Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Generalidades

Generalidades

28
Mar23

Perco-me


Vagueando

20230315_175746.jpg

 

Perco-me, por isso, às vezes numa imaginação fútil de que espécie de gente serei para os que me vêem, como é a minha voz, que tipo de figura deixo escrita na memória involuntária dos outros, de que maneira os meus gestos, as minhas palavras, a minha vida aparente, se gravam nas retinas da interpretação alheia.

Não consegui nunca ver-me de fora.

Não há espelho que nos dê a nós como foras, porque não há espelho que nos tire de nós mesmos.

Era precisa outra alma, outra colocação do olhar e do pensar. Se eu fosse ator prolongado de cinema, ou gravasse em discos audíveis a minha voz alta, estou certo que do mesmo modo ficaria longe de saber o que sou do lado de lá, pois, queira o que queira, grave-se o que de mim se grave, estou sempre aqui dentro de muros altos da minha consciência de mim.

Texto de uma das 52 cartas editadas pela Casa Fernando Pessoa com excertos do Livro do Desassossego de Fernando Pessoa

Foto da minha autoria, Jardim da Vigia - Sintra

27
Mar23

O Exemplo


Vagueando

Imaginemos que o Primeiro-ministro António Costa teria feito, no início deste ano, um discurso onde sugeria aos empresários portugueses que abandonassem a sua zona de conforto e se fossem instalar no interior do país, mais precisamente em Campo Maior.

O primeiro “ruído” seria nas redes sociais, onde para além de se desdenhar da ideia e de se afirmar que os socialistas são muito bons a fazer obra com o dinheiro dos outros e eram também lançados os impropérios típicos desta forma de comunicar.

O segundo “ruído” (supostamente) mais sério, viria da classe empresarial. Alegaria que não existiamm condições, porque é longe, a logística seria complicada, existiriam dificuldades em captar mão-de-obra especializada, faltavam infraestruturas adequadas e que o governo nem sequer tinha admitido conceder incentivos, apoios, benefícios fiscais para quem decidisse avançar com projetos.

O terceiro “ruído” viria dos comentadores, politólogos, economistas e outros que agora não me lembro, que apoiariam ou criticariam a ideia, consoante as suas convicções políticas ou as suas conveniências, apresentando um sem número de argumentos para demonstrar a inexequibilidade da coisa.

A Oposição seria responsável pelo derradeiro “ruído” interessada que sempre está (independentemente da sua composição partidária) em arranjar argumentos que fragilizem uma proposta de qualquer governo, do que procurar consensos que a eventualmente a melhorassem.

E “prontos” depois de um grande show e de várias parangonas em jornais e pasquins, eis que se voltava ao rame rame do costume, tudo como dantes quartel-general em Abrantes.

O que refiro acima não andaria longe da verdade, se a sugestão tivesse ocorrido e transporta-nos para um final com uma moral – É por isto que o país não cresce, não sai da cepa torta e até os romanos já nos tinham topado quando afirmaram, que para lá da Gália há um país que não se governa nem se deixa governar.

Recuemos então no tempo.

Por volta de 1944, vigorava em Portugal um regime fascista, existiam grandes dificuldades económicas e pobreza extrema, a maioria da população, em especial, no interior era analfabeta, não existiam políticas sociais, muito menos infraestruturas, nomeadamente vias de comunicação, o país vizinho tinha saído de uma guerra, havia fome que era bem sentida em Campo Maior.

No meio de tanta adversidade, um Homem, com apenas a Quarta Classe, lança-se no negócio de café nesta Vila raiana e acaba por construir um Império.

O Homem, Manuel Rui Azinhais Nabeiro, fez o impensável, não só conseguiu transformar um pequeno negócio num grande império como o fez de forma tão diferente dos conceitos de hoje, definidos como as boas práticas de gestão empresarial. Criou a primeira empresa com o seu nome em 1961, recorrendo a poupanças e a um empréstimo. Duvido que nos dias de hoje, algum Banco lhe concedesse um empréstimo para o mesmo efeito e nas mesmas condições.

