O meu conto de Natal
Vagueando
Nem sei se vos conte! Havia estrelas no céu, estrelado portanto e luar, aluado portanto. A Lua que não tem luz, quis demonstrar às estrelas que, mesmo sem luz, ainda que com a ajuda de Apu Inti, Deus do Sol para os Incas, também brilha, ou seja, faz um brilharete.
Os habitantes inter-galácticos aproveitaram esta combinação luminosa, para em nome da poupança e das alterações meteorológicas do espaço sideral, não usar as artificiais iluminações de Natal.
As estrelas, por unanimidade, uniram-se em figuras natalícias, misturaram os seus gases originando brilhos de várias cores e tons de rara e estonteante beleza, só comparável às cores dos anéis de Saturno.
Não houve concurso púbico inter-estelar para gerar esta empatia e consenso, apenas e só uma participação colectiva, regida pelas melhores práticas que uma sociedade em paz e harmonia pode adoptar. Parece que os parlamentos terrestres de todo o mundo já pediram cópia destas melhores práticas, as quais envergonham a sociedade terrestre, que se obriga a criar códigos de ética e/ou de conduta.
Os corpos celestes esmeraram-se e arrasaram, até os terrestres estavam ao mesmo tempo maravilhados e assustados com aquelas formações estelares, porque inclusive a sua via láctea estava mais brilhante do que nunca e tão geometricamente organizada e colorida que havia quem dissesse que era o fim do Mundo.
Alguns defendiam mesmo que a previsão apocalíptica do fim do mundo, anunciado para 2000, estava completamente errada, porque a combinação certa seria a junção de dois, dois, ou seja, 2020!
O Pai Natal, acossado na Terra com os direitos dos animais, aproveitou o facto de neste planeta andarem todos desorientados com esta grandiosa e inesperada iluminação natalícia, (os serviços secretos mundiais andavam numa roda viva a desconfiar uns dos outros) para se apropriar de um satélite de espionagem (mais rápido e furtivo, as alfandegas não conseguem cobrar impostos sobre as prendas) e usá-lo por controlo remoto, disponibilizado pela app “Natal para Apressados” para fazer a distribuição dos presentes, encomendados (quiçá merecidos) online, of course.
Entretanto as renas estavam tristes porque não se podiam reformar, nem podiam requerer o subsídio de desemprego. É que o Pai Natal não as tinha despedido, apenas as tinha posto em lockout.
No meio disto tudo, o Menino Jesus estava para nascer e como a mãe, Maria, tinha ido a Belém, cidade com muita afluência turística nesta época, deparou-se com o caos nos hospitais e com as estalagens completas. Desesperada informou um dos estalajadeiros que estava grávida e prestes a ter a criança. Foi-lhe oferecido um cantinho no estábulo da estalagem, onde foi colocada, numa manjedoura, palha biológica muito fina e fofinha, para deitar o menino. A esposa do estalajadeiro ofereceu os seus préstimos a Maria e em troca esta comprometeu-se a não informar a ASAE, que andava muito activa na sua missão fiscalizadora, que tinha sido alojada no estábulo, ainda por cima sem direito a Pequeno Almoço.
O estalajadeiro mandou ainda o seu filho levar todos os animais para o estábulo do tio, porque a AdAdBeG-Associação dos Amigos dos Bichos em Geral -, não queriam que estes ficassem traumatizados ao assistirem ao parto de Maria e também porque o burro tinhas as marcas de uma canga, usada para o atrelar à nora e andar à roda até ficar à nora ou tirar água durante a noite (que também era proibido, o burro não podia ser usado para trabalhar) para o serviço da estalagem.
Lá está, a AdAdBeG, é uma associação de defesa dos animais, cujos pareceres e deliberações não são vinculativos, vive da carolice dos seus associados, tem muito mais poder que a ASAE e daí a preocupação.
Por sua vez os Reis Magos tiveram também alguns problemas logísticos para chegar até ao Menino Jesus.
Primeiro, porque alguém os avisou que as suas vestes eram compostas por cores que sugeriam estarem conotadas com pessoas do sexo masculino, dai que à última hora resolveram fazer algumas alterações adoptando cores misóginas, para não ferir susceptibilidades e não transmitir ao Menino Jesus nenhum laivo que o pudesse vir a tornar, no futuro, um machista. Segundo, porque os camelos não possuíam o boletim de vacinação em dia, bem como foi preciso esperar pelo resultado de uma providência cautelar interposta pela AdC - Amigos dos Camelos - que não queriam que estes fossem utilizados para o transporte de prendas e ainda porque se suspeitava que os dromedários não tinham armazenado água suficiente para a jornada e sabia-se que não existia nenhum oásis de serviço pelo caminho (férias natalícias oblige). Tudo se resolveu a contento, com excepção das exigências da AdC, e os Reis Magos lá se fizeram ao caminho. Por último, ainda que os Reis Magos, fossem isso mesmo, magos, palavra que na altura não tinha nenhuma conotação com o significado que lhe atribuímos hoje, mas sim porque a designação significava que se tratava de pessoas reconhecidas pelos seus conhecimentos científicos, em especial na área de astronomia, de nada lhes valeu.
É que a estrela que lhe servia de guia, tinha-se juntado à formação de estrelas que polvilhava o céu na iluminação de Natal inter-galáctica e lá foi a orientação para o galheiro e, por azar, nenhum deles tinha GPS que já existiam na época, mas ainda não eram um sucesso porque os satélites que lhes emitem o sinal ainda não tinham sido enviados para o espaço.
Ao que se sabe, os governadores do espaço andavam numa guerra de tarifas comerciais com os terrestres e as naves carregadas com os satélites aguardavam que o Natal lhe trouxesse a necessária autorização para entrar em órbita.
Este foi o meu primeiro post como resposta ao desafio proposto pela Isabel, o meu conto de Natal. Não sei se é um conto, se conta par alguma coisa ou se fazemos a conta depois do Natal. Contudo, a todos o Um Bom Natal.