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Generalidades

Generalidades

27
Set22

O flagelo dos atropelamentos


Vagueando

 

20220925_132322 (2).jpg

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Mais do que tentar perceber a razão pela qual existem atropelamentos em Portugal, custa-me perceber porque razão os peões colocam desnecessáriamente, a sua vida em risco.

Não tenho dúvidas que o automobilista, ao ter a condução de um veículo, cujas características, podem infligir ferimentos graves num peão, tem a responsabilidade de assumir uma condução prudente em locais onde circulam peões.

Quanto aos peões, que são os elos mais frágeis nesta equação, resta-lhes quase sempre o consolo de não serem culpados, quando são atropelados, mas são eles que suportam o sofrimento, as incapcidades e até a morte.

Porque se expõem então ao risco desnecessário circulando onde não podem, de costas para o trânsito?

Estas imagens, que se observam diariamente por todo o país, são ilustrativas daquilo a que Herman José muito bem classificava; Não havia necessidade!  Pode ver aqui - Não havia necessidade

27
Set22

Ser ambientalmente responsável


Vagueando

Enquanto sou bombardeado com notícias,  que temos  de mudar de vida, porque não há planeta B, eis que sou confrontado com notícias interessantes sobre o respeito que vamos tendo pelo ambiente.

Hoje na Sapo sou brindado com um record futebolistico,  onde participou o português Luis Figo. Tratou-se de um jogo de futebol, para constar no Guiness, disputado dentro de um avião, a 6 mil metros de altitude, que simulava a gravidade zero. Não foi só o record de jogar em gravidade zero, foi também a gravidade no impacto que estas coisas têm para o ambiente. Pode ler a notícia aqui - Record Guiness.

A outra notícia tem a ver com uma situação contrária. 597 mergulhadores concentraram-se no Sábado em Sesimbra, com o objetivo de bater outro record do Guiness, o que foi conseguido, juntar o maior número de mergulhadores para recolher plástico no mar, pode-se ler aqui - Recolha de plástico Sesimbra.

Ora aí está como vemos o ambiente, quem tem dinheiro para brincar fá-lo sem problema e sem problemas de consiciência ambiental, enquanto outros se voluntariam para limpar o que não deveria estar sujo, afinal os plásticos não chegam ao mar em modo de condução autónoma, nem por qualquer processo de inteligência artificial.

 

Nota Posterior à data do post (17/10/2022) - Entretanto leio o artigo, A Batalha do Nosso Futuro, de Diogo Queiroz de Andrade, na revista do Expresso, Edição 2607, de 14 de Outubro de 2002 e fiquei totalmente esclarecido sobre a questão ambiental , na versão de uma corrente de gente rica, denominada "longtermism" e fiquei esclarecido sobre todas as questões ambientais. Sugiro a leitura, mais que não seja, para ficarem a saber como o Mundo dos "influencers" ricos funciona ou melhor como condiciona os governos eleitos.

 

23
Set22

Cão Fantasma


Vagueando

 

 

20220922_214143.jpg

Este é o meu cão, melhor a minha cadela. Dócil, meiga, grande, dono-dependente, na medida em que é muito apegada aos donos, típico da sua raça, Weimaraner, caçador ( o que pode trazer alguns dissabores), muito ativa e brincalhona, também conhecida por cão fantasma.

Para não estragar mais a imagem com palavras, decidi recorrer a quem sabe usá-las com mestria, e tirei este excerto do livro fabuloso, "Um cão como nós" de Manuel Alegre.

- Será que um cão tem espírito?, perguntou-me o meu filho do meio?.

Olhei para ele surpreendido. E acabei por responder:

- Não sei  sequer se nós próprios temos espírito ou se é o espírito que nos tem ou está em nós.

-É isso o que eu queria dizer. Olha para ele.

Era um fim de tarde de Agosto, o cão estava parado frente ao mar, o pêlo muito luzidio, a cabeça levantada, narinas abertas, sorvendo o ar.

-  Ele está a cheiar o espírito.  O espírito da terra, o espírito do vento, o espírito das águas.

