Dia das Mentiras
Vagueando
Nunca desesperei tanto pelo dia um de abril, dia das mentiras. Contudo, hoje, fui à janela e o silêncio, que antes era de ouro, hoje é pechisbeque.
Não se via vivalma, não se via carros, não se via gente, não se via nem alegria nem a tristeza que carregamos. Até a tristeza se escondeu, se confinou, mas não nos abandonou.
A verdade que sonhava ser mentira é afinal verdade, não só para mim, mas para todos neste retângulo virado ao mar, também ele acantonado e cercado pelo vírus Ligo a televisão, vejo e escuto as notícias, mesmo que a minha deficiência auditiva me impeça de ouvir tudo, percebo o essencial, que não é pouco; O Mundo parou.
Basta!
A verdade que sonhava ser mentira é, afinal verdade. Não só para nós, não só para a Europa, mas para todos. O Mundo está parado, abismado, enclausurado, silenciosamente revoltado, à espera que a verdade se transforme em mentira.
Ouço João Pedro Pais a cantar Mentira, Mentira, abstraio-me da letra, centro-me na melodia, suaviza-me o sofrimento.
Tenho saudades de te ver
Vontade de te abraçar
Sozinho tocando uma guitarra Junto ao mar
Recordo-me de ti
Imagino porquê
A tua cara a flutuar
Porque é que a vida Nos fascina?
Tantas vezes nos domina?
Acreditar que no amor Não se sente dor
Mas é mentira! Mentira, mentira!
Regresso à letra, acredito que no amor, mesmo que se sinta dor, sempre será bem melhor do que acreditar que é mentira que o vírus nos encheu de horror e de muita dor.