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Generalidades

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26
Dez21

Dois dias - 537 acidentes


Vagueando

Em apenas dois dias, com festejos limitados devido à pandemia, o que reduziu bastante a circulação automóvel neste período, registaram-se mais de 500 acidentes, de que resultaram 12 feridos graves e 1 morto.

A fiscalização do trânsito pela GNR, passa mais pela imagem desta Instituição junto das Televisões, do que pela eficácia que deveria demonstrar junto dos condutores. A culpa não é dela, mas sim deste consumo doentio que é necessário para alimentar as audiências.

Aparecem nas televisões durante uns minutos, em que um capitão  faz uns apelos, sempre os mesmos, com mais dois ou três agentes a olhar para o trânsito, umas operações stop em que se pede os documentos, uns controlos de velocidade que dão multas fáceis e pronto, está feito.

O resultado, é mais do mesmo, acidentes em catadupa, sobre os quais a opinião pública e os jornais não dão eco sobre as suas causas. Fica-se pelo excesso de velocidade e o excesso de álcool no sangue. 

Portanto, não existem carros a circular com pneus em mau estado, com deficiências nos sistemas de iluminação (nem má prática no seu uso), toda os condutores sinalizam corretamente as suas mudanças de direção, inclusive nas rotundas e as estradas estão todas bem sinalizadas, nada que justifique tantos acidentes.

Um pequeno desvio para exemplificar como os maus hábitos se tornam normais. Um polícia é muitas vezes abordado por  automobilistas a solicitar algum tipo de informação. Quando isso acontecida há uns anos o carro parava junto do polícia e, antes mesmo de perguntar fosse o que fosse o polícia mandava encostar num local onde não provocasse embaraço ao trânsito, para calmamente poder ajudar. Hoje, um carro para, para o mesmo efeito junto de um polícia, sem encostar, sem sinalizar a manobra, fica a impedir a circulação, sem que isso incomode o polícia e o automobilista.

Voltando ao tema. As televisões, sabendo da existência da grave sinistralidade em Portugal, dedicam largo tempo de antena a este tema, desde que ocorra um acidente que envolva um político, um político ministro ou uma figura pública. Aí escalpeliza-se o assunto, não se investiga, ou seja, noticia-se de modo a tornar o tema mais interessante para vender jornais e ter audiências,  mesmo que isso não ajude ou até dificulte o esclarecimento das causas do acidente. 

Quanto à segurança nas estradas, e sobre as formas de conduzir seguro, absolutamente nada ou, pior, dando maus exemplos do que não se deve fazer. No passado dia 12 de Dezembro a CNN, no programa GTIPLUS, passou uma reportagem "Uma viagem pela Nacional 1 ao volante de uma Fiat Ducato" CNN Uma viagem pela N1.

O programa contava com três jornalistas, Bernardo Gonzalez, Rui Pelejão e Luís Guilherme, cada um deles conduziu um veículo diferente. Falou-se das características e do conforto proporcionado pelos veículos em causa e praticaram-se infrações a conduzir os veículos porque existe um grande sentimento de impunidade. Se este sentimento de impunidade não existisse, a edição do programa teria tido o cuidado de apagar a prática destas infrações, debatê-las com os jornalistas antes de as exibir em público ou exibindo-as, fazê-lo com um pedido de desculpas e com uma chamada de atenção para a má prática.

Se se derem ao trabalho de ver o filme aqui  CNN Uma viagem pela N1, constatarão que ao minuto 8, o jornalista Bernardo Gonzalez efetua uma ultrapassagem onde a linha contínua devidamente visível no pavimento o impedia e, ao minuto 11:45, o jornalista Rui Pelejão, ao sair do estacionamento, não respeita a linha dupla contínua que o impedia de realizar aquela manobra. Isto passou-se na Nacional 1, uma das vias onde se registam mais acidentes no país.

Para terminar, isto não foram duas infrações menores, mas sim contraordenações muito graves, de acordo com a alínea o) do Artigo 146º do Código da Estrada.

Que belo exemplo se dá nestes programas televisivos.

 

19
Dez21

Aquele Natal foi diferente


Vagueando

Este era o seu primeiro Natal fora de casa, tinha 6 anos. Naquele ano, em vez dos seus avós se deslocarem a Sintra foi ele até ao Algarve.