21
Set22

Não sei como isto é (tão descaradamente) tolerado


Vagueando

Notícia CNN Junho 2022

A Polícia de Segurança Pública (PSP) registou 555 acidentes com trotinetes nos últimos cinco anos, que provocaram 13 feridos graves e 441 feridos ligeiros, revelam dados enviados à Lusa por aquela força de segurança.

A PSP destaca que desde 2018 tem verificado “uma subida do número de acidentes, bem como o aumento da gravidade, atendendo à evolução de feridos leves e graves”, registando-se uma exceção em 2020, em que o número de desastres com trotinetes foi inferior devido às restrições de mobilidade e aos confinamentos em consequência da pandemia de covid-19.

Segundo os dados daquela polícia, em 2018 ocorreram 29 acidentes com trotinetes, número que subiu para 169 no ano seguinte, registando uma descida em 2020 (97), voltando a subir para 290 em 2021 e este ano já se verificaram 88.

Quanto aos feridos graves, ocorreram três em 2019, dois em 2020, sete em 2021 e um nos primeiros cinco meses deste ano. Por sua vez, os feridos ligeiros situaram-se nos 21 em 2018, 119 em 2019, 69 em 2020, 245 em 2021 e 71 este ano.

No entanto, estes números não refletem a realidade, uma vez que muitos dos acidentes envolvem apenas as trotinetes, sem colisão com outro veículos, e estes casos não são comunicados à PSP, indicou à Lusa a vice-presidente da Prevenção Rodoviária Portuguesa, Rosa Pita.

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Hoje à hora de almoço tive que circular a pé na Baixa de Lisboa, durante cerca de hora e meia e o que vi deixou-me estupefacto.

Ciclistas a descer em sentido contrário a Calçada do Sacramento, vários ciclistas e trotinetes a descer em sentido contrário a Rua Garret, às vezes em grupo de dois ou mais.

Nos passeios que circundam a Praça D.Pedro IV várias trotinetes circulavam em cima dos passeios, algumas delas transportando dois passageiros.

Na passagem onde mal cabem dois peões entre a estação do Rossio e o Café Gelo, várias trotinetas passaram pelo local obrigando os peões a encolherem-se.

Nesta Praça estavam parados dois carros da PSP sendo que um deles me pareceu tipo uma esquadra móvel, nos passeios estavam 4 polícias consultando os seus telemóveis e nenhum destes condutores sentiu qualquer receio ou demonstrou mais cuidado a circular onde estão proibidos de circular.

Reparo que nas trotinetes está escrito "Não circules no passeio". Mas a geração de jovens que as usa, os tais mais qualificados de sempre, não sabem ler? Ou são qualificados mas não em respeito? E que tal umas aulas de cidadania e desenvolvimento?

A falta de respeito destes cidadãos e cegueira intencional de quem os devia multar é mesmo o novo normal.

Os peões em Lisboa passsaram a ser personae non gratae em Lisboa e noutras cidades

 

19
Set22

Encontro de raridades em Sintra e um fenómeno


Vagueando

 

Sintra é conhecida, mesmo em pleno Verão, pelo seu microclima, nevoeiro, frio, humidade, chuva e vento, em especial de manhã e nos finais de tarde.

Talvez por isso, muitos espetáculos ao ar livre são cancelados devido a este microclima.

Contudo, tal como apregoavam os cauteleiros antigamente (agora as cautelas até já nos são impingidas nos balcão dos CTT) há horas de sorte e ontem, em Monserrate, não foi só uma hora de sorte, foi um final de dia fantástico.

Isto porque;

  • A temperatura estava excelente.
  • Não havia nevoeiro.
  • A despedida do Sol foi incrivelmente bela.
  • Não estava vento, nem sequer uma brisa.
  • O Teor de humidade era baixo.
  • A luz estava fantástica, a chuva caída na semana passada limpou toda a poeira do ar, aumentando a qualidade dos raios solares em todo o parque.
  • Esteve presente o fenómeno do piano - Mário Laginha - que acrescentou à beleza paisagística do anfiteatro relvado de Monserrate, a beleza musical .

Sintra é sempre uma descoberta, até para mim, residente há 64 anos, nunca tinha visitado o parque no final do dia e ainda por cima nestas condições.

