Recordações da minha avó materna
Desafio 1 foto 1 texto de IMSilva
Vagueando
A foto de hoje no âmbito do desafio 1 foto 1 texto de IMSilva, despertou as minhas memórias sobre a minha avó materna.
Andava sempre com este ditado na boca - quem não é para comer também não é para trabalhar - e, quando eu ainda jovem torcia o nariz a alguma comida que vinha à mesa, por exemplo, cozinha de batatas ela olhava para mim com ar ternurento mas decidido, porque percebia que eu não gostava e dizia, come que isto não te mata e - o que não mata engorda.
Eu encolhido, fingia que comia e pronto aguentava estoicamente à mesa com os adultos, porque já sabia que não teria direito a sobremesa, naquela altura era assim mesmo, ainda não se fazia as vontades todas às crianças. Vai daí a minha tia ia servir-me uma fatia de bolo que, obviamente, rejeitei por não ter comido a cozinha de batatas. A minha avó percebeu a deixa e voltou à carga - quem não come por ter comido, não é doença de perigo.
Já quando se tratava de comida de que gostava, bifes com ovo a cavalo, batata frita, enchidos, queijo, alambazava-me e rapava o prato. Aí lá vinha mais um ditado dela - mais vale alimentar um burro a pão de ló - ao que eu respondia, para alinhar na paródia, tenho que comer carne porque - peixe não puxa carroças.
Só existia mesmo um ditado popular que a minha referia mesmo a sério quando se punha comida a mais no prato que depois não se comia , lá vinha a ladainha - tens mais olhos que barriga - e rematava - asno com fome até cardos come.
E assim aprendi a nunca desperdiçar comida.
Voltando à foto. Tirei-a esta semana quando cheguei a uma esplanada em Sintra e me deparei com este desperdício.
Bem sei que - cada um come do que gosta - mas, desperdiçar comida assim faz-me muita confusão. Se não se gosta não pede, se era grande, partilhava-se a tosta mista, se só se aperceberam do tamanho das tostas quando chegaram à mesa, levavam o resto, mas este espetáculo, nunca.
É falta de respeito por quem tem fome, é obsceno, é pornográfico.
Se estas pessoas se tivessem lembrado - do guarda que comer, não guardes que fazer - teriam guardado mesmo as sobras para dá-las a alguém.
Para terminar com mais um ditado popular (até rima), costuma dizer-se que - há hora de comer sempre o Diabo trás mais um.
Pois neste caso foi pena não ter aparecido um (pobre) diabo que tivesse ficado com estas sobras, certamente teria dado graças a Deus.