Na altura a casa dos seus avós não tinha sequer uma estrada.  Ficava num outeiro, num escampado, longe de tudo. Depois de sair da estação de caminho-de-ferro tinha que se percorrer 12 km, sendo que 3 km ou se faziam a pé ou de carroça.

A casa não dispunha de água canalizada, apenas uma cisterna, nem de eletricidade. Aliás, num raio de 10 km as poucas casas existentes não tinham energia elétrica.

As noites eram escuras que nem um breu salvando-se as de lua cheia, cuja luz parecia tão mais forte do que é hoje. Os avós tinham um cão enorme, também conhecido por cão fantasma, o que ele era nestas noites de luar.

Não existia, nem se suspeitava que pudesse vir a existir aquilo a que hoje se chama poluição luminosa, muito menos se suspeitava que anos mais tarde, estaríamos dispostos a pagar para puder observar o céu sem a atual poluição luminosa, quando, naquela altura queríamos era fugir dali.

O céu era escuro, muito escuro, as constelações eram facilmente identificáveis, a estrela polar idem e o melhor de tudo, todos os dias as estrelas cadentes davam espetáculo.

E porque é que isto é um conto de Natal? Pois não sei!

Não havia Bimbys, não havia máquinas de lavar louça, nem roupa, não havia gás, não havia frigorífico. Não existiam supermercados nem lojas de conveniência nem pastelarias. Compras online ou a UBER Eats eram coisas que nem a ficção científica ainda tinha abordado, e as poucas mercearias existentes, eram a mais de 10km, fechavam aos Sábados à tarde e ao Domingo, pelo que preparar a refeição de Natal era uma tarefa logística gigantesca, o esquecimento de algum ingrediente deitava tudo por água abaixo.

Mas havia espírito de Natal, talvez por isso, isto seja um conto de Natal.

As mulheres passavam o dia a cozinhar a ceia. Para além disso faziam pão, biscoitos, fritos, rabanadas, fatias douradas, sonhos. Os homens ajudavam nas tarefas mais pesadas, como carregar os alguidares de barro cheios de massa, a qual amassavam com vigor, transportavam os tabuleiros de madeira cheios de pão, empilhavam lenha para o forno e para as lareiras. Para além disso limpavam os estábulos dos animais e alimentavam-nos. As crianças mais velhas, encarregavam-se de pôr a mesa, fazer pequenos recados e no fim secavam a louça que era colocada em armários de madeira rústica e tosca, cujas portas fechavam com fechos de aldraba.

Toda a gente trabalhava de forma solidária, a casa mais próxima era a 300m e a outra a 500m, sem estrada que as ligasse.

Ainda assim os preparativos de Natal eram feitos em conjunto, economia de escala. Várias panelas de ferro com 3 pernas eram postas ao lume em cima de brasas numa das casas, cozia-se couves, bacalhau, batatas, nabos, cenouras. Na outra casa, ateava-se fogo ao forno onde se cozia pão, dois ou três tabuleiros com cerca de 30 pães, esperavam para entrar para a cozedura e depois seguiam-se os perus para assar ao lado do polvo, que ia a este forno transformar-se em lagareiro. Na última casa, faziam-se as filhoses, os fritos e outros bolos à base de batata doce.

As crianças corriam de casa em casa, com um petromax  (lanterna a petróleo) na mão com que iluminavam a vereda (caminho de pé posto), para levar algo que estivesse a fazer falta e na hora de sair o pão do forno, um dos pães era grosseiramente partido à mão, molhado em azeite e açúcar ou seja uma tiborna, que eram repartidos e transportados pelas crianças às outras casas.

Ao principio da noite, depois de feita a distribuição da comida, cada família reunia-se na sua casa para celebrar o Jantar de Natal em grande alegria.

À meia-noite as mulheres pegavam nos seus terços, acompanhando a Missa do Galo pelos pequenos transístores (rádios de bolso a pilhas) e as crianças andavam de casa em casa a tentar descobrir em que chaminé tinha descido o Pai Natal para deixar as almejadas prendas.

Depois de correrem todas as casas, não encontraram nada, ficaram perplexas e zangadas pela falha do Pai Natal.

