UMM , junto ao Cabo da Roca - Nascido onde a Terra acaba e o mar começa
A maioria dos portugueses não sabe, mas a indústria automóvel nacional já produziu treze marcas de automóveis, algumas delas bastante inovadoras e com qualidade. Contudo, por razões de diversa ordem, não se impuseram no mercado e, pior que isso, facilmente caíram no esquecimento.
Circulam ainda por aí alguns exemplares destas marcas, como é o caso do jipe UMM, resta saber até quando.
Somos muito bons a elogiar o passado, talvez devido à saudade tipicamente portuguesa, mas somos péssimos a preservar o que temos.
Ouvimos falar que a indústria nacional de componentes para automóveis é reconhecida pela sua grande qualidade, que emprega muita gente, que são detidas maioritariamente por portugueses, que exportam que se farta, contribuindo assim muito para o PIB. A perspetiva é puramente económica.
Sado 550 (Foto obtida na Internet - Jornal dos Clássicos)
Lembram-se do micro carro Sado 550 que apareceu por volta de 1982, com 28 cv de potência, 480kg de peso e 110 km/h de velocidade máxima, tendo sido produzidos à volta de 300 veículos?
Dezasseis anos mais tarde, o conceito repete-se e aparece o SMART associado à Mercedes. Ao contrário do SMART, o Sado foi subestimado pelos portugueses, tipo coisa foleira, aquilo era para quem não tinha carta.
Como se a pressão ambiental não bastasse, pouca gente se interessa pelo exemplo vivo da nossa indústria automóvel, o UMM, conhecido também por Um Monte de Merda que, por acaso, não é.
Se um UMM restaurado for estacionado ao lado de um Mini ou de um MG antigo, os portugueses vão espreitar os carros ingleses e marimbam-se no UMM. O ACP, o Automóvel Club de Portugal (sim é mesmo de Portugal) até organiza um Raly/Passeio de Clássicos, a que chamam “O Passeio dos Ingleses” no qual só se podem inscrever automóveis produzidos no Reino Unido.
Sem entrar em grandes detalhes, o Reino Unido tem cerca 18 marcas de automóveis, desapareceram a Austin a Morris, a Triumph, mas fizeram renascer o Mini e o Jaguar. Conseguiram catapultar para fora o culto dos seus carros, nomeadamente através do ACP com a organização do Passeio dos Ingleses e nós próprios não somo capazes da fazer cá dentro o que ingleses conseguiram fazer dentro e fora do seu país.
Imaginem o que seria se um carro concebido em Portugal, por portugueses e até fabricado em Portugal, lhe fosse colocada uma bandeira portuguesa no tablier, lhe fosse pintada a bandeira portuguesa no tejadilho e fosse equipado com farolins traseiros que representassem a bandeira portuguesa. Seria de mau gosto certamente, mas foi isso que o Reino Unido fez com o seu novo Mini e em Portugal não falta quem o compre.
Homenagear, proteger, divulgar, acarinhar uma marca de automóveis portuguesa é que já é mais complicado. Não entendo se isto se deve a falta de apoio político, falta de interesse dos empresários nacionais, se falta de orgulho nacional ou se é, apenas e só, desprezo por nós próprios. Contudo, tenho a certeza de que não existe falta de capacidade técnica e humana, porque os carros já produzidos provaram o contrário.
Falta olhar para o nosso património automobilístico, para lá do plano meramente económico, olhar com espírito de missão, com empenho e motivação.
Será que não existe em Portugal, para além dos clubes e amigos do UMM, motivação e empenho que permita preservar a marca, não deixar que perca a sua identidade, não deixar que morra, por exemplo, por falta de peças de reposição? Vamos permitir que UMM desapareça, como aconteceu com todos os outros carros fabricados por portugueses em Portugal?
Imaginem por um momento que o Cristiano Ronaldo comprava e restaurava um UMM, isso impulsionaria a preservação da Marca?
Em Inglaterra existem, diversos clubes destinados a preservar os seus automóveis, que fornecem peças e apoio a quem os possui. Não é possível fazer o mesmo em Portugal?
Podem sempre dizer-me que somos poucos, que não temos mercado, que não temos dimensão. Será só isso?
Então não éramos muito menos quando partimos em busca de UMM (Um Mundo Melhor) e nos aventurámos na epopeia dos Descobrimentos?
E éramos assim tantos e tão ricos, quando em 17 de Junho de 1922, já passaram 100 Anos, Gago Coutinho e Sacadura Cabral realizaram a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul?
Esta pequenez não nos impediu de realizar feitos bem maiores, comparativamente ao esforço para empreendermos uma tarefa menor, tão simples, como não deixar morrer o que foi construído e bem, o UMM.
Faz-nos falta UMM (Unir as Melhores Memórias) e empreender a missão de, desta vez, não deixar morrer, tal como fizemos a todos os anteriores, mais um veículo nacional. Não queremos UMM (Uma Marca Morta) mas sim UMM (Uma Marca Memorável).