver árvores dentro das cidades, deve ser promovida a sua plantação, ainda que me cause algum arrepio o tamanho de algumas, em especial em dias de vento, nomeadamente quando estão implantadas em zonas muito frequentadas, como é o caso de Sintra.

É que estes acidentes, quando acontecem, a primeira coisa que oiço é que estavam de boa saúde e nada fazia prever a sua queda. Não percebo nada de árvores, muito menos de podas ou desramagens, mas parece-me que quanto maior é a árvore maior o risco de queda ou quebra dos seus ramos.

Vem isto a propósito de uma notícia de 27 de Fevereiro de 1955, publicada no Jornal de Sintra nº 1098, com o título "Árvores Perniciosas" e que reproduzo abaixo, onde era solicitada à JAE - Junta Autónoma das Estradas (aquilo que é agora as Infraestruturas de Portugal) o corte de plátanos, justificando-se com vários constrangimentos que o seu porte provocava.

Ora hoje ninguém pensa em cortar árvores e talvez até de forma um pouco fundamentalista, parece que não se pode também podar árvoes. Assim os plátanos em Sintra atingem hoje nalgumas zonas, altura superior a 20 metros e continuam a crescer. Onde há cabos eléctricos alguns estão sob uma pressão enorme e não parece existir nenhuma preocupação com tal situação, nem da parte da Câmara nem da ERedes.

Ora se não existe vigilância sobre o cabos eléctricos que estão em risco de se partir, deduzo que também não exista vigilância sobre o estado de saúde das árvores.

Pela parte que me toca, o ano passado sofri vários cortes de energia por via do encontro destas ramagens com as linhas eléctricas e até se registou um princípio de incêndio em cabos que estavam a roçar num plátano que foi desramado posteriomente.  A menos de 100 metros do local onde ocorreu este incidente, outros cabos estão na mesma situação, mas parece que ainda não é altura de fazer alguma coisa, espera-se - eventualmente - pelo próximo incêndio.

A outra parte que me toca é que o tal pó referido na notícia de 1955, é um regalo para a minha asma a para os meus olhos que ficam vermelhos como deve estar o peixe fresco e nem o uso da máscara e de óculos me salvam dos transtornos causados.

Nem quero imaginar se um dia, por via de Sintra ser considerado Património Mundial da Humanidade se decidir enterrar os cabos de energia e telecomunicações, retirando os inestéticos postes, até onde podem crescer as árvores em ambiente urbano.

O que vale é que já passaram 28 anos desde que lhe foi atribuída essa classificação e não me parece que tão cedo se proceda ao enterramento dos cabos, na minha rua estava previsto ser em 2023, o que será sempre uma boa desculpa ou, quem sabe, uma boa prática para desramar ou podar alguns dos plátanos existentes.

Não haverá por aí um meio termo entre o fundamentalismo atual e a exigência feita em 1955?

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28
Dez23

Fui abraçar árvores


Vagueando

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Cá estou de novo para mais uma participação 1 foto 1 texto de IM Silva

Há uns dias desloquei-me ao Alentejo, ondei passei uns dias de descanso. Gosto do Alentejo, das cores, do silêncio, das aldeias, dos campos, dos passeios pedestres, das pessoas, dá gosto conversar com desconhecidos no Alentejo.

Durante um passeio pedestre, lembrei-me de desafio da CMCascais em 2017 cujo mote era “Abrace uma árvore!” Sente-se à altura?

Parece que os benefícios de abraçar uma árvore são muitos, segundo este desafio, podem resumir-se a;

  • São os maiores e mais antigos seres do mundo.
  • Produzem o oxigénio, ajudam a regular a temperatura e os níveis de águas nos solos, protegem e conservam os ecossistemas
  • São uma fonte de matérias-primas como combustíveis, madeira, alimentos e até componentes naturais usados nos medicamentos
  • Ajudam a reduzir os níveis de stress e de ansiedade. Vários estudos mostram que a presença de árvores à nossa volta provoca esse efeito.
  • Promovem o aumento dos níveis de concentração e produtividade quer em crianças, quer em adultos.
  • Estão presentes nas nossas recordações de infância

Ora ali estava eu e a minha mulher no meio daquela vastidão, onde várias árvores davam nas vistas pela sua imponência e beleza, não havia nenhum sinal de proibido abraçar árvores, tentei-me e abracei uma, obviamente com a autorização da minha mulher.

Vai daí, achei que o desafio da C.M. Cascais podia ser o mote para este desafio da IMSilva e pronto, cá estou.

Ah, a experiência de abraçar a árvore foi estranha, senti-me um bocado deslocado, até talvez ridículo, não posso dizer que tenha sentido alguns dos benefícios acima indicados, mas é uma experiência que vou repetir, até porque os islandeses, durante a pandemia também aconselhavam as pessoas a abraçar árvores, uma vez que não podiam abraçar-se uns aos outros.

Por último achei que uma foto de uma árvore, no meio de tantas que vi neste passeio era pouco, pelo que criei um álbum das que vi e que quem me ler também pode ver aqui.

https://photos.app.goo.gl/DKbzUtc1mJmo6it77

 

 

 

 

15
Jun23

O Caminho


Vagueando

Comecei a andar por aquele caminho que não sabia para onde ia. O nevoeiro cerrado não deixava perceber em que direção seguia, tinha a noção dos pontos cardeais mas não tinha nenhuma referência que me permitisse identifica-los, era como se tivesse na mão uma bússola desorientada na presença de um íman.

Contudo, simpatizava com aquele caminho, talvez até tivesse carinho por ele, ainda que racionalmente não existissem razões para tal.