O avô entrou em cena, com aquela calma que caracterizava os avôs da época, levou-as ao telheiro onde também se cozinhava nas brasas e lá estavam as prendas, naquela chaminé cheia de fuligem do negro fumo da lenha, da muita lenha ardida ao longo do ano.

Desta vez o Pai Natal tinha deixado tudo cá fora, para por a criançada em polvorosa.

14
Dez21

O Poder e a Justiça


Vagueando

Para alguém que já tem idade para não acreditar no Pai Natal, mas que acredita na Justiça, aqui vão três histórias de como se exerce o poder sem fazer justiça ou como fazer da justiça um abuso do poder.

História um

Um jovem cidadão há pouco tempo no seu segundo emprego, o primeiro perdeu-o por causa da pandemia, é destacado para se apresentar no dia seguinte noutro local de trabalho da mesma empresa. Contudo, por falhas técnicas no sistema informático viu-se obrigado, no dia seguinte, a passar pelo seu anterior posto de trabalho. Por volta das 10h sai, dirige-se ao novo local, depara-se com falta de lugares para estacionar. Em stress, vê um lugar e estaciona. Quinze minutos depois, recebe uma chamada no seu telemóvel. Era a PSP a avisá-lo que tinha estacionado num lugar destinado a esta força de segurança. Sai apressadamente, retira o seu carro e dirige-se imediatamente à esquadra onde explica o sucedido. Agradece o telefonema e pede desculpa. Recebe como resposta, em tom de gozo; Já tem brinde, multa de 60 euros. Esta pessoa tem vindo a partilhar comigo fotos do local circundante, onde se vê estacionamento irregular de todo o tipo. A PSP não se dá ao trabalho de consultar os registos dos automóveis em infração e ligar aos proprietários. Muito menos em passar-lhes o tal brinde, o que interessa afinal é proteger os seus próprios lugares.

História dois

Por ter interesse num determinado tema, tenho consultado alguns processos julgados e que já não se encontram em segredo de justiça. Recentemente, em resposta a um pedido de consulta a mais um processo, recebi um elaborado despacho de 4 folhas em que me atribuem o estatuto de arguido e negam o acesso ao processo. Contestei, não só facto de estar a ser tratado como arguido como a recusa. Nova recusa, mas no email vem anexado um processo, o que me deixou estupefacto. Ao abrir esse processo, constato que nada tem a ver com o meu pedido e apago-o. Dou nota do erro. Da Justiça, nem um pedido desculpas por me tratarem indevidamente como arguido, muito menos uma explicação sobre o envio de outro processo.

História três

Recentemente estavam a decorrer as buscas ao FCPorto e ao seu presidente. Eis senão quando, via WhatsApp, cai no meu telemóvel, enviado por um amigo reformado, que não está nem nunca esteve ligado à Justiça, o documento assinado pelos Procuradores que suportaram as referidas buscas. A justiça nem sempre prima pelo segredo que a sua própria legalidade impõe.

Com estas três histórias, a Justiça deu uma valente machada na perceção que tinha sobre a sua idoneidade e credibilidade e, vai daí, achei melhor voltar a acreditar no Pai Natal.

11
Dez21

Post numero cem em duzentas e quarenta e uma palavras


Vagueando

Quando comecei a alimentar este blogue “Generalidades” nunca foi minha intenção escrever com regularidade.

Aliás o mote deste blogue era e é, “Escrevo quando me dá na gana e quando a inspiração aparece”.

Daí que chegar ao post número cem, este mesmo que estão a ler agora, destina-se a assinalar o acontecimento, que jamais pensei ser possível. Isto é um post comemorativo mas sem festas, sem música, sem foguetes, sem convidados e sem alaridos.

Aqui chegado, sem ideias, sem assunto, sem saber porque estou agora sentado frente ao computador, tudo me parece sem nexo.

Afinal de contas, é só fazer a conta, foram cem vezes a olhar para o ecrã, são cem histórias ou estórias, ou nem isso, sem fio de prumo, sem nada que se aproveite, de tal forma que, se as empilhasse desmoronava-se tudo, tal é a mistura de temas que não encaixam uns nos outros.