Rara é a semana em que muitos empresários a operar perto dos grandes centros urbanos, não se queixam das condições atuais, afirmando não ser nada fácil erguer e manter empresas em Portugal, nomeadamente devido à burocracia e à carga fiscal. Admitindo que possa ser verdade, podemos imaginar as dificuldades que Rui Nabeiro enfrentou ao longo da sua vida de empresário que, mesmo na altura da pandemia, se recusou a pedir ajuda ao Estado, para pagar aos seus funcionários que não foram despedidos.

Rui Nabeiro conseguiu ter sucesso, no interior do país, no Alentejo profundo, relacionando-se com regimes políticos totalitários e democráticos, foi político, presidente da Câmara de Campo Maior e esteve ligado ao Futebol, sendo que o seu clube, o Campo Maiorense, que chegou a militar na Primeira Divisão Nacional. Em suma fez aquilo a que hoje, de forma negativa, apelidamos de Portas Giratórias entre a política, o futebol e o setor privado, sem se deixar manchar pela suspeita que estas passagens, nos dias de hoje são notícia pela pior das razões.

Foi socialista, amigo de Mário Soares e Jorge Sampaio teve sucesso com governos socialistas e não socialistas, provando que o sucesso e os bons resultados económicos também ocorrem com governos socialistas e com gente de pensamento político próximo da esquerda.

Atravessou sem grandes sobressaltos o PREC, no Alentejo, bastião do comunismo, usou de mão-de-obra alentejana, a tal que tem fama de não gostar de trabalhar.

A aprovação de um voto de pesar, por unanimidade na Assembleia da República, evidencia o respeito de todos os partidos políticos, lhe devem. Serviu o interior do País e a sua população, distribuindo riqueza e satisfazendo necessidade básicas, dinamizou vila de Campo Maior, muito mais do que quaisquer políticas conseguiram fazer noutra vila do interior e tornou-se uma referência no negócio do cafés que ultrapassou fronteiras.

Deixou marcas positivas no País vizinho, nomeadamente em Badajoz, que agora o quer reconhecer como filho adotivo, onde se chegou a refugiar uma ordem de prisão por alegada fuga aos impostos, da qual foi absolvido.

Este Homem, foi o Maior do seu Campo de atuação, ao conseguir fazer o que fez, com o apoio da sua família, dos seus empregados, dos seus amigos, dos seus clientes, em Campo Maior. Talvez se os empresários seguissem o seu exemplo, não fossem necessários Códigos de Ética e de Conduta nas empresas, nem tanta regulação e leis, nem existiram tantas queixas de que a justiça não funciona.

Espalhou simpatia, simplicidade e generosidade, foi o rosto sorridente daquilo que supostamente era impossível fazer no interior de um País pequeno, dignificando-o.

Embora tenha ido diversas vezes a Campo Maior e até visitado a Adega Mayor, nunca tive a honra de conhecer Rui Nabeiro. No entanto, através da leitura do livro Almoço de Domingo de José Luís Peixoto tenha percebido a sua sabedoria, grandeza e generosidade.

Deixo já uma sugestão para a palavra do ano de 2023, “Exemplo” porque Nabeiro é um bom exemplo daquilo que deveria ser o comportamento de todos nós, em especial empresários e/ou empreendedores que perseguem e bem o lucro, mas deviam de fugir da ganância.

 E para rematar não posso deixar de salientar o cartoon de Henri Cartoon Qualidade Pos Vida sobre Rui Nabeiro que me parece ser um resumo perfeito da vida do comendador e do seu legado.

10
Mar23

Ambiente


Vagueando

Cada vez mais se discute as questões ambientais e o custos que elas acarretarão para o planeta. Sobre o ambiente, não sou técnico nem estudioso da matéria, só sei o que me chega pelos jornais e aos jornais chegam os preciosos estudos científicos. 

Os rigorosos estudos, cujas "evidências científicas" demonstram a gravidade da situação e o seu contrário, são usados pelos jornais  para difundir as notícias e às vezes fico com a sensação de que as notícias ou o estudos, se parecem com aquela rábula do Ricardo Araújo Pereira, que chega lá acima dizem-lhe que sim e chega cá abaixo dizem-lhe que não.