Porque se trata de uma raridade, partilho convosco as fotos do evento.

https://photos.app.goo.gl/inAbWAbAP1YvdaK2A

 

12
Set22

Escusa de Responsabilidade


Vagueando

O termo está na ordem do dia, quiçá vulgarizado, não sei se bem ou mal, pelas melhores ou piores razões.

Quem pede escusa de responsabilidade, assumirá as suas responsabilidades pelo seu uso porque, afinal, está a responsabilizar alguém pela impossibilidade técnica/prática de assumir a sua, como, em condições normais lhe compete.

Daí que, como cidadão comum, venho publicamente afirmar a minha escusa de responsabilidade ao cumprimento de alguns artigos do Código da Estrada.

Esta declaração deve-se ao facto de sentir que quando estou a respeitar a sinalização existente ou não tenho alternativa em respeitá-la, estou a contribuir para a ocorrência de acidentes, eventualmente, graves.

Dou alguns exemplos:

1 -Quanto me aproximo de uma zona com semáforos que passam a vermelho quando se ultrapassa o limite de velocidade definido, sou frequentemente ultrapassado, mesmo quando a linha contínua pintada no pavimento o proíbe ou, corro o risco de ser abalroado.

2 – Em caso de obras nas vias rodoviárias, já não é a primeira vez que me deparo com sinais de proibição de circular a mais de 10km/h, mesmo quando não está lá ninguém a trabalhar e não parece existir perigo em circular a velocidades superiores. Alguém que é perito nesta área já me explicou que o bom senso deve imperar e, daí que seja “lícito” circular a velocidades superiores para não causar embaraço ao trânsito. Ao que eu respondo será que o radar tem bom senso? E quem coloca estes sinais tem bom senso ou são espalhados sem critério?

3 – O que não falta por aí são estradas onde curvas e lombas, já para não falar em entroncamentos ou cruzamentos, onde a pintura no pavimente permite ultrapassagens. Ora se for de noite, não conhecendo a estrada e na ausência de luzes em sentido contrário, se executar uma ultrapassagem nestes locais e degenerar em acidente não posso ser responsável por ele, ou posso?

4 -Em muitos entroncamentos e cruzamentos estão carros estacionados que me impedem de circular à direita como é obrigatório. Assim quando viro à direita ou à esquerda, para outra via sobre a qual não tenho visibilidade, acabo por fazê-lo em contramão, para poder contornar o carro que lá está estacionado.

Só não sei como formalizar esta minha escusa de responsabilidade e isto faz-me mal à saúde, complica-me com os nervos, se ficar doente, já sei que posso sair de lá pior e a responsabilidade, não sendo de ninguém, acaba por ser minha. Não se pode adoecer em Agosto, mas o meu drama não é exclusivo deste mês,

Andei às voltas nos sítios de várias entidades oficiais, nomeadamente no IMT e não encontrei nenhum formulário para o efeito.

Não há condições para pedir a escusa de responsabilidade. Isto é responsabilidade de quem?

11
Set22

Lembram-se das anedotas sobre; Um alemão, um francês e um português?


Vagueando

Na minha juventude era comum contarem-se anedotas que envolviam sempre um portugês e mais uns quantos, normalmente de nacionalidade francesa, alemã e espanhola. 

Não venho contar nenhuma anedota, antes fosse, mas contar verdades que, curiosamente, envolvem, as mesmas personagens, da mesma nacionalidade.

Um português que vai fazer uma viagem de carro pela a Europa apanha uma multa. Chega a Portugal gaba-se aos amigos;

- É pá, aquilo lá fora é a sério, a polícia não brinca em serviço, multam-te e acabou a conversa. Este país é uma vergonha, a polícia não faz nada, pá!

- Já um alemão, francês, espanhol que vem de carrro para Portugal, de regresso ao seu país, gaba-se; - É pá aquilo é um bandalheira, os portugas deixam os carros em qualquer lado e a polícia não faz nada, pá!

Renitentes, os amigos frazem o sobrolho. Vai daí o gajo (neste caso alemão) saca o telemóvel mostra a fotografia abaixo e diz; - Estive aqui parado a tarde toda, pá, a infrigir três artigos do código da estrada;

  1. Estacionei do lado esquerdo
  2. Estacionei a menos de 5 metros da passadeira 
  3. Estacionei a menos de 5 metros da entrada da rotunda

Ninguém me multou!