Assim decidi deixa-las estar arrumadas onde estão, para memória futura, ainda que sem interesse, seja para quem for.

Talvez tenham interesse apenas para quem tem mais de cem anos e sem nada para fazer.

Sem principio, sem meio e sem fim, mas são cem textos que vagueiam por aqui, com tudo e sobre tudo e sobretudo, sobre nada.

É verdade algures neste blogue “generalidades” existe um post sobre o nada.

Boas leituras, sem stress, sem pressas e com cem votos de Boas Festas

08
Dez21

Pedalando no Ramal de Cáceres


Vagueando

 

MRV-beira.gif

 

28 de Outubro de 2021, exatamente 165 anos depois da inauguração do caminho-de-ferro em Portugal, 143 anos e oito dias depois da entrada ao serviço da Estação da Beirã, eis que me encontro sentado num veículo a pedais da Rail Bike Marvão, estacionado nesta estação, antigo Ramal de Cáceres, para fazer uma viagem de 16 km (8km para cada lado) nesta via férrea, desativada desde 2011.

São 10 h, não há nuvens nem vento, a temperatura é bastante agradável, à volta dos 18º e estou acompanhado por outros aventureiros, do pedal ferroviário, nacionais e estrangeiros.

Desconheço que nome atribui a língua portuguesa a este veículo (Rail Bike) em que os únicos elementos herdados das bicicletas, foram os pedais e os travões de disco.

A curiosidade é muita, até porque sempre sonhei poder andar sobre carris naqueles trolleys movidos por duas pessoas agarrados a uma manivela, fazendo-o avançar nas linhas de comboio, influências da juventude a ver os filmes de Charlie Chaplin em que o ator, num dos seus filmes, impulsionava freneticamente a manivela de um destes veículos na perseguição a um comboio.

A Freguesia da Beirã está intimamente ligada aos comboios, ou não fosse a locomotiva um dos três elementos gráficos, juntamente com uma anta e uma fonte, que constituem a heráldica da Freguesia. Entrou ao serviço em 15 de Outubro de 1878, embora a inauguração oficial só tenha ocorrido em 06 de Junho de 1880. Começou por ser um edifício pequeno, sofreu grandes obras em 1926, altura em que lhe foi acrescentado um restaurante e um hotel e que, em boa hora, foi soberbamente aproveitado, para o mesmo efeito, pela Trainspot Ghesthouse, desde que o ramal foi desativado em 2011.

Não é assim tão comum poder-se pernoitar num edifício já com 95 anos, mas imaculado e com estas características, por um preço apetecível, rodeado de tanta tranquilidade. O antigo restaurante, a atual sala de refeições, está bem decorada, com caixas e malas da época, tudo está bem conservado, sendo de realçar o imponente teto em madeira, o qual por sua vez, serve de suporte ao chão dos quartos no piso superior.

Neste hotel e no antigo restaurante, são bem visíveis a influências do arquiteto Raul Lino, nomeadamente nos azulejos que forram as paredes. Uma estação cheia de história em que, se as paredes pudessem falar, muitas mais estórias contariam. Tudo girava à volta dela, era ali que estava a Guarda Fiscal, os ferroviários e a temida Pide.

Foi ali que Manuel Berenguel Vivas (http://www.cm-marvao.pt/pt/camara-municipal/historico-dos-eleitos), de ascendência espanhola, que chegou a ser presidente da Câmara de Marvão entre 1945 e 1954, dispunha de um ramal particular na Beirã, para desenvolvimento do seu negócio de transportes internacionais. Este empreendedor foi responsável pela construção, em frente à estação, da Igreja da invocação de Nossa Senhora do Carmo, benzida a 16 de Julho de 1944 e para a qual foram transladados os restos mortais do seu pai Manuel Vivas Pacheco e de sua mulher Carmen Berenguel L’Hospitaux. (http://www.cm-marvao.pt/pt/beira/origens)

Manuel Vivas.jpgAnúncio de Manuel Berenguel Vivas publicado na Gazeta do Caminho de Ferro nº 1296 em 12/12/1941)

Em suma diria que esta estação é uma das mais belas de Portugal, não só pela sua arquitetura como pelos fabulosos painéis de azulejos, de Jorge Colaço, que decoram magistralmente a fachada.