Uma coisa é certa, os estudos que defendem que a situação é grave, apontam-nos o dedo a nós, humanos, como sendo não só os culpados do aquecimento global e por via disso da subida do nível da água do mar, como também de nada fazermos ( e poderíamos fazer,  faltará vontade política) para salvar o planeta, deixando de fora a possibilidade de o que está a acontecer não se dever à acção humana.

Sabendo o que sei, estou consciente do problema, para cumprir com o que posso para reduzir a minha pegada, até comprei uns sapatos um número abaixo. 

Contudo, ainda não consegui estar seguro de que tudo o que se propagandeia é verídico, está devidamente comprovado e  mesmo que façamos tudo o que a ciência nos pede, se seremos capazes de inverter a situação.

Mas há uma coisa que me preocupa muito mais ao nível do ambiente, o ambiente social. E o ambiente social, no meu entender está muito mais degradado e será muito mais difícil melhorá-lo. Hoje de manhã ao ler um artigo aqui na Sapo, de  Arménio Rego, sobre a Incivilidade no Trabalho - Perigo na Estrada, fiquei convencido que o ambiente social anda pelas ruas da amargura.

Antes de salvarmos o planeta, o qual, com ou sem alterações climáticas, vai ficar por cá, parece mais importante melhorarmos o ambiente social, porque o planeta pode mesmo ficar sem nenhum de nós.

Cheira-me que é mais fácil desaparecermos por falta de bom ambiente social do que por falta de bom ambiente climático.

 

Adenda: Já depois de escrever este post eis que me deparo com este artigo aqui na Sapo Geração "delivery", inteligência sacrificial e corrupção, que exemplifica de forma espetacular e, obviamente, muitissimo melhor do que eu alguma vez consiga imaginar, o que escrevi.

03
Mar23

Paragens do Tempo


Vagueando

 Numa altura em que vivemos acelerados, sem tempo para usufruirmos do nosso tempo, lembrei-me daquela velha canção de António Mourão “Ó tempo volta pra trás”.

O tempo não para, mesmo quando o relógio que faz o favor de o medir para nós se atrasa, avaria ou deixa de trabalhar por falta de pilha. Corrigido o atraso, reparada a avaria ou substituída a pilha, acertamo-lo de novo, no tempo certo, que ele perdeu, mas que o tempo não se esqueceu de contabilizar.

O tempo, efetivamente, não volta para trás, não se repete, não vem conferir o que deixou.

Para o tempo, o que lá vai, lá vai.

Corre por aqui, por aí, por ali, por todo o lado, dia e noite, com chuva ou com Sol, com calor ou com frio e nem sei se por vezes, não se ultrapassa a si mesmo, ficando muito à frente do seu tempo.

O tempo, como exemplifica António Mourão na sua canção, não é como o Sol, que volta todos os dias. O tempo lembra ao Sol que o movimento não é seu, é da Terra e esta, também não para e gira sempre na mesma direção.

A voragem do tempo consome todos os dias um pouco da nossa vida que muitas vezes não conseguimos desfrutar por falta dele ou porque ele anda rápido demais para o nosso ritmo.

O tempo faz desaparecer tudo, como se por artes mágicas as coisas de um tempo já passado e longínquo, não tivessem sequer existido.

Hoje procurei sinais do tempo (já idos) e que o tempo ainda não conseguiu apagar e descobri alguns exemplares que continuam resistir ainda hoje ao tempo que já não volta.

Até um dia!

Encontrei as 4 exemplos, todos em Sintra.

20230301_104437.jpg

 

Estas 3 paragens representam o tempo que há muito deixou de existir, o tempo até final de 2022 e o mais recente. São paragens, mas não o tempo nunca para, nem ali.

20230301_104134.jpg

Encontrei um receptor de emails e sms antigos, onde se deixavam mensagens que um tempo depois, que não o imediato, eram entregues mais tarde.