20220905_133752 (4).jpg

 

 

Os gajos querem é copos e mulheres!

03
Set22

As veredas


Vagueando

O meu avô, homem de perna alta, de passo vivo e cadenciado era caminheiro profissional, era esse o seu único meio de para se transportar entre lugares.

Quando o acompanhava, ainda jovem, era obrigado a fazer pequenas corridas para o conseguir acompanhar. Sem hesitações nos cruzamentos e entroncamentos de veredas palmilhávamos quilómetros por entre casas isoladas, conhecidas por montes, povoações minúsculas e pequenas aldeias.

Afugentava os cães que se atravessavam no caminho que, ao contrário do ditado, ladravam e mordiam. Os cães não o apoquentavam, tinham-lhe muito respeito, por mais ferozes que parecessem, fazia-os sempre fugir, se fosse necessário à pedrada. Nunca me lembro de ter levado uma dentada, fosse de que cão fosse.

Quando se ia a uma povoação maior o meu avô dizia que se ia ao Povo. Era lugar onde se via muita família (sinónimo de muita gente) e onde existia um mercado e, de tempos a tempos, uma feira, que estava ali, encostada ao Povo onde se vendia gado (porcos, bois, vacas, burros, mulas) e no meio desta, o gado organizado de forma desordenada, circulava gente curiosa como eu e quem queria fazer negócio.

Aprendi com ele o significado das veredas e o prazer de caminhar nelas. Recordo neste texto, que ele reconhecerá, mesmo sem saber ler e sem ter acesso à Internet, nem ao mundo dos vivos, as nossas caminhadas.

Dizia-me que a vereda era um caminho estreito, da largura do espaço que uma pessoa precisa para caminhar e que se aprendia a segui-la, com o tempo e a experiência. Não havia indicações nem tabuletas (também se as houvesse poucos saberiam lê-las) com as direções ou destinos a seguir, não havia GPS, era tudo de memória. Cada pessoa guardava na sua cabeça uma série de veredas que davam a acesso a todos os lugares para onde precisavam de ir.

Se fosse necessário seguir até um local novo, esse mapa mental não tinha gravado o caminho, mas sabia a direção, se para Norte, se para Sul, se para Este ou Oeste e, com base nesses quatro pontos cardeais, se escolhia a vereda certa para onde se queria ir pela primeira vez. Sempre que a vereda se dividia em duas três ou mais direções a escolha era racional, bastava olhar para o Sol que nos dava um dos pontos cardeais e, a partir daí tudo era fácil. As veredas nunca se enganavam, muito menos eram capazes de enganar alguém, até porque, quem as observava também não se deixava enganar.

Grandes duplas formavam as veredas e as pessoas que nelas caminhavam, verdadeiras equipas recheadas de estrelas ou não fosse o Sol uma bela estrela.

Dizia o meu avô que a vereda era o melhor caminho, o mais curto, o mais belo, o mais conversador, sim aparecia sempre alguém em sentido contrário com o mesmo espírito, ir de um lado ao outro, pelo caminho mais curto e mais belo, mas com tempo para dois dedos de conversa. Contudo, estas conversas nunca incluíam qualquer pergunta sobre o caminho a seguir, toda a gente seguia o seu próprio caminho.

A vereda era o caminho de todos, para todas os destinos, que passava por todas as casas, aldeias, serras, rios, fontes e riachos.

As pontes eram raras, as que existiam eram improvisadas e, obviamente, estreitas. Mas quando não estavam lá, a dar a passagem para a outra margem, eram as poldras que nos transformavam em equilibristas e só com muito malabarismo se chegava com os pés secos à outra margem.

Quando, era preciso transportar alguma coisa, por exemplo água, o burro seguia a vereda com o meu avô atrás sem que fosse necessário indicar-lhe o caminho. Quando se lhe montavam as cangalhas em cima da albarda onde se anichavam dois potes de barro, ele sabia que era para ir ao poço. As veredas também nunca enganavam os burros, até porque, tal como os homens, eles também não se deixavam enganar.