Voltemos então à parte recreativa, mas antes de a começar, comecemos pelas voltas que este projecto de lazer deu para aqui chegar. Lenny, o responsável pelo Rail Bike Marvão, é oriundo da Nova Zelândia, nos antípodas de Portugal e necessitou de encomendar as rodas para estes veículos poderem circular em cima de carris, algures no Colorado, nos EUA. Atendendo ao caracter internacional do Ramal de Cáceres, temos que admitir que, mesmo após o seu encerramento, não perdeu o gosto de bem receber e bem servir a comunidade internacional.

Antes de começarmos a dar ao pedal, somos informados das características do percurso e da paisagem e alertados para o atravessamento da ponte com 106 metros de comprimento e 30 metros de altura, sobre a Ribeira de Vide, onde inverteremos a marcha para regressar ao ponto de partida, sem necessidade de recorrer a uma placa giratória ferroviária. Bastam duas pessoas, uma em cada extremidade do veículo, levantam-no e viram-no na direção oposta.

PA280965.JPG

De volta à estação da Beirã

Seguem-se os ajustes das cadeiras para ficarmos na melhor posição para pedalar e, neste caso, como seguiam duas crianças no grupo, foram cuidadosamente instaladas em cadeiras adequadas ao seu tamanho e devidamente amarradas pelos respetivos cintos de segurança. Tudo muito profissional e muito seguro. Sentamo-nos nas cadeiras confortáveis, tipo chaise longue, pés nos pedais, imagino (consigo vê-lo e ouvi-lo no meu subconsciente) um antigo chefe da estação soprar a corneta e fazer sinal com a sua bandeira verde para arrancarmos.

Silenciosamente, ao contrário de um comboio, avançamos todos satisfeitos, para o nosso passeio, afinal o Alentejo é plano e a ferrovia também, qual é a dificuldade?

Para ultrapassar as duas passagens de nível, que neste caso funcionam ao contrário, ou seja, estão fechadas à via-férrea e abertas ao trânsito automóvel, Lenny faz as vezes de guarda das ditas, permitindo o nosso avanço, depois de se certificar que um ciclista cedia, gentilmente a passagem as estes estranhos e muito silenciosos veículos ferroviários, ao qual Lenny fez questão de agradecer.

Eis se não quando começamos a sentir nas nossas pernas , que nem o Alentejo é (todo) plano, nem a ferrovia se estende sem desníveis. Não sendo necessário ser um atleta, os primeiros dois quilómetros do percurso também não são favas contadas, ainda que o esforço seja dividido por dois, eu e a minha mulher.(1)

PA280970.JPG

Atravessando a passagem de nível antes de entrar na Estação da Beirã

Não obstante, fazemos duas paragens para regularizar a pulsação e apreciar a paisagem. Mesmo com o esforço de pedalar, consegui reviver o passado, regressar às sensações de viajar de comboio, a brisa na cara lembrou-me os tempos de juventude com a cabeça de fora da janela da carruagem para receber o vento e o fumo da locomotiva a vapor, ao passar nas fragas recordei o barulho abafado das locomotivas que invadia o interior das carruagens, na ponte a sensação de vazio e o barulho estridente do ferro a ranger com o peso do comboio, nas curvas o chiar das rodas e a trepidação na passagem de cada união dos carris, mesmo com estas rodas de plástico. Até o cheiro que emanava das travessas de madeira, fustigadas pelo sol e pingadas de óleo consegui sentir nesta viajem movida a pernas.

O grande gozo desta viagem, em especial o regresso, em que as pernas descansam e deslizamos quase sempre graças ao desnível, é sentirmo-nos descontraídos, seguros e privilegiados pela diversidade da paisagem, pela tranquilidade do percurso, pelos sons suaves que nos chegam, pelo enorme espaço que nos rodeia, pela liberdade que sentimos e pela simpatia dos safarenhos (2)com quem nos cruzamos.