Sentia a sua beleza sem a ver, sentia a sua sinuosidade sem a compreender, sentia que subia ou descia através do maior ou menor esforço para caminhar e sentia que devia continuar. O comum dos mortais dar-se-ia como perdido mas eu não estava, afinal nem sabia para onde seguia aquele caminho e também não fazia a mínima ideia para onde queria ir.

Quando os meus pés, único sensor que me ligava à realidade, perdiam a sensação de pisar terra e pedra, passando a tatear um tapete húmido e fofo, sabia que me tinha desviado do caminho e entrado numa floresta. Aí parava e procurava regressar ao caminho que me queria levar não sei onde.

O caminho era abraçado por copas das árvores que não via e pelo nevoeiro que também não me deixava ver os meus pés, mas seguia-o na esperança de encontrar o que não sabia ou com medo de encontrar coisa nenhuma e ficar ali, no caminho ou fora dele.

Caminhei, caminhei, caminhei, sei lá porquanto tempo, também não me interessava o tempo, nem tinha forma de o medir, apenas sabia, através da pouca luz que atravessava aquele espesso nevoeiro, que era dia. O caminho seguia algures não sei por onde e eu seguia para lado nenhum (1).

Fiquei curioso com isto do lado nenhum, como materializar o lado nenhum. Tentei imaginar como o fotografaria, como me sentiria eu ao lado do lado nenhum. Finalmente um bom motivo para continuar, agora tinha um objetivo, encontrar o lado nenhum.

Continuei então, de vez enquanto o vento sacudia as copas das às árvores que aliviavam ruidosamente as gotículas de água que se tinham acumulado nas suas folhas e que sem dó nem piedade, caiam em cima de mim. O vento parecia forte, espaçadamente tão forte com rajadas furiosas. Como era possível sacudir as árvores com tanta violência e deixar o nevoeiro tão calmo a envolver tudo e mais alguma coisa?

Não compreendia.

Era tão estranho que não sabia se estava num ponto alto, onde o nevoeiro gosta de se fixar com maior regularidade ou se ele, nevoeiro, desta vez, tivesse descido tão baixo até ao meu caminho apenas para me atrapalhar ou quem sabe, me ajudar. Não obstante as dificuldades, continuava porque aquele caminho me guiava e de certo modo dava-me tranquilidade, afinal todos os caminhos vão dar a Roma, mas antes de lá chegar, chegam a outros lados, quem sabe se ao lado nenhum. O curioso é que este caminho não se encontrava com outros caminhos, nem sequer uma vereda, que me obrigasse a tomar uma decisão de continuar ou de o abandonar, não tinha nada que enganar, como se eu não me estivesse, quase de certeza, a enganar-me a mim mesmo ao seguir aquele caminho.

Afinal o caminho faz-se caminhando e para a frente é que é caminho.

Sentia cheiros que não conseguia identificar, mas os que identificava permitiam-me saber que aquilo à volta era terra húmida, estava habitua a ter água em abundância. Mas não ouvia água a correr, era como se não existissem rios ou riachos a terra absorvia toda a água que por ali caísse, exceto a que era despejada em cima de mim, pelas árvores em fúria com o vento que as sacudia. Ouvi aqueles chocalhos usados pelo gado nas pastagens. Este som tão tranquilizante, parecia-me longe ou então era perto mas estava abafado pelo nevoeiro e desvirtuado pelo vento. Podia tentar seguir o som na esperança que o cão pastor me farejasse e me conduzisse a alguém. Desculpei-me a mim mesmo, nenhum cão me farejaria, o vento, o nevoeiro, quiçá a distância o impediria de sentir o meu cheiro. Talvez, no fundo, no fundo, não quisesse encontrar mesmo ninguém e seguir o (meu) caminho.

Continuei, sentia agora o vento mais forte e percebi que as árvores teriam ficado para trás, já não recebia salpicos e o vento era mais forte, estava em campo aberto sem o ver, maldito nevoeiro porque não te vais embora. A paisagem que não via assumia-se como fantasmagórica no meu imaginário, mas a roupa começava a secar com a ajuda da brutalidade das rajadas de vento que me dificultavam a progressão no caminho. O caminho seguia e eu seguia-o, como um crente em Deus, mas sem esperança no que quer que fosse, apenas e só com o desejo de continuar.

A dado momento o vento, ainda que forte deixou de se manifestar em rajadas, era mais quente, mais aconchegante não fosse o pó que trazia consigo e que se me colava no rosto, começava a ficar exausto, mas não parava, sempre com o pensamento de que chegaria a algum lado, talvez ao lado nenhum. Estou a sonhar, tenho que acordar, acabar com isto, lavar a cara, já não suporto este pó colado ao rosto que me impede de ver, como se o nevoeiro não bastasse. Mas qual quê, não era sonho era realidade, o nevoeiro e o vento não mentiam, sentia-os e bem.

Seitei-me no chão pedregoso e seco, senti o cheiro do mar, que me reconfortou, fechei os olhos para o imaginar, foi como se tivesse posto os óculos da realidade virtual, vi o mar e praia.

Abri os olhos, o nevoeiro desaparecera, à minha frente tinha uma mulher que me observava, perguntei-lhe o nome, respondeu Mariana.

Demos as mãos, seguimos os dois o caminho, que ainda estamos a caminhar, até que a morte nos separe e ainda não encontramos o lado nenhum. Desde esse dia, encontramos sim, lado a lado, muitos e bons lugares, por todos os lados. 

(Título de um livro espantoso da autora Júlia Navarro e cuja história explica o que é ser de lado nenhum)

09
Abr22

Jardim da Vigia - Sintra


Vagueando

 

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Panorâmica do Jardim da Vigia

At the end of the text in Portuguese you will find the English version of this post

Tratando-se de Sintra, cuja fama é reconhecida dentro e fora de portas, profusamente retratada e descrita em prosa e poesia, prefiro começar este texto com uma descrição de Sintra, assinada por “X.”no Jornal de Sintra nº 222 de 08 de maio de 1938.