20230301_111302.jpg

Encontrei um telefone dentro de uma casinha onde entrávamos para telefonar a alguém. A casinha e o telefone não cabina no bolso, não eram móveis, éramos nós que nos movíamos à procura de uma quando queríamos, na rua, telefonar a alguém.

20230301_114520.jpg

Encontrei uma placa para identificar uma estrada na altura em que os carros quase não existiam.

22
Fev23

Salpicos de Sintra


Vagueando

Se conhece Sintra, se não conhece Sintra ou se pensa que conhece Sintra, observe a ponte abaixo.

Esta foto não é em Sintra é o engodo para vir até Sintra.

Atravesse-a e vem na boa direção a Sintra.

PB161894.jpg

As fotos que junto no link abaixo, essas sim, são todas em Sintra e resultam de uma compilação que fui fazendo ao longo do tempo em que comecei a ter tempo para observar Sintra.

São fotos obtidas durante as minhas caminhadas por esta bela Vila, muitas vezes com a minha "cãopanhia".

Caminhar permite ter tempo para ver e observar, só assim conseguimos captar na nossa mente imagens que de outra forma nos escapariam. Muitas destas fotos só foram possíveis naquele momento, naquele minuto, naquele segundo, naquela exata fração de tempo e essa oportunidade escapa a quem não tem tempo e, sem tempo, não se consegue estar atento.

No auge da pandemia foi possível caminhar nos sítios mais turísticos de Sintra - onde normalmente se aglomeram muito mais pessoas que o espaço disponível – sem ver ninguém, nem sequer um veículo motorizado.

O silêncio, ainda que preenchido por sons que já não estava habituado a ouvir naqueles locais, como o sacudir das folhas impulsionadas pela brisa ou o chilrear dos pássaros e sentir o cheiro da terra e das plantas sem o odor fedorento da queima de combustível, chegou a ser assustador.

A sensação de estar sozinho em Sintra e no Mundo, com muito tempo, foi uma experiência estranha, aterradora até.

Contudo, hoje ao rever estas fotos percebo a felicidade que tive em dispor deste tempo, de tanta beleza, de silêncio, de tranquilidade e de calma só para mim.

A história, certamente melhor do que eu, arranjará uma forma de explicar que no meio da desgraça que foram as muitas mortes causadas pela doença e dos enormes desafios que colocou aos sistemas político e de saúde, a oportunidade que nos foi dada de observar o nosso espaço de outra forma.

Muitas vezes cheguei a duvidar que estivesse vivo e que não estava louco tendo recuado tanto no tempo, até ao tempo de ainda não existirmos.

Boa viagem pelas fotos que já inclui algumas do regresso à normalidade.

https://photos.app.goo.gl/C3PRQ5rWeP4DNJyQA

 

21
Fev23

UMM,sabe o que é?


Vagueando

P5255501 (3).jpg

UMM , junto ao Cabo da Roca - Nascido onde a Terra acaba e o mar começa

A maioria dos portugueses não sabe, mas a indústria automóvel nacional já produziu treze marcas de automóveis, algumas delas bastante inovadoras e com qualidade. Contudo, por razões de diversa ordem, não se impuseram no mercado e, pior que isso, facilmente caíram no esquecimento.

Circulam ainda por aí alguns exemplares destas marcas, como é o caso do jipe UMM, resta saber até quando.

Somos muito bons a elogiar o passado, talvez devido à saudade tipicamente portuguesa, mas somos péssimos a preservar o que temos.

Ouvimos falar que a indústria nacional de componentes para automóveis é reconhecida pela sua grande qualidade, que emprega muita gente, que são detidas maioritariamente por portugueses, que exportam que se farta, contribuindo assim muito para o PIB. A perspetiva é puramente económica.

Sado.jpg

Sado 550 (Foto obtida na Internet - Jornal dos Clássicos)

Lembram-se do micro carro Sado 550 que apareceu por volta de 1982, com 28 cv de potência, 480kg de peso e 110 km/h de velocidade máxima, tendo sido produzidos à volta de 300 veículos?