Tenho a certeza que cada passageiro neste tipo de passeio terá sensações diferentes, consoante o seu apego ou gosto de viajar de comboio, sendo certo que nenhum deles sairá dali insatisfeito. Divertimento, uma coisa diferente, uma experiência, uma brincadeira, uma novidade, tento adivinhar o que possam ter pensado os meus companheiros de viagem. Para mim foi reviver, o comboio dos anos 60 e setenta, e constatar que se trata de uma excelente e agradável iniciativa, tão agradável que estou a pensar em regressar na próxima primavera para fazer o percurso maior, entre a Beirã e Castelo de Vide e quem sabe, aproveitar a sugestão do simpático Lenny da Rail Bike Marvão e fazer também um passeio noturno em noite de Lua cheia.

PA281009.JPG

Interior do restaurante da Estação da Beirã

Uma última curiosidade. A junta de Freguesia da Beirã, refere no seu site , sobre o ramal de Cáceres, o seguinte; No lado português, a extensão deste ramal é de 72,4 Km. manifestamente exagerada para a distância a vencer. A explicação é fácil, embora anedótica: a empresa construtora era paga ao Km e procurou, tanto quanto possível, aumentar a extensão da linha, com infelizes consequências que ainda hoje se fazem sentir. Com efeito, o traçado principalmente a partir de Vale do Peso, é excessivamente sinuoso e, embora levemente corrigido pontualmente aquando da recente renovação, não permite a realização de velocidades elevadas.(https://www.jf-beira.pt/index.php/freguesia/caminhos-de-ferro)

Em baixo o link para as fotos do passeio;

https://photos.app.goo.gl/jEif9L2y1awefQih9

Sugestões finais ao Rail Bike Marvão e ao Trainspot Guesthouse Emitir uns certificados de presença, com o nome dos intervenientes (hóspedes/passageiros) no hotel e no passeio usando o layout da CP da época em que a estação funcionava: Por exemplo:

O Rail Bike Marvão utilizaria o seu logotipo em conjunto com o da CP, com o layout, dos bilhetes da época, “Beirã – Castelo de Vide (Ida e Volta)” com a data e hora e eventualmente o número de um dos comboios que realizavam o percurso, para os seus passageiros dos passeios.

O Trainspot GhestHouse utilizaria o seu logotipo com o da CP e o layout dos recibos das entradas usados no Hotel na época em que funcionou, para entregar aos seus hóspedes.

- Relembro o que diz a Rail Bike Marvão sobre isto “Railbike é uma atividade física, as bicicletas não têm motor e todos os participantes devem pedalar. O percurso inclui zonas com inclinação”

2 - Nome étnico usado pelos de fora em relação aos habitantes da Freguesia da Beirã e de Santo António das Areias – Tese de doutoramento “O Falar de Marvão – Património Imaterial Raiano” da Drª Teresa Susana Bengala Simão na Universidade de Évora em Julho de 2015

 

03
Dez21

Contos de Natal dos Bloggers do Sapo


Vagueando

PC031146.JPG

 

Em 2 de Abril de 2018 iniciei o meu bloque ao qual dei o nome de Classe à Parte. Fi-lo não por ter qualquer intenção de dar um ar de superioridade ou tentar elevar o nível da minha escrita destacando-a de tudo e todos.

O nome surgiu numa altura em que se debatia a situação de um veículo que estava a ser lançado em Portugal, o Volvo XC40 o qual, embora sendo um veículo ligeiro e pequeno iria ser taxado na Classe 2 nas auto estradas portuguesas ao contrário dos seus irmãos maiores e mais pesados (XC60 e 90).

Por ter sido este o tema do meu primeiro post, onde tentei demonstrar a injustiça dos critérios usados para aplicar o preço das portagens, atirando este carro para uma classe à parte dos seus irmãos, apenas e só porque a sua frente é ligeiramente mais alta.

Por esta razão o blog ficou com o nome de Classe à Parte.

Nunca me passou pela cabeça começar a alimentar o blog com outros textos e outros temas, mas aconteceu e este é o post número 98.

Muito menos pensei que algum dia um dos meus post seria transcrito para um livro, pelo que agradeço desde já a todos os que tornaram este livro uma realidade.

E a melhor forma de agradecer é disponibilizar uma imagem do meu azevinho para alegrar o Natal de todos os que tornaram possível este livro. Acredito que esta sua tarefa terá sido bem mais árdua do que escrever os contos.

Muito obrigado e Votos de um Feliz Natal.

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