A Beleza da Serra de Sintra, por ser obra de Deus, está muito acima da concepção humana. Nem prosadores, nem poetas, verberando muito embora em rasgos de génio imortal, conseguirão jamais, com os seus escritos, igualar a sua Beleza maravilhosa e incomparável.

E uma frase também de um texto de Carlos Sombrio no Jornal de Sintra 205 de 09 de Janeiro de 1938, sob o título “Aguarela de Sintra”.

…fazendo de Sintra a Grande Catedral do Silêncio.

Neste sentido, não sendo eu historiador, nem escritor, nem poeta, embora faça umas fotos aceitáveis, não esperem ficar a conhecer Sintra pelo que aqui escrevo e, se ainda não vieram a Sintra, não se deixem encantar pelas fotos que aqui deixo porque, mesmo estas não chegam para ilustrar esta terra.

Por outro lado, vou centrar-me exclusivamente no jardim indicado no título.

Arrabalde, Miradouro da Vigia, Campo ou Monte da Vigia, Jardim da Vigia, Jardim dos Cardos, Miradouro da Condessa de Seisal, sete designações, um só lugar, lindíssimo.

Nas pesquisas feitas na imprensa local, desde os anos 30, nomeadamente no Jornal de Sintra, encontrei todas estas expressões para designar o local. Porquê tantos nomes para um só lugar?

Arrabalde – É parte de uma povoação que, por sua vez, faz parte de uma vila mas fora dos muros desta. Este local estava fora do centro a chamada Vila, onde se encontra o Palácio Nacional de Sintra. Daí parecer fazer sentido que lhe chamassem Arrabalde, palavra que deriva do árabe ar-rabad que significa arredor.

Monte da Vigia e Campo da Vigia – O nome Vigia não consegui apurar de onde deriva, mas especulo que por se tratar de um bom local de vigia pela desafogada vista que tinha (a serra de Sintra e redondezas não apresentava a profusão de arvoredo que hoje conhecemos).

Do lado esquerdo do Jardim existem as Escadinhas da Vigia e em frente deslocada para a direita está a Quinta da Vigia. A adoção do nome Vigia parece assim fazer sentido.

A designação de Campo ou de Monte, deduzo que o local antes de ser jardim poder ser designado por monte, nome que usamos para designar uma pequena elevação, ou campo, nome que se atribui também a um ponto de vista.

Miradouro da Condessa de Seisal- A Condessa de Seisal, Maria Germana de Castro Pereira (dama fiel e próxima da Rainha D. Amélia) era a proprietária do local onde o Jardim se encontra implantado, cedeu gratuitamente o terreno para que nele fosse construído o Jardim. Daí que a adoção do seu nome é da mais elementar justiça.

No Jardim é possível apreciar um obelisco de granito, da autoria do arquiteto Raul Lino com a inscrição “Miradouro da Condessa de Seisal”.

Jardim da Vigia ou Jardim dos Cardos – Trata-se da alteração de Monte da Vigia para Jardim uma vez que o local, segundo o Jornal de Sintra nº 275 de 21 de Maio de 1939 foi finalmente ajardinado.

Quanto à designação Jardim dos Cardos deixarei para mais à frente. Este Jardim, também conhecido pelos nomes acima, sempre me atraiu.

Não consigo definir um motivo de atração, porque são vários.

Desde a vista deslumbrante que nos oferece sobre a Serra de Sintra, aos seus rústicos, estreitos e assimétricos caminhos, às suas árvores e plantas, à sua história, a forma como se integra na paisagem, até ao gosto porque sim e porque gostos não se discutem. É um excelente lugar de contemplação.

Não há muito tempo foi ali rodado um excerto do filme Frankie com Isabelle Hupert, filme a que fui assistir, para ver como este magnífico jardim seria retratado pelo realizador Ira Sachs. Fiquei com a impressão que o filme vale mais pela paisagem de Sintra e pelas imagens do Jardim, do que pelo seu próprio enredo.

Como espectador privilegiado, uma vez que sou “obrigado” a passar por ali quando saio ou chego a casa, já vi por ali gente abraçando longamente os plátanos. Também vejo pintores, e fotógrafos que ficam por ali à espera das mudanças de luz, caminheiros nas suas voltas por Sintra fazem sempre uma paragem, turistas apressados, curiosos, admiradores, gatinhos à trela saboreando a vista e o sol e até uma simpática e tranquila ovelha, costuma passear por lá atrás da sua dona.

Como era o local e que acontecimentos ocorreram até à sua construção.

O Campo da Vigia à época mais não era que um monte de pedras, muitas das quais, propositadamente, ainda são visíveis como o leitor irá perceber com o avançar desta história.

Arrabalde.png

Nesta foto (1826/1929) retirada do arquivo da Câmara Municipal de Sintra, é possível ver o local (do lado esquerdo) onde hoje existe o jardim, a pedra calcária era dominante. A serra despida de arvoredo e ao fundo do lado esquerdo da estrada o portão de acesso à Quinta da Vigia.

A menos de 100m em linha reta, para a esquerda da foto encontra-se a Casa do Cipreste de Raul Lino onde anteriormente existia uma pedreira, da qual ainda existem vestígios dado o cuidado que o arquiteto colocou na sua construção de modo a integra-la na paisagem com o mínimo impacto.

A primeira referência sobre este jardim, descrevia o local como Campo da Vigia. No Jornal de Sintra (1), publicava-se uma carta enviada pelo Sr Tenente Mário Pimentel relativa ao ajardinamento do Monte da Vigia, indicando ter sido contatado por Mário Ribeiro da Comissão de Iniciativa e Turismo que lhe terá pedido, em nome da Comissão de Melhoramentos de S. Pedro, apoio para o ajardinamento do Campo da Vigia(2).

