Atenção ciclista à vista
Vagueando
Li por aí que a União Europeia está a avaliar a possibilidade de os acidentes entre ciclistas e automobilistas, serem pagos pelos seguros destes últimos, ainda que sem culpa do automobilista. Chamam-lhe Responsabilidade Objectiva.
Ainda que acreditando na bondade da medida, gostaria de tecer os seguintes comentários, salvaguardando desde já, que sou ciclista, mas também peão e automobilista.
Automobilistas, peões e ciclistas não são classes estanques, em que cada um ocupa o seu espaço, somos todos nós e necessitamos de regras para uma sã convivência no espaço público que utilizamos, a estrada. Em caso de acidente entre automobilistas e peões/ciclistas estes últimos são, efetivamente, o elo mais fraco.
Tomando isto como ponto de partida, importa clarificar duas situações muito importantes;
- O peão ou ciclista, justamente por serem o elo mais fraco, devem rodear-se de todos os cuidados (os que estão na lei e os que não estão, mas que o bom senso aconselha) para se proteger.
- O peão ou ciclista, pode ter razão quando sofre um acidente e ser ressarcido financeiramente pelos danos sofridos. Todavia, nada, mesmo nada, pode minorar o seu sofrimento e dor.
Ora o que eu vejo nos meus congéneres ciclistas, na cidade e na estrada é que descuram a sua proteção. Ignoram sinais vermelhos, ignoram a prioridade, circulam em contramão, sem luzes e refletores, por cima dos passeios (os peões pelos vistos pela perspetiva do ciclista não tem direitos), vestem-se maioritariamente de negro e até as Associações que os defendem, põem em causa que o uso do capacete seja útil como forma de proteção.
Ainda que seja óbvio que não se deve fazer nada disto, acresce o facto de, caso não tenham dado por isso, a maioria destas situações são proibidas pelo Código da Estrada.
Para manter a tal sã convivência na estrada, os ciclistas viram aprovado um novo Código da Estrada “O desejado” destinado a dar-lhes mais proteção. Estranhamente são os próprios ciclistas a desrespeitá-lo ostensivamente. Nasceu uma classe de utentes da estrada (ecológicos como convém) que passaram a fazer da via pública uma coutada para as suas duas rodas.
Uma boa parte destes ciclistas investe em máquinas e acessórios valores que chegam facilmente aos 2 mil euros ou mais mas não compram uns refletores ou luzes. E não o fazem por falta de dinheiro, mas apenas porque ou são fundamentalistas no que toca ao peso das suas bikes e por isso aquelas gramas a mais afeta-lhes o ritmo de treino ou acham que os refletores ou as luzes (obrigatórias pelo Código da Estrada) estraga-lhes o visual das bicicletas.
Recusam-se a pagar um seguro porque é caro (as Associações que os defendem apoiam-nos). O que farão quando, por exemplo, circulam em cima do passeio ou passam um sinal vermelho, atropelarem um idoso ou um profissional liberal que fiquem impedidos, no primeiro caso de continuar a fazer a sua vida normal, ou no segundo caso, impedido durante um período de tempo de trabalhar. Quem paga? Em suma, os ciclistas estão convencidos que o novo CE delegou nos automobilistas a responsabilidade de os proteger.
Sobre esta casta de ciclistas e respetivo associativismo, estamos conversados.
O que sucede quando estes peões e ciclistas passam a pilotar o seu carro? Não sei nem quero saber, mas espero que a Polícia e a GNR os sancione duramente como automobilistas, mas também como peões e ciclistas quando, gratuitamente, ignoram o Código da Estrada. O que eu não posso admitir é como automobilista, ser responsável por mim nesta qualidade e por mim na qualidade de ciclista e peão. Caso contrário, não sou gente sou inconveniente, presumido, e pedante.
A UE que defende esta responsabilidade objetiva, parece que nos está a encaminhar para uma irresponsabilidade coletiva.