Depois das vistas curtas as vistas baixas
Vagueando
Daqui a pouco, sensívelmente duas horas, é hora de cumprir o desafio 1foto 1 texto, lançado por IMSilva.
Jogando na antecipação, coloco desde já a minha participação.
A partir do dia em que nos erguemos para começarmos a andar e, simultaneamente, a crescer e a ganhar altura, começamos a ver o que nos rodeia sempre do nosso ponto de vista e apenas o que está à nossa frente.
Assim, ao longo da nossa vida, os nosso olhos observam o mundo à altura da nossa altura e, por isso quem sabe, frequentemente referimos que temos que estar à altura dos acontecimentos.
Quando caímos, a nossa primeira reação é levantar-nos, de preferência rapidamente, para que ninguém se aperceba da nossa queda.
O nosso corpo é como um tripé de uma máquina fotográfica, ainda que funcione ao contrário deste, já que são as nossas pernas que giram quando queremos ter uma visão de 360º .
Como sempre gostei muito de fotografar, as primeiras fotos que fiz tinham que incluir sempre pessoas, desde que estas estivessem generosamente banhadas pela luz milagrosa do Sol. Não passava pela cabeça de ninguém (que eu conhecesse) tirar fotos onde não estivesse alguém, primeiro porque as pessoas eram o centro das atenções e depois porque fotografar era caro, muito caro e não valia a pena gastar dinheiro com fotos onde não estivessem pessoas.
Contudo, eu tinha outros olhares, mas não os podia mostrar, não me era permitido fotografar o que via, desde que lá não estivessem pessoas.
Mais tarde, com o primeiro emprego e com a minha primeira máquina, comecei a destruir dinheiro em revelações e impressões de fotos sem pessoas mas, desilusão, não correspondiam ao que tinha visto ou então não gostava de ver na foto aquilo que tinha gostado de ver sem a máquina fotográfica à frente dos olhos.
Descobri que a minha visão e a visão da máquina fotográfica registavam coisas diferentes, embora a perspetiva do olhar fosse o mesmo, ou seja, a lente e a minha visão estavam ao mesmo nível, ainda que a amplitude do meu olhar fosse superior à amplitude da lente.
Entretanto, descobri que gosto de ver o mundo como se os meus olhos estivessem muito mais baixos, digamos nos pés e comecei a fazer fotos ao nível do chão.
Curiosamente, a este nível tão baixo, as fotos que obtenho satisfazem-me, mesmo com o sacrifício de me deitar no chão para as obter e confesso, que ao contrário do que sentia antes, agora gosto mais do resultado obtido com as fotos do aquilo que vi quando as realizei.
Como nota final, tenho que acrescentar que não me deitei no chão para realizar esta foto, que fique bem claro, ainda que a luz não permitisse, aquela hora do dia, total clareza.
Tenho que dizer isto, porque normalmente quando alguma atividade oferece algum risco, nomeadamente físico, costuma-se escrever “não tente fazer isto em casa”, mas no caso desta foto eu acrescento “não tente fazer isto na rua”.