O Sr.Tenente interessa-se pelo tema, também pelo facto do arquitecto Raul Lino se ter disponibilizado a elaborar o projecto de ajardinamento de forma gratuita. Depois de uma reunião com Rodrigo Seisal, filho da Condessa de Seisal (dona do terreno) foi acordado que o terreno seria cedido de forma gratuita, sob algumas condições, que foram aceites pela Câmara.

Foram necessários 5 anos para que a obra se completasse. Durante este período ocorre o ajardinamento mas, a avaliar pelas notícias que iam saindo na imprensa local, esteve votado ao abandono.

Em várias ocasiões eram publicadas notícias como esta, por altura das celebrações das Festas da Nossa Senhora do Cabo em 1937. …“O celebérrimo Miradouro da Vigia se encontrará como actualmente, ou ….Pior ainda! Não terá a nossa Câmara uns singelos escudos para mandar desbastar os cardos e as urtigas que medram à vontadinha?”(3).

Ou ainda esta “O cardo e o tojo crescem sem licença de Deus e o poste que defeitua a paisagem por lá continua…” (4).

Presumo que estas referências aos cardos terão levado a que o povo, sempre dado a criticar o poder, o apelidasse de Jardim dos Cardos.

A par destas críticas, corriam insistentes pedidos para se efetuar a reparação da atual rua Rodrigo Delfim Pereira, que passa pelo jardim, porque dificultava a circulação entre S. Pedro e a Estefânia, via Largo Fernando Formigal de Morais (5).

Os atrasos na construção do Jardim também motivaram a intervenção da imprensa local, nomeadamente numa entrevista ao Secretário da Junta de S. Pedro, Francisco Ribeiro e Costa, no Jornal de Sintra nº 257 de 08 de Janeiro de 1939, ao ser questionado quando será ajardinado o Miradouro da Vigia, respondeu; O Miradouro pertence à Freguesia de Santa Maria, mas como, praticamente, está dentro do bairro de S. Pedro, tem-nos merecido especial atenção, pelo que apresentamos à Câmara uma sugestão que nos parece resolver o assunto.

Os atrasos, a manutenção ou a falta dela não terão sido os únicos problemas do jardim. O projeto do arquiteto Raul Lino não foi respeitado, pelo que este interveio através de uma carta dirigida em 25 de Junho de 1939, a Francisco Ribeiro e Costa, Secretário da Junta de Freguesia de S. Pedro. Nessa carta refere que o projeto era simples, claro, lógico, imediato, prático e económico e, reforçando a ideia expressa na entrevista no parágrafo acima, Raul Lino refere que - não obstante o “corpo do delito” estar fora da vossa freguesia, o que foi feito era a negação do que havia sido planeado (6).

A preocupação de Raul Lino com o tipo de flores e árvores que deveriam ser plantadas e com a forma com que o mesmo se deveria ligar à envolvente, justificavam as suas preocupações que estão expressas num documento que integra o trabalho do Dr Ricardo Miguel Oliveira Duarte, que aconselho vivamente a ser consultado (não só pelo detalhe dado a este jardim como pelo resto do notável trabalho sobre a azulejaria de exterior em Sintra) no final deste post(7).

No referido documento pode ler-se “É preciso por de lado qualquer ideia de um jardim “á inglesa” ou “á francesa” ou de qualquer maneira exótica que não esteja dentro das possibilidades imediatas de uma fácil criação e mantença, em caso de falta de rega, de outros cuidados, ou por motivo de grandes secas naturais ou de prolongadas épocas chuvosas- como é frequente dar-se na nossa região” . E continua afirmando a necessidade revestir quanto baste a rocha “deixando que a graça do recinto dependa mais da disposição dos caminhos e do dois miradoiros, do que da variedade de qualquer coleção de plantas.

A importância que Raul Lino dá à necessidade de se alterar o mínimo possível na construção do jardim, explica a razão pela qual é possível ver parte da rocha que existia no local, nos caminhos e canteiros deste jardim. Os dois terraços circulares que marcam o desnível, sombreados por duas árvores de folha caduca que permitem a solarização do local no Inverno e o sombreamento no Verão, os caminhos desalinhados, marcados com a rocha original, a par da manutenção da pedra existente que em muitos sítios do jardim não foi coberta de terra, talvez sejam a razão do encanto deste jardim.

E sim, o encanto também vem do domínio e da exibição que fazem os 3 montes, o do Castelo, o do Palácio da Pena e o do Monte Sereno, em frente deste jardim.  O Monte Sereno, também conhecido por Castelo Gregório, foi construído por iniciativa de Gregório Ribeiro, cujas obras se concluíram mais ou menos na mesma altura da inauguração do Jardim e que se destinava a ser uma Pensão Restaurante e de onde era possível ter uma vista magnífica sobre Sintra (8), como se pode ver numa das fotos existentes no link abaixo.

Este Jardim faz também parte do Património Arqueológico de Sintra, designado pelo sítio medieval do Jardim da Vigia (9).

Neste Jardim existe ainda uma referência ao Engenheiro Agrónomo Mário de Azevedo Gomes (1885-1965) que na década de 50 elaborou vários estudos sobre clima, solos e floresta do Parque da Pena. Recordo com prazer uma frase sua no livro “A Utilidade das Árvores” – A natureza é consoladora quando é bela e árvores é uma das coisas da natureza que mais ajudam a torna-la bela aos nossos olhos.

A título de curiosidade, já no início da existência do jardim se lamentava a existência de um poste que destoava no jardim e que impedia que se desfrute de ampla vista sem que interferência deste.