As veredas eram caminhos abertos pela passagem de muita gente a pé, não estavam sujeitos a planos das Juntas de Freguesia nem das Câmaras, não exigiam expropriações, nem projetos, nem autorizações dos proprietários dos terrenos onde passavam. Eram pura cooperação entre vizinhos e afastados. Eram tão-somente isso, serventias, o espelho das necessidades das gentes do Algarve para comunicar entre si e identificavam-se por uma ténue linha sem vegetação, composta por pó vermelho, tão característico do Algarve, que parecia fumegar debaixo dos nossos pés, tão fino que espirrava debaixo dos sapato a cada passada.

A vereda era uma linha simples, umas vezes reta, outras vezes curva, outras vezes às curvas e contracurvas para contornar obstáculos como árvores, silvados, desníveis e pedras, trabalho de muitos passos, de muita gente que não passeava por ali, mas passava por ali, muito antes de mim e do meu avô, há vários anos, várias gerações de passos deixando a sua pegada, muito ecológica, em tantos quilómetros de veredas.

As veredas eram a marca, de muita gente, dos seus destinos, das suas histórias e das suas estórias dos seus encontros e, porque não dizê-lo, dos seus medos, frustrações, raivas e alegrias tudo registado naquela fina falta de vegetação e da transformação da terra dura em pó fino de tanta pisadela que levou.

A vereda tinha sempre acompanhamento musical, ora dos grilos e cigarras ora da passarada que saltitava de árvore em árvore, de pedra em pedra, do tilintar dos chocalhos dos rebanhos e ainda tínhamos espetáculos de cor, movimento e luz. Borboletas multicoloridas esvoaçavam à nossa volta, as nuvens que filtravam o sol e nos faziam sombra, alteravam a cor da paisagem, cenas fantasmagóricas provocadas pelas trovoadas ou molhadas, se instalavam ali mesmo por cima de nós e os relâmpagos que nos faziam temer vir a servir de para raios entre a descarga e a (terra da)vereda.

As veredas também tinham cheiro, consoante a época do ano, a esteva, a figos, a amêndoa, a terra molhada, quando chovia no Verão, a trampa de ovelha, mula, de burro e de cão. Não é possível reproduzir estes cheiros num texto, mas estas misturas ao ar livre nem sequer se pode dizer que fossem desagradáveis, faziam parte do caminho e pronto. Se algum algarvio, com mais de 50 anos, ler este post, é bem capaz de imaginar e de sentir os cheiros que aqui descrevo.

Nas veredas foram ficando histórias de homens e mulheres, crianças e adolescentes, amores e desamores e de tantos pastores que aliviaram as dores e o cansaço, esperando sentados nalgum valado já meio descambado enquanto as suas ovelhas pastavam e saltavam, vezes sem conta aquela valado, escramalhando (sinónimo de espalhar, fazer cair) o alinhamento das pedras que o compunham. Assim tivéssemos aprendido a ler terra pisada e teríamos extraído dali, daquela linha estreita, muito conhecimento.

Aprendi a gostar de caminhar naqueles caminhos de pó vermelho, tão característico do Algarve, chamava-se-lhe “poredo”, adorava bater os pés contra aquele pó fino, espalhando-o pelo ar, sujando os sapatos e as calças, enfim, mostrar aos graúdos que tinha feito uma grande caminhada. As veredas eram caminhos de movimento, ambientalmente sustentáveis, por lá passavam, pessoas e bestas, mulas e burros, que cabiam naquela estreitíssima largura de caminho onde nem as pegadas ficavam visíveis , porque tudo eram só montinhos de pó, completamente desalinhados.

Se encontrar uma vereda (se calhar conhece-a por trilho) palmilhe-a, observe-a, deixe-se encantar, siga-a. No fim não vai encontrar o caldeirão de ouro, mesmo que o arco íris a intersete nalgum ponto, mas vai encontrar histórias e, quem sabe, ainda vai descobrir que alguém da sua família, mais próxima ou mais afasta deixou ali a sua pegada há muito, muito tempo.

As veredas morreram, porque já ninguém anda a pé por necessidade, porque as bestas foram impedidas de trabalhar e os rebanhos também praticamente desapareceram.

As veredas deram lugar às estradas, onde não passeiam pessoas, nem bestas, nem rebanhos e as estradas estão reservadas aos carros que levam as pessoas aos seus destinos, muitas vezes conduzidas por bestas.

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