Dezasseis anos mais tarde, o conceito repete-se e aparece o SMART associado à Mercedes. Ao contrário do SMART, o Sado foi subestimado pelos portugueses, tipo coisa foleira, aquilo era para quem não tinha carta.

Como se a pressão ambiental não bastasse, pouca gente se interessa pelo exemplo vivo da nossa indústria automóvel, o UMM, conhecido também por Um Monte de Merda que, por acaso, não é.

Se um UMM restaurado for estacionado ao lado de um Mini ou de um MG antigo, os portugueses vão espreitar os carros ingleses e marimbam-se no UMM. O ACP, o Automóvel Club de Portugal (sim é mesmo de Portugal) até organiza um Raly/Passeio de Clássicos, a que chamam “O Passeio dos Ingleses” no qual só se podem inscrever automóveis produzidos no Reino Unido.

Sem entrar em grandes detalhes, o Reino Unido tem cerca 18 marcas de automóveis, desapareceram a Austin a Morris, a Triumph, mas fizeram renascer o Mini e o Jaguar. Conseguiram catapultar para fora o culto dos seus carros, nomeadamente através do ACP com a organização do Passeio dos Ingleses e nós próprios não somo capazes da fazer cá dentro o que ingleses conseguiram fazer dentro e fora do seu país.

Imaginem o que seria se um carro concebido em Portugal, por portugueses e até fabricado em Portugal, lhe fosse colocada uma bandeira portuguesa no tablier, lhe fosse pintada a bandeira portuguesa no tejadilho e  fosse equipado com farolins traseiros que representassem a bandeira portuguesa. Seria de mau gosto certamente, mas foi isso que o Reino Unido fez com o seu novo Mini e em Portugal não falta quem o compre.

Homenagear, proteger, divulgar, acarinhar uma marca de automóveis portuguesa é que já é mais complicado. Não entendo se isto se deve a falta de apoio político, falta de interesse dos empresários nacionais, se falta de orgulho nacional ou se é, apenas e só, desprezo por nós próprios. Contudo, tenho a certeza de que não existe falta de capacidade técnica e humana, porque os carros já produzidos provaram o contrário.

Falta olhar para o nosso património automobilístico, para lá do plano meramente económico, olhar com espírito de missão, com empenho e motivação.

Será que não existe em Portugal, para além dos clubes e amigos do UMM, motivação e empenho que permita preservar a marca, não deixar que perca a sua identidade, não deixar que morra, por exemplo, por falta de peças de reposição? Vamos permitir que UMM desapareça, como aconteceu com todos os outros carros fabricados por portugueses em Portugal? I

maginem por um momento que o Cristiano Ronaldo comprava e restaurava um UMM, isso impulsionaria a preservação da Marca?

Em Inglaterra existem, diversos clubes destinados a preservar os seus automóveis, que fornecem peças e apoio a quem os possui. Não é possível fazer o mesmo em Portugal?

Podem sempre dizer-me que somos poucos, que não temos mercado, que não temos dimensão. Será só isso?

Então não éramos muito menos quando partimos em busca de UMM (Um Mundo Melhor) e nos aventurámos na epopeia dos Descobrimentos?

E éramos assim tantos e tão ricos, quando em 17 de Junho de 1922, já passaram 100 Anos, Gago Coutinho e Sacadura Cabral realizaram a Primeira Travessia Aérea do Atlântico Sul?

Esta pequenez não nos impediu de realizar feitos bem maiores, comparativamente ao esforço para empreendermos uma tarefa menor, tão simples, como não deixar morrer o que foi construído e bem, o UMM.

Faz-nos falta UMM (Unir as Melhores Memórias) e empreender a missão de, desta vez, não deixar morrer, tal como fizemos a todos os anteriores, mais um veículo nacional. Não queremos UMM (Uma Marca Morta) mas sim UMM (Uma Marca Memorável).

15
Fev23

Deixa-os pousar


Vagueando

A RTP1 exibiu uma série de excelentes programas, tendo como base o livro Viagem a Portugal de José Saramago. O programa foi conduzido pelo humorista brasileiro, Fábio Pochart, conseguiu empolgar os espectadores e mostrar que a cultura não tem que ser pesada nem maçadora.

