Escadinhas de Sintra
Vagueando
Não há coração que aguente ou vou-me abaixo das canetas? Nada disso, afinal o que me dói é as cruzes (canhoto). Vamos lá a isto, pernas para que vos quero.
Por definição, uma série de degraus, segundo um plano inclinado, para subir ou para descer constitui uma escada. Por tal facto, não sei porque se teima em passar a ideia que o diminutivo de escada é coisa simples e até fofinha, ao atribuir o nome de escadinhas, às muitas Escadinhas de Sintra. Segundo alguns dicionários, escadinhas, são pequenas escadarias, e, escadaria, constitui, nem mais, nem menos, a realização de um grande esforço para vencer uma série de lanços de escadas separadas por patins, patamares ou andares.
Se, porventura, por ventura e não por desgraça, tu desconhecido, andares por Sintra, vais ver que descobrir escadinhas é tão fácil como tropeçar nelas e percorrê-las, como uma barata tonta, ou de forma planeada é fácil, a descer, difícil é subi-las.
As Escadinhas de Sintra (algumas) são pequenas, merecem a classificação que lhe deram, outras nem por isso, são mais escadões. Umas são largas, outras são estreitas, umas têm corrimão, outras, por mais que pesquises, não o vislumbras, nunca lá foi posto. Umas são mais inclinadas outras nem tanto, umas brilham pelas vistas deslumbrantes e de tirar o folego (mentira o esforço é que nos tira o dito), outras não brilham porque o sol não entra, estão encurraladas entre muros ou incrustadas na densa vegetação, umas são às curvinhas, outras a direito. Viradas a norte, a este, a oeste ou a sul, lá estão elas à espera de serem pisadas pelos corajosos caminheiros, andantes, andarilhos, andandeiros, andadores, andejos, caminhantes, transeuntes, nacionais ou estrangeiros, agora que já não há aguadeiros nem tão pouco almocreves.
Vaguear pelas Escadinhas de Sintra constitui uma vertiginosa aventura, um vai e vem, se não tivesse que ser a pé, seria melhor de vaivém porque este sobe e desce. As escadinhas sintrenses existem, quer em meio urbano, construídas em calçada portuguesa, quer em meio natural, construídas em terra batida e troncos de madeira.
Subir para cima destas escadinhas e descê-las para baixo, não é mais do que uma montanha russa pedestre, onde a velocidade em metros/segundo dá lugar a pulsações/minuto e em que adrenalina é substituída pelo esforço físico.
Em Sintra, numa área inferior a 1km₂, é possível descobrir mais de 50 escadinhas, cheias de história, mistério e glória, onde a natureza, o urbano e o humano se encontram hoje e agora com o passado.
Marinhando serra acima, de preferência com bom tempo, em Sintra pode ser com nevoeiro, vagueando pelas escadinhas e, quando se puder, com a mão pelo corrimão, ajudando as pernas e aliviando o coração, será possível levar os corações ao alto, quer dizer, ao alto da serra. Não, não se trata de uma missa, mas não deixará de ser um ato de fé.
Num percurso pedestre com cerca de 10 Km, poderá encontrar todas estas escadinhas e, se tiver paciência, contar os cerca de 2.000 degraus, escolher os que quer subir e os que quer descer, vagueando entre o máximo de 300 m e o mínimo de 180m acima do nível do mar.
Antes de descobrir esta viagem, está animado, entusiasmado ou conformado? Ou será que já ficou cansado?