Aquando do registo da inauguração do jardim podia ler-se – …um poste telefónico grande, inestético, denegrido, donde irradiam numerosos fios que riscam a paisagem (10).

Coincidência ou não, os postes (agora de electricidade e de telecomunicações) continuam ali a riscar a paisagem. Sendo Sintra Património Mundial da Humanidade há vinte sete anos, não parece fazer sentido a existência de tais fios e postes, visíveis na primeira foto deste texto.

Resta-me informar que este Jardim fica localizado na Rua Rodrigo Delfim Pereira, filho ilegítimo do Imperador do Brasil D. Pedro I e nosso Rei D.Pedro IV, que foi proprietário da Quinta Vigia, sendo que nesta Quinta foi recebida a Rainha D. Amélia na oportunidade dada por Salazar para revistar Portugal em 1945.

O filho de Rodrigo Delfim Pereira, Manuel Rodrigo Castro Pereira era pessoa muito rica, para além da Quinta Vigia, possuía a Quinta das Murtas (que fica a cerca de 300 m abaixo do Jardim da Vigia) e era o avô de Francisco Pinto Balsemão. Um dos irmãos do avô Manuel, era Rodrigo Castro Pereira, salazarista convicto. No dia 26 de abril de 1974, vestiu a farda Legião, sentou-se na sua casa, na Quinta das Murtas e esperou que o viessem prender o que nunca aconteceu. Mais tarde terá confessado ao seu sobrinho Balsemão, de forma semi-sarcástica que tinha muito orgulho em ter um sobrinho como Primeiro-ministro de Portugal (11).

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Foto da Rainha D. Amélia na companhia da Condessa de Seisal, Quinta Vigia em 22 de Maio de 1945, obtida em https://www.tagusart.com/pt/auction/lot/id/3553. Na foto é possível ler-se Quinta da Vigia Sintra 22 de maio de 1945.

Em frente ao Jardim desembocam a rua Albino José Batista e a Rua José Neto Milheiriço, conceituado médico sintrense alvo de vários agradecimentos no Jornal de Sintra (12) pelas suas qualidades profissionais e humanas que chegou a ter consultório na Vila Maria, na Rua do Roseiral, rua onde está implantada a Casa do Cipreste de Raul Lino.

Mais tarde este prestigiado médico, passou a dar consultas na sua Casa Particular, na Rua D. João de Castro muito próxima do Jardim da Vigia.

(1) - Jornal de Sintra nº 37 de 16 de Setembro de1934.

(2) - Jornal de Sintra nº 37 de 16 de Setembro de1934.

(3) - Jornal de Sintra nº172 de 23 de Maio de 1937 “Ao correr da Pena… Casos e coisas de Sintra”

(4) - Jornal de Sintra nº 212 de 27 de Fevereiro de 1938 “Do Bairro de S.Pedro”

(5) - Jornal de Sintra nº 229 e 234 de 29 de Junho e 31 de Julho de 1938

(6) - Documentos de Raul Lino incluídos no Anexo ao trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte da Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras – Azulejaria de Exterior em Sintra, Dissertação orientada pelo Prof.Doutor Vitor Serrão.

(7) - Documentos de Raul Lino incluídos no Anexo ao trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte da Universidade de Lisboa – Faculdade de Letras – Azulejaria de Exterior em Sintra, Dissertação orientada pelo Prof.Doutor Vitor Serrão.

(8) - Jornal de Sintra nº257 de 21 de maio de 1939

(9) - Sítio Inventariado. Abrangido pela ZEP da Paisagem Cultural de Sintra - Aviso n.º 15169/2010, DR, 2.ª série, n.º 147, de 30-07-2010. Na área correspondente ao jardim da Vigia foram recolhidos à superfície materiais arqueológicos tardomedievais e modernos que indicam uma ocupação no sítio da Vigia, junto ao núcleo urbano de São Pedro

(10) - Jornal de Sintra nº 275 de 21 de maio de 1939

(11) - Livro Memórias de Francisco Pinto Balsemão, Porto Editora

(12) - Nº 244 de 09 de outubro de 1938 e 256 de 31 de dezembro de 1938

Abaixo o link para mais fotos do jardim e dos artigos do Jornal de Sintra mencionados ao longo da minha descrição.

Sugiro que vejam as fotos com os comentários abertos para acompanhar a descrição de cada foto.

https://photos.app.goo.gl/aFBoe5JyXzjpxYno6

Abaixo o link para o trabalho de Ricardo Miguel Oliveira Duarte - Azulejaria de Exterior em Sintra e respetivo anexo.

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37922/1/ulfl259924_tm.pdf

https://repositorio.ul.pt/handle/10451/37922  (depois de abrir este link, no final da página, encontra o ficheiro pdf com os anexos)

English Version

Note; This translation was automatically generated through an online translator so it may contain some expressions that do not faithfully translate the Portuguese version

 

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Panoramic view of Jardim da Vigia

In the case of Sintra, whose fame is recognized inside and outside doors, profusely portrayed and described in prose and poetry, I prefer to begin this text with a description of Sintra, signed "X." in Jornal de Sintra nº 222 of May 8, 1938.

The Beauty of the Serra de Sintra, because it is the work of God, is far above the human conception. Neither prose writers nor poets, though in traces of immortal genius, will ever be able with their writings to match their marvellous and incomparable Beauty.

And a sentence also from a text by Carlos Sombrio in the Jornal de Sintra 205 of January 9, 1938, under the title "Watercolor of Sintra".

... making Sintra the Great Cathedral of Silence.

In this sense, not being a historian, nor a writer, nor a poet, although I make some acceptable photos, do not expect to get to know Sintra by what I write here and, if you have not yet come to Sintra, do not be enchanted by the photos that I leave here because, even these do not come to illustrate this land.