Quando viajo pelo nosso belo país, muitas vezes me pergunto por que razão se chama assim esta ou aquela vila ou aldeia, pelo que comecei a andar com o livro Viagem a Portugal de José Saramago dentro do carro. Entretanto foi editado um outro livro, da autoria da jornalista Vanessa Fidalgo, cujo título é justamente "Porque se Chama Assim".

Vai daí comprei mais este, que também passou a andar dentro do carro, transformando-se numa biblioteca itinerante de bisbilhotice.

Por causa da foto abaixo, a que dei o título de "Pousa-Pássaros”, lembrei-me de uma frase muito usada pelos portugueses “Deixa-os pousar”. 

20230214_152118.jpg

Desde a tomada da imagem, à busca da legenda, até ao programa do Fábio Pochart, foi um saltinho, porque me lembrei de ele ter falado em Pousafoles do Bispo, que Saramago descreve no livro, como um lugar onde tencionava ir para "saber o que poderá restar de uma terra de ferreiros e ver a janela manuelina que ainda dizem lá existir".

Depois lembrei-me do livro de Vanessa Fidalgo, porque refere a Freguesia do Concelho de Ansião que dá pelo nome de Pousaflores e que anteriormente era conhecida por Pousa Foles.

E daqui até à Freguesia de Pousa, no Distrito de Braga foi outro salto.

De pouso em pouso fui saltando por estes locais até que pousei neste novo post.

Agora devem estar a perguntar; Bem, então depois desta lenga lenga toda vamos ficar a saber a razão destes nomes?

Pois, poderia dar-me a esse trabalho mas o meu objectivo é “vender” a imagem e o post (dizem por aí que uma imagem vale por mil palavras e há por aí muita gente a viver da venda da sua imagem).

Assim recorri a esta técnica de venda, usando como isco, os nomes das aldeias e Freguesias, esperando que a freguesia leitora pouse!

Se vieram pousar aqui ou ficam satisfeitos com a imagem ou, caso contrário,  têm que ir pousar nos livros, eventualmente na Internet para satisfazer a vossa curiosidade sobre as origens dos nomes das terrinhas e da frase deixa-os pousar.

11
Fev23

Altar-Palco


Vagueando

20230207_140952.jpg

Na semana passada, aproveitando uma deslocação a Lisboa na zona do Parque das Nações,  atraído pela polémica, desculpem, pela curiosidade decidi ir dar uma vista de olhos à zona onde está (ou vai) ser construído o Altar-Palco.

Lá chegado, constatei que o local mesmo em obras é bem mais bonito do que o que lá estava antes e que aquela ponte pedestre para passar o rio Trancão, naquele local, vem mesmo a calhar. Não só embeleza  a paisagem como vai permitir que possamos desfrutá-la de outra forma.

Curioso foi o momento em que um trator "gradeava" a terra e as aves aproveitavam a boleia para se alimentarem. Era um espectáculo de se ver, mesmo sem a existência de um palco, as aves tiveram uma actuação magnífica, voando em bando de um local para ou outro, sempre com o mesmo objectivo, pousar atrás do tractor que puxava aquela enorme charrua de discos.

Tirei por ali umas fotos, porque achei que todas elas são um bom palco, não necessáriamente, altar, quando olhamos para elas.

Podem vê-las no link abaixo.

https://photos.app.goo.gl/A1TYcVgjLj8J1oUJ6

 

 

10
Fev23

Paloma


Vagueando

 

 

Porque sou um colecionar de coisas, em especial aquelas que se podem guardar e catalogar facilmente, hoje vou contar uma história inspirada num pequeno livro de instruções que guardo desde 1978

Em 1978 eram famosos os esquentadores Junkers e o meu pai aparece em casa com um esquentador Paloma, modelo PH-8C.

