Confinamento
Vagueando
O confinamento tem destas coisas.
Incomoda-me o silêncio que me chega das ruas, incomoda-me a distância social, incomoda-me ver o tempo com outro ritmo, demasiado lento, tristonho, insosso, incomoda-me não ouvir os risos e os gritos de alegria das crianças, incomoda-me ver portas fechadas, trancadas, a sete chaves como diz o povo, incomoda-me ver as calçadas descalças de gente, incomoda-me saber que há gente a sofrer por ter que tomar decisões dramáticas sobre gente que também sofre, incomoda-me estarmos todos tão perto, cada um dentro do seu andar e ao mesmo tempo tão longe, incomoda-me ver gente a trabalhar duramente para que possamos estar em casa, incomoda-me não saber nada sobre o vírus, incomoda-me saber que tanta gente saiba tudo sobre o vírus e não saiba como impedir que nos contagie, incomoda-me ter que ter tantos cuidados e, mesmo assim, saber que podem ser tão poucos.
Tudo me incomoda.
No meio de tanto incómodo, necessitei deslocar-me a uma clínica veterinária para comprar um medicamento para o meu cão, dei de caras com o anúncio acima e fiquei incomodado.
Afinal com tanta inovação, tanta ciência, tanta inteligência artificial, tanto conhecimento cientifico, tanta certeza, tanta vida, tanto bem estar que já se falava que a imortalidade estava aí, eis senão quando, descobrimos que andávamos entretidos com bolos de aniversário para cães.