On the other hand, I will focus exclusively on the garden indicated in the title.

Arrabalde, Miradouro da Vigia, Campo ou Monte da Vigia, Jardim da Vigia, Jardim dos Cardos, Miradouro da Condessa de Seisal, seven designations, one place, beautiful.

In the searches done in the local press, since the 30s, namely in the Jornal de Sintra, I found all these expressions to designate the place. Why so many names for one place?

Arrabalde – It is part of a village that, in turn, is part of a village but outside the walls of it. This place was outside the center the so-called Vila, where the National Palace of Sintra is located. Hence it seems to make sense that they would call it Arrabalde, a word that derives from the Arabic ar-rabad meaning around.

Monte da Vigia and Campo da Vigia – The name Vigia I could not ascertain where it derives from, but I speculate that because it is a good place of lookout for the unobstructed view that had (the mountain range of Sintra and surroundings did not present the profusion of trees that we know today).

On the left side of the Garden there are the Escadinhas da Vigia and in front shifted to the right is the Quinta da Vigia. The adoption of the name Vigia thus seems to make sense.

The designation of Field or Mount, I deduce that the place before being garden can be designated by hill, name that we use to designate a small elevation, or field, name that is also attributed to a point of view.

Viewpoint of the Countess of Seisal- The Countess of Seisal, Maria Germana de Castro Pereira (faithful lady and close to Queen Amelia) was the owner of the place where the Garden is implanted, gave free of charge the land so that the Garden was built in it. Hence the adoption of his name is of the most elementary justice.

In the Garden it is possible to appreciate a granite obelisk, by the architect Raul Lino with the inscription "Miradouro da Condessa de Seisal".

Jardim da Vigia or Jardim dos Cardos – This is the change from Monte da Vigia to Jardim since the place, according to the Jornal de Sintra nº 275 of May 21, 1939 was finally landscaped.

As for the designation Garden of Thistles I will leave it for later. This Garden, also known by the names above, has always attracted me.

I can't define one reason for attraction, because there are several.

From the breathtaking view that it offers us over the Serra de Sintra, to its rustic, narrow and asymmetrical paths, to its trees and plants, to its history, the way it integrates into the landscape, to the taste because yes and because tastes are not disputed. It is an excellent place of contemplation.

Not long ago, an excerpt from the film Frankie with Isabelle Hupert was shot there, a film I went to watch to see how this magnificent garden would be portrayed by director Ira Sachs. I was under the impression that the film is worth more for the landscape of Sintra and the images of the Garden, than for its own plot.

As a privileged spectator, since I am "forced" to pass by when I leave or get home, I have seen people there hugging the plane trees at length. I also see painters, and photographers who stay there waiting for the changes of light, hikers around Sintra always make a stop, hurried tourists, curious, admirers, kittens on a leash savoring the view and the sun and even a friendly and quiet sheep, usually strolls there behind its owner.

What the site was like and what events took place until its construction.

The Watchtower Field at the time was nothing more than a heap of stones, many of which, purposely, are still visible as the reader will realize as this story progresses.

 

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In this photo (1826/1929) taken from the archive of the Sintra City Hall, it is possible to see the place (on the left side) where today there is the garden, the limestone was dominant. The mountain stripped of trees and at the bottom of the left side of the road the access gate to Quinta da Vigia.

Less than 100m in a straight line, to the left of the photo is the Casa do Cipreste of Raul Lino architect where previously there was a quarry, of which there are still traces given the care that the architect put in its construction in order to integrate it into the landscape with the minimum impact.

The first reference about this garden, described the place as Campo da Vigia. In the Jornal de Sintra (1), a letter sent by Lieutenant Mário Pimentel regarding the landscaping of Monte da Vigia was published, indicating that he had been contacted by Mário Ribeiro of the Commission of Initiative and Tourism who had asked him, on behalf of the Commission for the Improvement of S. Pedro, support for the landscaping of Campo da Vigia(2).

Lieutenant is interested in the subject, also because the architect Raul Lino has made himself available to elaborate the landscaping project for free. After a meeting with Rodrigo Seisal, son of the Countess of Seisal (owner of the land) it was agreed that the land would be ceded free of charge, under some conditions, which were accepted by the Chamber.

It took 5 years for the work to be completed. During this period the landscaping takes place but, judging by the news that was coming out in the local press, it was doomed to abandonment.

On several occasions news like this was published, at the time of the celebrations of the Feasts of Our Lady of the Cape in 1937. ..."The celebérrimo Miradouro da Vigia will be as it is now, or ....Worse still! Will not our House have some simple shields to have the thistles and nettles that sprinkle the little wolves to be scuttled?" (3).

Or this "The thistle and the bush grow without God's permission and the pole that defects the landscape there continues..." (4).

I presume that these references to thistles led the people, always given to criticizing power, to call it the Garden of Thistles.

Along with these criticisms, there were insistent requests to repair the current street Rodrigo Delfim Pereira, which passes through the garden, because it hindered the circulation between S. Pedro and Estefânia, via Largo Fernando Formigal de Morais (5).

The delays in the construction of the Garden also motivated the intervention of the local press, namely in an interview with the Secretary of the Board of S. Pedro, Francisco Ribeiro e Costa, in the Jornal de Sintra nº 257 of January 8, 1939, when asked when the Miradouro da Vigia will be landscaped, he answered; The Miradouro belongs to the Parish of Santa Maria, but as, practically, it is within the neighborhood of S. Pedro, it has deserved special attention, so we present to the Chamber a suggestion that seems to us to solve the matter.