A primeira pergunta foi; porque carga de água se compra um esquentador Paloma quando o Junkers é que é bom? O meu pai atalhou de imediato, era uma marca japonesa e, segundo o vendedor, era do melhor que se fabicava em esquentadores a gás.

A minha mãe disse logo - Pois o que o vendedor queria era desfazer-se disso!

Que interese tem esta história para a sociedade?

Muito mais do que julgam e muito mais do que as notícias diárias sobre o preço de um vestido ou de uma mala usada pela Georgina Rodiguez, que é aqui referida apenas porque fica bem nas tags, pode ser que alguém venha (ao engano) ler isto.

Passemos então ao interesse para a sociedade.

Este esquentador funcionou diariamente sem nenhum problema durante mais de 10 anos, até que um dia começou a aquecer pouco a água. Chamado um técnico, diagnosticou-lhe uma avaria fácil de resolver, mas azar, não havia peças para o mesmo, portanto estava condenado.

Contudo, como era Verão (não fazia falta a água muito quente) e tinha o tal livro de instruções, o qual, para além das ditas instruções de funcionamente, tinha a morada do fabricante, Paloma Industries, Ltd em Nagoya e apresentava ainda um digrama das peças que compunham o aparelho. 

Esta empresa ainda hoje funciona, podem consultar a história da mesma Paloma History.

Vai daí, ainda que sem nenhuma esperança, indiquei as peças que precisava numa carta que remeti à Paloma Industries, no Japão.

Uns dias mais tarde recebo a resposta, com a indicação detalhada numa factura do valor a cobrar, incluindo os portes para enviar a Portugal as peças que precisava, qualquer coisa como 7.130,00 ienes, ou seja, à volta de 50 euros (cerca de 10 mil escudos).

Fui ao Banco, a emissão de um cheque em yenes, pagável no Japão era coisa barata, hoje é coisa para custar mais de 40 euros, e enviei-o à empresa com cópia da factura.

Recebi a mercadoria, mas ainda tive que convencer a Alfândega de que eram peças para o meu esquentador, montei as peças e funcionou lindamente mais 12 anos, altura em que deixei de usar gás para aquecer a água. Ainda o ofereci a um familiar que o usou durante algum tempo.

Moral da história;

  1. Este é um bom exemplo de como uma empresa pode fazer a diferença no relacionamento com os seus clientes, num tempo em que as facilidades de comunicação eram bem mais difíceis e muito mais morosas do que são hoje.
  2. Este é um bom exemplo para as empresas de hoje, que massacram os seus clientes e não clientes, aproveitando as tais facilidades de comunicação, para que comprem os seus produtos, mas são incapazes de responder a um email (quando o disponibilizam) quando se pretende algo da mesma, como pedir assistência.
  3. Este é um bom exemplo para as empresas que falam, de sustentabilidade ambiental, mas que incorporam mecanismos de obsloscência programada nos seus produtos, para que avariem e os deitemos fora, com prejuízos ambientais  e financeiros para os seus clientes e engrossar os seus lucros.
  4. Este é um bom exemplo para as empresas acabarem com peças de substituição que permitiriam reparar muitos dos aparelhos que deitamos fora.
  5. Este é um bom exemplo para quem conseguir fazer pequenos trabalhos, resolver sem problema, algumas coisas em casa.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Mensagens

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  14. 2022
  15. J
  16. F
  17. M
  18. A
  19. M
  20. J
  21. J
  22. A
  23. S
  24. O
  25. N
  26. D
  27. 2021
  28. J
  29. F
  30. M
  31. A
  32. M
  33. J
  34. J
  35. A
  36. S
  37. O
  38. N
  39. D
  40. 2020
  41. J
  42. F
  43. M
  44. A
  45. M
  46. J
  47. J
  48. A
  49. S
  50. O
  51. N
  52. D
  53. 2019
  54. J
  55. F
  56. M
  57. A
  58. M
  59. J
  60. J
  61. A
  62. S
  63. O
  64. N
  65. D
  66. 2018
  67. J
  68. F
  69. M
  70. A
  71. M
  72. J
  73. J
  74. A
  75. S
  76. O
  77. N
  78. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub