Hoje ao vaguear pelo meu computador sustentável, apenas e só na medida em que uso energia renovável para o alimentar a maior parte do tempo em que está ligado, dou de caras com dois acontecimentos.
O primeiro cai-me no email e reveste-se de um convite para ir apreciar um novo carro, elétrico, cheio de novas tecnologias, construído da forma mais sustentável possível. Um exemplo, para reduzir a quantidade de cabos elétricos necessários para comandar os vidros, os interruptores passaram para a consola central evitando-se assim alguns cabos elétricos que seriam necessários ir da porta do condutor até todos os vidros do carro, para que o condutor os possa operar todos.
Não obstante, o carro mais pequeno da Volvo, com cuidados de sustentabilidade extra, pode ser equipado, se o cliente assim o quiser e puder pagar o exagero, com dois motores para obter uma potência de 428 cavalos e assim conseguir acelerar dos 0 aos 100 km/h em 3,6 segundos, com uma autonomia de 450 km. Cada um faz com o seu dinheiro o que bem entender contudo, o custo do motor extra, do consumo (desnecessário) extra, acaba por ser suportado por todos, mesmo os que não possuem qualquer carro.
Fazer-se este esforço de sustentabilidade e depois usar dois motores, quando a mesma versão, apenas com um motor, tem uma potência de 272 cavalos e uma autonomia de 475 km, não parece sensato, nem sustentável.
Quando a Toyota e Datsun apareceram nos anos 70, o segredo da sua economia e preço acessível, estava no peso que rodavam os 700kg, justamente para serem económicos (sustentáveis). Estando os fabricantes de automóveis a usar cada vez materais mais leves, este Volvo EX30, pesa cerca de 2.000 kg.
Nos Toyta e Datsun cada cavalo tinha que puxar por 10Kg, no Volvo Ex30 cada cavalo puxa por 4,6Kg no caso da versão com dois motores ou 7,35kg na versão de apenas um motor.
Não deveríamos, em nome da sustentabilidade, da coerência que andamos a exigir aos governos para que rapidamente, acabem com o petróleo, começar por exigir carros mais leves, abdicando do conforto, por exemplo, abrindo e fechando os vidros com as mãozinhas a dar à manivela, ou prescindir de bancos com regulação elétrica ou da tampa da mala com abertura elétrica, ou usar apenas um motor?
Ou a sustentabilidade não passa de estratégia de venda em que efectivamente pouco ou nada se altera senão a fonte de energia, a qual em muitos países ainda é obtida maioritariamente com recurso a fontes poluentes?
O segundo evento refere-se a uma notícia que me enviaram, via Wahts App. onde se dá conta que um restaurante em Lisboa, Sala de Corte, que nunca tinha ouvido falar, tem no seu menu carne, Rib Eye Kobe, a 950 euros/Kilo.
Ora então e o que tem de sustentável, desculpem, de especial esta carne?
Pois trata-se, segundo a notícia, de um bovino nascido e criado no Japão, na área de Hyogo, da raça Japanese Black e linhagem Tijama e tem entre 28 e 60 meses, sendo alimentados com plantas selecionadas de arroz e milho e criados em ambientes tranquilos, para evitar o stresse.
Presumo que estes bovinos também se peidam e, como tal, são altamente poluentes, pelo menos é que dizem, não sei se o Polígrafo já o confirmou ou desmentiu.
Aí está um bifito, que chega ao prato sem stress, não sei se antes de ser servido é sujeito a algum stress test, mas no qual nunca vou por a beiças, por causa do meu stress/sustentabilidade financeira.
Assim como assim, ainda que a produção de vinho seja mais sustentável (já existe vinho bio) também nunca me passou pelas beiças um Pera Manca tinto, adivinhem porquê? O stress financeiro da minha carteira.
Contudo, depois da palestra em Assembleia Municipal do Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, já comprei, uma garrafa de Pera Manca Branco, vinho banal que, ainda assim talvez seja um sinal de que estou a viver acima das minhas possibilidades.
Caramba, mesmo sem gostar de vinho branco, já vou poder gabar-me de ter bebido um Pera Manca. Eu consigo entender esta coisa da inovação gastronómica, fica bem nas redes sociais, alimenta mais o ego e a nossa página do Facebook do que o nossa barrinha e sustenta bem a publicidade destes restaurantes.
A propósito de inovação gastronómica e sustentabilidade, há uns cinco ou seis anos, estava a jantar num restaurante conhecido junto a uma praia algarvia, perto de Castro Marim. A brisa era morna, enquanto esperava pela comida ia conversando com a minha mulher, até que reparei que o sal que estava em cima da mesa, era importado da África do Sul. Para quem desconhece a zona, informo que as salinas de Castro Marim, onde costumo comprar sal e flor de sal, por sinal de excelente qualidade cada vez que passo por lá de férias, ficam a cerca de 5km do restaurante!
Ora então vamos lá esperar por 2024 altura em que chega o carro (sustentável) da Volvo, para ir comer um bife (de vaca não stressada, eventualmente sustentável) na Sala de Corte, desde que o dito bife seja temperado pelo chefe Salte Bae, com sal (sustentável) da África do Sul, sim porque não acredito que o sal das salinas de Castro Marim tenha o pedigree necessário para a mão de chefs de alto gabarito.