Delays, maintenance or lack thereof won't have been the only problems with the garden. The project of the architect Raul Lino was not respected, so he intervened through a letter addressed on June 25, 1939, to Francisco Ribeiro e Costa, Secretary of the Parish Council of S. Pedro. In that letter he states that the project was simple, clear, logical, immediate, practical and economical and, reinforcing the idea expressed in the interview in the paragraph above, Raul Lino states that - despite the "body of crime" being outside your parish, what was done was the denial of what had been planned (6).

Raul Lino's concern with the type of flowers and trees that should be planted and with the way in which it should be connected to the surroundings, justified his concerns that are expressed in a document that integrates the work of Dr Ricardo Miguel Oliveira Duarte, which I strongly advise to be consulted (not only for the detail given to this garden as for the rest of the remarkable work on outdoor tiles in Sintra) at the end of this post(7).

In the said document it can be read "It is necessary to put aside any idea of a garden  at english or french way or in any exotic way that is not within the immediate possibilities of an easy creation and maintenance, in case of lack of watering, other care, or because of great natural droughts or prolonged rainy seasons - as is often the case in our region". And he goes on to affirm the need to coat as much as the rock is enough, "letting the grace of the enclosure depend more on the arrangement of the paths and the two viewpoints, than on the variety of any collection of plants."

The importance that Raul Lino gives to the need to change as little as possible in the construction of the garden, explains the reason why it is possible to see part of the rock that existed on the site, in the paths and beds of this garden. The two circular terraces that mark the slope, shaded by two deciduous trees that allow the solarization of the place in winter and shading in summer, the misaligned paths, marked with the original rock, along with the maintenance of the existing stone that in many places of the garden was not covered with earth, are perhaps the reason for the charm of this garden.

And yes, the charm also comes from the domain and the display that make the 3 hills, the Castle, the Pena Palace and the Monte Sereno, in front of this garden. The Serene Hill, also known as Gregory Castle was built on the initiative of Gregório Ribeiro, whose works were completed at about the same time as the inauguration of the Garden and which was intended to be a Pension Restaurant and from where it was possible to have a magnificent view over Sintra (8), as you can see in one of the photos in the link below.

This Garden is also part of the Archaeological Heritage of Sintra, designated by the medieval site of Jardim da Vigia (9).

In this Garden there is also a reference to the Agronomist Mário de Azevedo Gomes (1885-1965) who in the 50's elaborated several studies on climate, soils and forest of the Pena Park. I recall with pleasure a phrase of yours in the book "The Usefulness of Trees" – Nature is comforting when it is beautiful and trees are one of the things of nature that most help to make it beautiful in our eyes.

Out of curiosity, already at the beginning of the existence of the garden was lamented the existence of a pole that clashed in the garden and that prevented the enjoyment of a wide view without interference from it.

At the time of the registration of the inauguration of the garden it could be read – ... a large, unsightly, denigrated telephone pole, from which radiate numerous wires that scratch the landscape (10).

Coincidence or not, the poles (now electricity and telecommunications) are still there to scratch the landscape. Being Sintra World Heritage Site for twenty-seven years, it does not seem to make sense the existence of such wires and poles, visible in the first photo of this text.

It remains for me to inform you that this Garden is located on Rua Rodrigo Delfim Pereira, illegitimate son of the Emperor of Brazil D. Pedro I and our King D. Pedro IV, who was the owner of Quinta Vigia, and in this Quinta was received Queen D. Amélia in the opportunity given by Salazar to search Portugal in 1945.

The son of Rodrigo Delfim Pereira, Manuel Rodrigo Castro Pereira was a very rich person, in addition to Quinta Vigia, owned Quinta das Murtas (which is about 300 m below Jardim da Vigia) and was the grandfather of Francisco Pinto Balsemão. One of Manuel's grandfather's brothers was Rodrigo Castro Pereira, a staunch Salazarist. On April 26, 1974, he donned the Legion uniform, sat in his home in Quinta das Murtas and waited for them to arrest him, which never happened. He later confessed to his nephew Balsemão, in a semi-sarcastic way, that he was very proud to have a nephew as Prime Minister of Portugal (11).

 

sample

Photo of Queen Amelia in the company of the Countess of Seisal, Quinta Vigia on May 22, 1945, obtained in https://www.tagusart.com/pt/auction/lot/id/3553. In the photo you can read Quinta da Vigia Sintra May 22, 1945.

In front of the Garden flow the street Albino José Batista and Rua José Neto Milheiriço, renowned Sintrense doctor target of several thanks in the Journal of Sintra (12) for his professional and human qualities that came to have office in Vila Maria, in Rua do Roseiral, street where is implanted the House of the Cypress of Raul Lino.

Later this prestigious doctor, began to give consultations in his Private House, in Rua D. João de Castro very close to Jardim da Vigia.

(1) - Jornal de Sintra nº 37 of September 16, 1934.

(2) - Jornal de Sintra nº 37 of September 16, 1934.

(3) - Jornal de Sintra nº172 of May 23, 1937 "Ao correr da Pena... Cases and things from Sintra"

(4) - Jornal de Sintra nº 212 of February 27, 1938 "Do Bairro de S.Pedro"

(5) - Jornal de Sintra nº 229 and 234 of 29 June and 31 July 1938

(6) - Documents of Raul Lino included in the Annex to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte of the University of Lisbon – Faculty of Letters – Exterior Tiles in Sintra, Dissertation supervised by Prof. Vitor Serrão.

(7) - Documents of Raul Lino included in the Annex to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte of the University of Lisbon – Faculty of Letters – Exterior Tiles in Sintra, Dissertation supervised by Prof.Doutor Vitor Serrão.

(8) - Jornal de Sintra nº257 of May 21, 1939

(9) - Inventoried Site. Covered by the ZEP of the Cultural Landscape of Sintra - Notice no. 15169/2010, DR, 2nd series, no. 147, of 30-07-2010. In the area corresponding to the Vigia garden, late medieval and modern archaeological materials were collected on the surface that indicate an occupation at the Vigia site, next to the urban core of São Pedro

(10) - Jornal de Sintra nº 275 of May 21, 1939

(11) - Book Memories of Francisco Pinto Balsemão, Porto Editora

(12) - No. 244 of October 9, 1938 and 256 of December 31, 1938

Below the link to more photos of the garden and the articles of the Jornal de Sintra mentioned throughout my description.

https://photos.app.goo.gl/aFBoe5JyXzjpxYno6

Below the link to the work of Ricardo Miguel Oliveira Duarte - Exterior Tiles in Sintra and its annex.

https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/37922/1/ulfl259924_tm.pdf

https://repositorio.ul.pt/handle/10451/37922

(after opening this link, at the bottom of the page, you will find the pdf file with the attachments)

14
Mar22

Árvores de rapina


Vagueando

Muito recentemente realizei mais um passeio pedestre, por acaso aqui ao lado. Pode ser que um dia destes venha até aqui para o descrever, já que tem montes e vales, bem como montes de coisas cheias de interesse para ver.

É daqueles passeios pedestres em que a sucessão de coisas lindas para serem vistas são tantas, que nem damos pelo tempo nem pelo cansaço.

Contudo, por hoje deixo apenas estas duas fotos do percurso.

P3090043.JPGComo desconheço completamente a espécie destas árvores, resolvi chamar-lhes árvores de rapina.

P3090081.JPG

 

 

 

 

 

 

Ora as aves de rapina são assim designadas porque o termo rapina designa roubo ou saque. Estas aves raptam as suas presas usando as grandes garras para as prender firmemente e aguentá-las em voo, suportando não só o seu peso mas também a força gerada pela deslocação do ar.

Estas árvores também possuem enormes garras (raízes) também roubam os poucos nutrientes que chegam a estas pedras e também se aguentam muito bem com os vendavais que a natureza se encarrega de enviar para aqui, quando lhe apetece.

Ali estavam elas, imponentes, equilibristas, belas e pelos vistos bem ancoradas.

A natureza permite roubos destes e ainda bem, alegrou-me o dia.

10
Out21

Ai,ai, o Outono ainda agora chegou


Vagueando

 

20210923_091159.jpg

A natureza é perfeita, segundo dizem, embora eu discorde.

Talvez o problema seja meu, humano, sensível a estados de alma e a minha alma não gosta nada do Outono.

Aliás se a natureza fosse perfeita, não existiram terramotos, dilúvios e vulcões que destroem um pouco de tudo por onde passam, incluindo vidas humanas e vida selvagem. Dizem que a culpa é nossa que contribuímos e muito para que a natureza seja agressiva. Pois que seja agressiva connosco, se nos julgar culpados. Contudo, se fosse perfeita não seria agressiva com a vida selvagem a qual, supostamente, vive em perfeita harmonia com a natureza.

É por isso que existem humanos a defender, com unhas e dentes, a dita, por vezes provocando uma autêntica selvajaria, que a vida selvagem não usa.

Regressando ao Outono essa maldição que, com uma beleza estonteante, se abate sobre mim.

Detesto-o, aliás se a natureza fosse perfeita jamais permitira que uma estação (do ano) passasse pela Terra, quanto mais implantar-se por cá durante 3 meses.

O Outono desencanta-me, deprime-me, tira-me luz ao meu dia, transformando-os em meios-dias de luz, ou menos, quando o nevoeiro estaciona em Sintra, piorando ainda mais a minha angústia.

Porque não um Outono, com frio, com chuva, com vento, com tudo aquilo a que tem direito, mas com dias grandes?

A Ciência a Astronomia explicam-nos a razão pela qual os dias encolhem no Outono mas eu não quero que me expliquem, gostaria que fosse de outra forma e ninguém tem a solução para evitar chegada ou a passagem do Outono, pelo menos em Sintra.

Quando me dizem não há impossíveis, desato-me a rir.

Quem me dera, que me desculpem os ecologistas, poder viajar agora mesmo, de preferência num jacto supersónico, para o hemisfério Sul. Ficar por lá durante a sua Primavera e o seu Verão e regressar de novo a Portugal só no próximo mês de março.

Como infelizmente não posso, vou vendo o Sol cada vez mais deitado a fingir que ilumina as ruas e as árvores com cada vez menos folhas e vou deliciando-me (a única coisa que me anima nesta altura do ano) com as múltiplas cores que as árvores de folha caduca apresentam.

Não há paleta de cores que represente tão bem aquele colorido das folhas caídas. Se calhar, afinal, a natureza é perfeita!

O Sol também merece descanso ou seremos nós que merecemos noites maiores para dormirmos e descansarmos mais?

Não sei se alguém padece deste mal. Se sim poderíamos formar um movimento anti-outono, assim como assim, há por aí muitos movimentos anti-qualquer coisa, seríamos apenas mais uns a fazer figura de urso.

Por acaso não sei se os ursos gostam do Outono, mas acredito que gostem destas fotos, até porque, tanto quanto sei, não há ursos em Sintra e como ainda não pertenço a nenhum movimento anti-outono, julgo eu, não estou a fazer figura do dito.

Tenho dito e mais não digo, porque o silêncio também fala, em especial no Outono.

Com este desânimo quase me esqueci das fotos, que podem ser vistas no link abaixo. As minhas desculpas para a fraca qualidade, mas a minha máquina fotográfica, quem sabe por causa do Outono, tem-se recusado a sair comigo, pelo que tenho recorrido ao telemóvel, esse amigo/inimigo que nos acompanha por toda a parte.

https://photos.app.goo.gl/wuUj4Ei2uGwGpPVv9

 

 

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